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EUA dão um "jeitinho" de US$ 870 milhões para ajudar Argentina a quitar parcela com o FMI

Ativos de ambos os países no próprio Fundo têm variação idêntica em outubro, em sinal de que governo americano usou instrumento criativo para evitar que argentinos ficassem em apuros

O presidente argentino, Javier Milei, e o presidente estadunidense, Donald Trump - Embaixada dos EUA na Argentina

No dia 1º de novembro, a Argentina tinha um pagamento crucial a fazer para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Precisava quitar uma parcela de US$ 840 milhões do socorro recorde que o Fundo fez ao país.

E, então, surpreendentemente, às vésperas desta data crítica, a conta da Argentina no FMI — os ativos conhecidos no jargão dos organismos multilaterais como "direitos especiais de saque", ou SDR na sigla em inglês — aumentaram em US$ 870 milhões, tornando possível o pagamento.

Mais inesperado ainda foi que, na mesma data, ou seja, no fim de outubro, os ativos dos EUA em SDRs diminuíram em exatos US$ 870 milhões em comparação com o mês anterior.

Para analistas, coincidência de números indica que o presidente americano Donald Trump encontrou uma nova forma, criativa, de dar uma nova ajuda financeira ao governo argentino de Javier Milei.

O FMI não confirmou se a Argentina fez o pagamento devido em 1º de novembro. O Departamento do Tesouro dos EUA se recusou a comentar as transações envolvendo DES. O Ministério da Economia da Argentina não respondeu a pedidos de comentário, e o banco central argentino também se recusou a dar informações.

 

— Ou é uma coincidência incrível ou significa que os Estados Unidos estão financiando a Argentina via DES, provavelmente para que ela conseguisse honrar seus compromissos com o FMI — avalia Stephen Paduano, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Oxford e ex-assessor do Tesouro dos EUA.

Os DES são ativos criados pelo FMI e distribuídos aos países de acordo com suas cotas no Fundo. Os países-membros podem canalizar suas participações em DES para outros países, caso sejam solicitadas.

Em 20 de outubro, pouco antes de eleições parlamentares importantes para Milei e em meio a uma corrida por compra de dólares no país, o Tesouro americano socorreu a Argentina com uma linha de swap cambial (troca de moedas) de US$ 20 bilhões. Na ocasião, os governos não detalharam como seria feita essa operação. Segundo analistas, é possível que Washington tenha transferido os DES para a Argentina como parte desse arranjo.

O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, declarou na terça-feira, em entrevista à MSNBC, que “abrimos uma linha de crédito, uma pequena parte dela foi utilizada, e tivemos lucro com isso”.

O Tesouro americano pode converter DES em dólares por meio de uma troca com o Federal Reserve, o banco central americano. Essa facilidade, no entanto, não foi usada em outubro, conforme dados do Fed, o que indica que os DES não foram convertidos em dólares.