Saiba quem são os 'kids pretos', que terão integrantes julgados pelo STF
Militares compõem um grupo restrito, com treinamento rígido e especialização em ações de infiltração, operações camufladas e contraterrorismo
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal ( STF) começou a julgar nesta terça-feira os dez integrantes do chamado “núcleo três” da trama golpista, formado por integrantes das forças de segurança: nove militares e um policial federal. Dos nove militares, seis são integrantes das Forças Especiais do Exército, grupo conhecido como "kids pretos".
A participação, segundo a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), seria estratégica: eles compõem um grupo restrito, com treinamento rígido e especialização em ações de infiltração, operações camufladas e contraterrorismo.
Oficiais das “FE”, como também são conhecidos, estiveram em reuniões que tinham o intuito de delinear estratégias para a ofensiva golpista, segundo a PF.
Por que 'kids pretos'?
O apelido, segundo o Exército, é um nome informal atribuído aos militares de operações especiais, por usarem um gorro preto. Nos livros de história militar, o termo faz referência ao codinome utilizado para definir o comandante da unidade que combateu guerrilheiros do Araguaia.
Para integrar as forças especiais, o interessado precisa ser sargento ou oficial e fazer cursos de paraquedista, por seis semanas, e de “ações de comandos”, que dura quatro meses e é a etapa mais dura. Um exercício comum é ficar em ambientes fechados com gás lacrimogêneo sem máscara. Restrições de sono e de alimentação também integram a rotina, além de testes físicos.
Há ainda uma terceira fase com foco estratégico. Um exemplo de ação desta etapa, que leva cinco meses, é a infiltração em outro estado por meio de salto de paraquedas para, em simulações, cumprir determinada missão, como o resgate de um refém.
— Fazemos adaptação em todos os ambientes. É uma tropa altamente preparada — afirma o coronel da reserva Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais.
Segundo ele, um membro deste grupo consegue capacitar uma tropa convencional para tarefas de alto grau de complexidade. A investigação da PF apreendeu uma mensagem dizendo que integrantes das forças especiais têm “capacidade de organizar, desenvolver, instruir, equipar e operar 1.500 homens”.
Os “kids pretos” também já atuaram em operações de grande porte, como a missão no Haiti, e eventos como a Copa do Mundo — neste último caso, dedicados a evitar ataques terroristas. O efetivo é reduzido: a maioria fica no 1º Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia. O Exército não informa a quantidade exata, mas estimativas apontam para 400 militares. Há, ainda, a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, com cerca de 150 integrantes.
— O treinamento é voltado para agir em situações em que se está relativamente desplugado da cadeia de comando. Isso é feito para ações camufladas, sigilosas, e que exigem, por exemplo, um alto grau de infiltração, com técnicas de inteligência militar e operações psicológicas — diz o professor da UFSCar Piero Leirner.
Em relatório, a PF afirmou que houve um “planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para a consumação do golpe de Estado”.
“Houve por parte do grupo criminoso organização de encontro específico na tentativa de arregimentar militares com curso de Forças Especiais, que, segundo a Polícia Federal, coadunados com os intentos golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação contra Bolsonaro e aliados.
Raio-X
Quem são os "kids pretos"?
Integrantes das Forças Especiais do Exército, os "kids pretos” compõem um grupo restrito do Exército, com treinamento rígido que prevê técnicas de infiltração, operações camufladas e formação para contraterrorismo e contraguerrilha.
Onde ficam os "kids pretos"?
A maior parte fica no 1º Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia e são subordinados ao Comando Militar do Planalto. Há ainda a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus.
Efetivo
O Exército não informa a quantidade exata, mas estimativas extraoficiais apontam para cerca de 550 “kids pretos” no país.
Formação e treinamento
Precisa ser sargento ou oficial e fazer cursos de paraquedista, por seis semanas, e de “ações de comandos”, que dura quatro meses e é a etapa mais exigente. Os militares passam por restrição de sono e de alimento, enquanto são submetidos a fortes treinamentos físicos. Há ainda uma terceira fase, com foco estratégico, que leva cinco meses.