EM MEMÓRIA

Entre flores e lembranças: cemitérios do Recife se organizam para o Dia de Finados

Necrópoles devem receber milhares de visitantes no próximo domingo (2)

Dia de Finados é lembrado neste domingo (2) - Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

Uma data para recordar a memória dos que se foram, repleta de orações e saudades, o Dia de Finados será lembrado neste domingo (2). Com isto, os principais cemitérios do Recife recebem milhares de visitações e já concluem os preparativos para receber o público. A expectativa para este ano é de que pelo menos 15 mil pessoas visitem as necrópoles.

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Santo Amaro
O Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas, em Santo Amaro, centro da cidade, é o maior da capital. Possui 44 quarteirões e abriga 20.520 túmulos e 9.008 ossuários.

Profissionais da Empresa de Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) atuam para cuidar da capinação e finalizar os últimos retoques como podas e pinturas.

Inaugurado em 1º de março de 1851, foi inicialmente destinado ao sepultamento de pessoas vitimadas pelo surto de febre amarela, que não podiam ser sepultadas em igrejas, como era o costume da época.

Algumas personalidades sepultadas no Cemitério de Santo Amaro

O mais visitado é o da "Menina Sem Nome". Este ano, graças às bençãos recebidas pela dona de casa Cicera da Costa, de 70 anos, o túmulo da menina recebeu pintura e placas sinalizadoras. Costa perdeu o filho, Aldenir Costa Ferreira, há 19 anos, quando ele foi morto a tiros, em Boa Viage,, Zona Sul do Recife. Naquela época, sem encontrar sentido na vida, a mãe se tornou devota da ‘"Santinha do Povo", como é conhecida a criança encontrada morta em 1970, na Praia do Pina.

Cícera diz que providenciou pintura e placas para o túmulo da "Menina Sem Nome" | Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

“Eu só deixo de cuidar daqui [do túmulo] quando partir, porque foi aqui onde eu encontrei muito conforto. Aqui era um lugar simples [diz ela, apontando para a mesa onde fica uma estátua alusiva à menina]. Quando não venho, eu sonho com ela me mandando vir para cá. Toda semana eu estou aqui. Cuido, limpo, lavo e zelo. Eu sei que ela está no céu, intercedendo por nós”, declarou.

Todos os anos o policial militar João Amaral, 61, vem ao cemitério para limpar o jazigo da Família Aretakis, que já abriga cerca de 12 parentes dele. O espaço foi construído em 1948. Amaral preferiu adiantar a visita para esta quinta (30), por conta da intensa movimentação do dia 2 de novembro.

João fez manutenção no jazigo da Família Aretakis | Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

“Aqui tem pai, sobrinha, irmã e avó. A família é nutrida de carinho, amor, afetividade e união sempre. Então, não tem porque, depois que partem para outro plano, não termos esse amor e cuidado. Vou lavar, tirar o lodo, acender uma vela, fazer oração, renovar as flores e cuidar mais do jazigo”, disse ele.

Cemitérios municipais
Segundo Luciano Nascimento, que é gerente geral de necrópoles do Recife, os cinco cemitérios municipais (Santo Amaro, Parque das Flores, Tejipió, Várzea e Casa Amarela) passam por trabalhos de manutenção o ano inteiro e os serviços são intensificados há dois meses.

O gerente geral de necrópoles do Recife, Luciano Nascimento | Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

“Em todos os cemitérios têm sido realizados serviços de poda de árvores, capinação, pinturas, entre outros. A gente já percebeu nesse último final de semana que algumas pessoas se antecipam para evitar a aglomeração do dia dois. Os nossos cemitérios estão preparados para receber os familiares que vêm aqui prestar homenagem aos entes queridos”, garantiu.

Parque das Flores
Construído em uma área de 125 mil metros quadrados, o Cemitério Parque das Flores, em Tejipió, Zona Oeste do Recife, é o segundo maior da cidade. São cerca de 17.362 túmulos e 2.236 ossuários. A movimentação nele é considerável.

Familiares também tiraram o dia para adiantar visitas a entes que partiram, a exemplo do aposentado Evangelista Paulino, de 82 anos. Ele mora em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, e veio hoje para capinar e deixar flores amarelas no jazigo da família, onde estão sepultados seis familiares.

Evangelista Paulino, de 82 anos | Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

“É um momento para expressarmos a saudade. Não tenha dúvidas. A gente não esquece desse pessoal e a qualquer hora estaremos voltando para eles. Onde quer que estejam, serão sempre lembrados. Aqui estão os pais, irmãos, tios, primos […]. No dia dois, o acesso aqui [ao cemitério] é muito difícil. Os carros não entram. É bem mais difícil”, frisou.

Funcionamento
Para o domingo, as equipes da Emlurb serão ampliadas para cuidar da limpeza dos cemitérios e arredores. Já o efetivo da Guarda Municipal também vai ser intensificado. Os trabalhadores estão à disposição da população das 6h às 22h e os cemitérios funcionam das 6h às 18h.