Carta de Natal à Humanidade
Estamos novamente diante de mais um Natal.
E com ele chega o instante simbólico em que somos convidados a pausar, a olhar para dentro e para fora, a repensar o que estamos fazendo com o mundo e com nós mesmos.
As luzes e canções que tomam as ruas deveriam nos lembrar do essencial: o amor, a compaixão e o sentido da vida compartilhada. Mas vivemos tempos difíceis — tempos em que o brilho externo parece maior que o interno, e a pressa da vida moderna tem sufocado o silêncio da alma.
As pessoas caminham lado a lado, mas já não se cumprimentam.
Os olhares se desviam. Os sorrisos se apagam.
A política, que deveria servir à união, tornou-se um campo de batalha onde irmãos se ofendem e se afastam.
A desinformação e a intolerância substituíram o diálogo e a empatia.
E governos que deveriam ser exemplo se tornam palco de corrupção, engano e promessas vazias, alimentando a descrença do povo e a sensação de abandono.
Enquanto isso, pelo mundo, as guerras continuam.
Guerras de poder, de religião, de território.
Homens e mulheres que matam e morrem por ordens de líderes que nunca sentirão o peso do sangue que escorre.
Em muitos lugares, crianças crescem sem conhecer o que é viver em paz, e famílias são destruídas em nome de causas que perderam todo sentido humano.
Mas também há guerras silenciosas: o terrorismo moral, a manipulação das consciências, a indiferença diante da dor alheia.
Essas, talvez, sejam as batalhas mais difíceis — porque acontecem dentro das almas.
Ainda assim, há esperança.
Ela sobrevive nas pequenas atitudes, nos gestos simples, no perdão silencioso, na mão estendida sem câmeras nem aplausos.
O Natal é a lembrança de que o amor não morre — apenas adormece, à espera de ser despertado em cada coração disposto a recomeçar.
Precisamos religar o que o egoísmo desligou: o homem com o homem, o homem com Deus, o homem com a natureza.
Precisamos reaprender a ouvir, a acolher, a perdoar e a crer.
Eu, como tantos outros, carrego a preocupação e o dever de deixar um mundo melhor para os que virão.
Não falo apenas de progresso material, mas de um mundo moralmente mais saudável, espiritualmente mais lúcido e socialmente mais justo.
Penso especialmente nos meus netos — já são oito — que representam para mim não apenas a continuidade da família, mas a razão maior da esperança.
Eles merecem herdar um país digno, onde a honestidade valha mais do que o poder, onde a bondade não seja vista como fraqueza e onde as pessoas possam viver com dignidade, respeito e paz.
Cada geração tem a missão de preparar o terreno para a próxima.
E se falharmos nisso, estaremos negando o futuro aos que mais amamos.
Que este Natal seja, portanto, mais do que uma data no calendário.
Que seja o marco de um novo despertar coletivo.
Um chamado à consciência e à fé.
Que 2026 nos encontre mais humanos, mais solidários e mais atentos à vida.
Que deixemos de lado o ódio, o preconceito e a arrogância, e voltemos a acreditar no poder transformador da ternura e da verdade.
E que, acima das fronteiras, das ideologias e das religiões, a paz seja o idioma comum entre todos os povos.
Porque a fé, quando verdadeira, não separa — ela une.
Por isso, unimos nesta carta as vozes do mundo inteiro, em respeito às muitas formas de buscar Deus:
• Aos cristãos: Feliz Natal! Que o nascimento de Cristo renasça em cada coração.
• Aos irmãos judeus: Shalom! Que a luz de Hanukkah ilumine lares e caminhos.
• Aos muçulmanos: As-salamu Alaikum! Que a paz e a misericórdia de Allah estejam com todos.
• Aos budistas: Que a compaixão e a mente desperta de Buda inspirem serenidade e harmonia.
• Aos hindus: Namastê! Que a luz interior de cada ser continue vencendo as trevas.
• Aos que não professam fé religiosa: Que a humanidade seja sua religião, e o amor, seu templo.
Porque, no fim de tudo, somos todos filhos da mesma esperança.
E se há algo que o Natal nos ensina, é que a luz sempre vence a escuridão — mesmo quando parece distante.
Feliz Natal. Feliz novo tempo. Feliz nova humanidade.
Guilherme
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