Orgazinação financeira

Como dar conta dos custos das festas de fim de ano sem estourar o orçamento

Planejar os gastos com, por exemplo, presentes e festas ajuda a começar 2026 com as contas em dia. Período coincide com o recebimento do 13º salário. Saiba como usá-lo com critério

Como dar conta dos custos das festas de fim de ano sem estourar o orçamento - Freepik

Com a chegada de novembro, começa a corrida para organizar as finanças diante das despesas típicas de fim de ano, como ceia, presentes e as confraternizações. E não é porque é época de festividades que os custos comuns de todo mês desaparecem, por isso, é essencial que esses gastos sejam pensados, organizados e tenham as saídas previstas. 

Com o percentual das dívidas das famílias em 79,2%, segundo a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), planejar as despesas do fim do ano com mais cuidado se torna ainda mais urgente. Os dados mostram que, independentemente da faixa de renda, mais da metade do salário dos brasileiros já está comprometida, com um percentual baixo disponível para contas que não as mensais.

A falta desse preparo, segundo o educador financeiro Thiago Senna, costuma levar ao uso excessivo do crédito e, consequentemente, à perda de controle do orçamento. E é justamente o cartão de crédito que se torna o principal vilão dessa época do ano.

Armadilha
“O cartão é uma ferramenta útil quando há disciplina, mas pode virar armadilha se for usado para despesas sazonais sem garantia de pagamento”, alerta. Parcelar a ceia de Natal ou presentes com base em receitas futuras incertas, como um 13º salário já comprometido, é um risco enorme, segundo ele. “A regra é simples: só use o crédito se puder quitar a fatura integralmente”, explicou.

Outro desafio são as confraternizações, que se multiplicam entre novembro e dezembro. Para o especialista, o equilíbrio passa por tempo e dinheiro. Thiago pontua que no caso do orçamento apertado e muitos convites para confraternizar, nem todos precisam ser aceitos se não for possível arcar com os custos (presentes, transporte até o local, roupas etc.).

A vendedora Janaína Cristina da Silva é uma das que, em dezembro, precisa equilibrar os gastos típicos do fim de ano com as despesas essenciais. Conta que o que mais pesa no bolso é a ceia de Natal, da qual não abre mão. “Geralmente,   passo o Ano Novo na casa de amigos ou de algum familiar, mas no Natal eu faço questão de fazer na minha casa. Só que aí vêm os gastos: comida, bebida, decoração…” 

Prioridade
Como a prioridade de Janaína é a ceia em família, ela procura selecionar as confraternizações das quais vai participar. A do trabalho é prioridade, mas antes de confirmar presença em outras, como a da academia ou do cursinho que faz, analisa cuidadosamente o orçamento do mês. “A gente sempre acha que o 13º vai dar uma aliviada no bolso, mas todos os anos ele já está comprometido. Então, não dá para contar com esse dinheiro pra cobrir os gastos extras de dezembro”, lembrou.

A vendedora Janaína Cristina da Silva  | Foto: Julia Rocha/Folha de Pernambuco

No ano passado, Janaína passou por um aperto financeiro que quase comprometeu os primeiros meses de 2025 por causa do acúmulo de dívidas no cartão de crédito. Para evitar repetir a situação, neste ano ela reservou parte do salário de novembro para somar ao de dezembro e tentar não usar o cartão, evitando uma fatura pesada em janeiro de 2026. “Estou num momento de zerar todas as minhas dívidas e me organizar financeiramente. O ano passado foi bem difícil, e agora estou focada em quitar o que devo e não arrumar mais dívidas”, revelou.

Para o economista e educador financeiro Rhaldney Piauilino, a maior armadilha deste período é viver dezembro como se janeiro não existisse. “Quando a empolgação das festas fala mais alto, a gente acaba comprometendo o início do ano com parcelas e dívidas que poderiam ser evitadas com planejamento.”

O ideal é começar listando quantos presentes comprar, viagens que gostaria de fazer e as festas das quais quer participar. “Depois, estime o valor médio de cada despesa e veja se o total cabe no orçamento ou se a primeira parcela do 13º salário comporta tudo o que  deseja fazer”, orientou. Segundo ele, a prioridade deve ser sempre pagar à vista, quando possível, para não começar o ano com parcelas acumuladas. “Se for preciso parcelar alguma compra, o ideal é analisar os próximos três meses e verificar se a parcela realmente cabe no seu bolso”, recomendou.

Em janeiro de 2024, a proporção de famílias endividadas atingiu 78,8%, o maior nível desde novembro de 2022. Já em janeiro deste ano, embora o percentual de famílias endividadas tenha apresentado uma leve queda em comparação com o mesmo mês do ano anterior, ainda se manteve em um patamar elevado (76,1%).

13° salário
Outra armadilha na hora de contar com os valores disponíveis para custos das festas é o 13º  salário, que  deve ser tratado como uma renda extraordinária, e não como uma extensão do salário mensal, alerta Thiago Senna. “A divisão ideal é:  uma parte para quitar dívidas, outra para fortalecer reservas financeiras e uma terceira para o lazer. Usar 100% da gratificação para consumo imediato é um erro clássico e compromete o início do ano seguinte.”

Já Rhaldney Piauilino reforça que o 13º salário deve ser tratado como uma ferramenta estratégica para organizar as finanças. O ideal é, segundo ele, dividir o valor em três partes, adaptando as proporções conforme a realidade de cada pessoa.

“A recomendação geral é destinar 40% para quitar dívidas ou cobrir as contas de janeiro; 30% para formar ou reforçar a reserva financeira; 30% para lazer e celebrações”, aconselhou. “O foco é não deixar o dinheiro escorrer em festas e presentes, mas usar o 13º como uma oportunidade de reorganização financeira.”

Economista Rhaldney Piauilino | Foto: Divulgação

Rhaldney também alerta para os erros mais comuns cometidos nessa época do ano, como confundir emoção com poder de compra, usar o cartão de crédito como extensão da renda, ignorar os gastos de janeiro, comprar para agradar e não por necessidade, e não acompanhar o quanto já foi gasto. “Para evitar esses deslizes, o caminho é ter um orçamento definido, pagar à vista sempre que possível e impor limites. Saber dizer ‘não’ é uma forma de amor-próprio financeiro”, reforçou o educador financeiro.

Black Friday
Antes das festas chegarem, também há a Black Friday, data comercial de promoções que ocorre tradicionalmente na última sexta-feira de novembro. Senna acredita que a Black Friday pode ser uma oportunidade, desde que o consumidor aja com estratégia.

“Liste previamente o que precisa comprar e acompanhe os preços antes da data. Cuidado com a ‘black fraude’, aquelas promoções pela metade do dobro do preço. A armadilha está em comprar por impulso, guiado por falsas sensações de urgência ou escassez.”

Já Rhaldney, defende a elaboração de listas de prioridades para não se perder nas promoções e comprar apenas o necessário. “Se você não compraria fora da promoção, o desconto não é economia, é gasto disfarçado”, afirmou.