VIOLÊNCIA NO RIO

'O que mais me entristece é que ele morreu para defender o crime', diz mãe de morto em megaoperação

Na porta do IML, ela confessou torcer para não ter que embarcar de volta com o caixão fechado, sem poder antes ver o filho, que tinha 30 anos

Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. - Tomaz Silva/Agência Brasil

Nas primeiras horas da manhã de quinta-feira (30), Ana Claudia Almeida, 47 anos, chegou ao Rio, vindo de Belém do Pará, pela segunda vez em cinco anos, desde que seu filho havia se mudado para a cidade. Ele deixou seu estado natal em fuga do sistema penitenciário, após uma saída temporária para visitar a família, e ela, agora, veio levar o corpo de Arlan João de Almeida de volta para casa.

Em meio à aflição de ter perdido seu filho, Ana pegou dinheiro emprestado com o irmão para custear a passagem de avião, e teve que contar com a compreensão de sua supervisora, na escola pública em que trabalha como merendeira, para abonar os dias de ausência.

"Vim pedindo dinheiro emprestado, só para ver meu filho, levar ele de volta para casa. Paguei uns R$ 3.500 de passagem. Deixei meu trabalho, a sorte é que tenho uma chefe que entende a minha dor", contou ela.

Na porta do IML, ela confessou torcer para não ter que embarcar de volta com o caixão fechado, sem poder antes ver o filho, que tinha 30 anos — e faria 31 na próxima segunda-feira.

"Parece que vão me entregar uma encomenda. Estou vivendo uma segunda perda. E, olha, não passo a mão na cabeça dele, nunca passei. Ele é errado, estava fazendo coisa errada. Sou trabalhadora, nunca peguei as coisas de ninguém. Não queria essa vida para ele. É muito triste".

Dois filhos mortos
Ana Claudia teve quatro filhos, duas meninas e dois meninos. O mais velho e o mais novo morreram após envolvimento com o crime.

"Quando descobri (o envolvimento deles) foi uma tristeza. Conversava muito com eles, dizia que a gente não precisa disso pra sobreviver. Mas a mãe é sempre a última a saber. O que mais me entristece é que ele morreu para defender o crime, não foi pela mãe, por um irmão ou pelos filhos. Ele estava aqui foragido, e se manteve lá (no Complexo da Penha) para não ser preso".