Banco Central considera impacto preliminar de isenção de IR até R$ 5 mil em projeções de inflação
Alguns economistas apontam que a informação pode ser um sinal de maior propensão do BC ao início do ciclo de corte da Selic em um futuro próximo
O Banco Central destacou na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que já considera uma estimativa preliminar do impacto da ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil nas suas projeções de inflação. O projeto foi aprovado pelo Congresso na semana passada e cumpre uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse esclarecimento sobre a incorporação do impacto da ampliação da isenção do IR nas projeções de inflação era uma informação que o mercado ansiava e pode significar um sinal mais favorável para o início da queda dos juros, hoje esperada para o primeiro trimestre de 2026, na reunião de janeiro ou de março.
Na semana passada, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva. Na ata, o BC disse que "dá prosseguimento ao estágio em que opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".
A projeção oficial do BC para a inflação no segundo trimestre de 2027, prazo com o qual trabalha atualmente para colocar a inflação na meta (horizonte relevante), caiu de 3,4% para 3,3% entre setembro e novembro, ainda acima do objetivo de 3,0%.
Em tese, a isenção maior tende a injetar mais dinheiro para consumo na economia, o que tem efeito inflacionário, mas, como o BC já incorporou esse impacto, a redução da projeção de inflação traz um sinal mais favorável para uma queda de juros no futuro próximo.
"O Comitê considera que tal estimativa é bastante incerta e acompanhará os dados para calibrar seus impactos", ponderou o Copom, na ata divulgada nesta terça-feira.
Segundo o BC, esta opção por uma postura conservadora e dependente de dados é reforçada por exemplos recentes de medidas, fiscais e creditícias, que se conjecturava que poderiam levar a uma discrepância em relação ao cenário delineado, mas não provocaram divergências relevantes em relação ao que se esperava. O BC não citou na ata, mas um exemplo recente foi a mudança no crédito consignado privado.
— A principal informação (da ata) é que o BC quis mostrar a projeção de inflação caindo mesmo colocando o IR — disse Marco Caruso, chefe de política monetária e mercados do Santander Brasil.
Segundo Caruso, o Copom não dá indicações explícitas na ata de quando pretende começar a cortar juros, mas a aposta em janeiro, cenário do banco, deveria ganhar probabilidade no mercado.