Final de ano

O que fazer com o 13º salário para começar o ano tranquilo

Se souber administrar a gratificação, o trabalhador pode, por exemplo, reduzir o impacto das dívidas e aliviar o orçamento, evitando novos endividamentos em janeiro

13º salário é direito dos trabalhadores CLT - José Cruz/Agência Brasil

O 13º salário é um recurso muito aguardado e, se utilizado com sabedoria, pode ser a reviravolta para a saúde financeira de quem o recebe. Por lei, a primeira parcela do 13º deve ser paga até 30 de novembro. Já segunda precisa ser quitada até 20 de dezembro, para trabalhadores com carteira assinada (regime CLT), aposentados e pensionistas do INSS, beneficiários de auxílios temporários do INSS e servidores públicos. A maneira como esse dinheiro é usado pode definir se ele será um aliado da saúde financeira ou o primeiro passo para o endividamento. 

Não se questiona que o 13º salário é, em resumo, um pilar econômico e social que oferece ao trabalhador a oportunidade de reorganizar suas finanças, aumentar seu poder de compra e arcar com despesas anuais concentradas, melhorando assim a qualidade de vida e a saúde financeira da família. Os especialistas, no entanto, alertam que um dos erros básicos é acreditar que o 13º salário, direito garantido aos trabalhadores brasileiros desde 1962, é uma quantia extra e, por isso, pode estourá-lo com festas de final de ano, presentes, viagens, negligenciando, por exemplo, as contas que virão no início do ano seguinte. 

De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 30,5% das famílias brasileiras estavam com contas em atraso em setembro deste ano, o maior índice desde 2010. Quase 13% das famílias ouvidas pela pesquisa afirmaram não ter condições de pagar o que devem. Em casos como esse, o 13º salário pode surgir como uma luz no fim do túnel. A pesquisa da CNC também mostra que 79,2% das famílias brasileiras têm algum tipo de dívida, e quase 20% destinam boa parte da renda mensal para pagá-las. 

Administração 
Se souber como administrar corretamente o 13º salário, o trabalhador que se beneficia desse direito pode, por exemplo, conseguir reduzir o impacto das dívidas e aliviar o orçamento, evitar novos endividamentos em janeiro, fortalecer a reserva de emergência e impulsionar investimentos e metas. Isso porque o 13º pode ser uma oportunidade de investir e fortalecer uma reserva financeira, algo positivo para o trabalhador, mas também pode se transformar em um risco se for usado de forma impulsiva. 

Ao dar entrada em um bem que exige parcelas longas e pesadas, por exemplo, o benefício pode acabar gerando novas dívidas e comprometer o orçamento do ano seguinte. A maneira correta de utilizar a gratificação natalina, como também é chamado, vai depender diretamente da situação financeira de quem o recebe, se tem dívidas ou se está com as contas em dia e pronto para investir.

À medida que as festas se aproximam, esse reforço no orçamento pode, ou não, significar o início de uma vida financeira mais equilibrada. Na missão de decidir o melhor a se fazer com o valor de acordo com o cenário financeiro de cada um, o educador financeiro Thiago Senna lembra que o primeiro passo para quem está endividado é encarar a situação. “É preciso saber exatamente quanto se deve, para quem e com quais taxas de juros. Essa clareza é essencial”, explicou. 

Senna: “Quando você separa o dinheiro por meta, evita o risco de gastar por impulso”. Foto: Divulgação.

Juros
Ele orienta também que o décimo terceiro seja direcionado, prioritariamente, para quitar dívidas com juros mais altos, como cartão de crédito e cheque especial, que figuram entre as principais causas de endividamento no país. A recomendação de Senna é que o trabalhador busque negociar diretamente com os bancos, aproveitando feirões de renegociação que costumam ocorrer nesta época do ano.

“Se for possível quitar uma dívida à vista com desconto, priorize isso. Mesmo que o valor do 13º não cubra tudo, pode aliviar o peso das parcelas futuras e abrir espaço no orçamento mensal”, reforçou.

Algumas pessoas, no entanto, já passaram por essa situação e agora, já organizadas, conseguem direcionar o dinheiro para algum tipo de investimento. Para esses, o 13º  pode se transformar em um aliado na construção de reservas e na realização de planos. “O mais importante é dar um destino claro ao dinheiro”, aconselhou o educador. 

Senna indica o uso das chamadas “caixinhas”, subcontas virtuais que permitem separar o dinheiro da conta principal, oferecido por muitos bancos. “Quando você separa o dinheiro por meta, evita o risco de gastar por impulso”. 

Já para objetivos de curto prazo ou reserva de emergência, recomenda-se opções com liquidez diária, como CDBs com rendimento de 100% do CDI ou caixinhas atreladas a esse tipo de investimento. Para  quem um objetivo com prazo definido, como uma viagem em seis meses ou matrícula escolar em três meses, Senna explica que o ideal são as caixinhas com vencimento programado, o que evita resgates por impulso e ainda oferece rentabilidade melhor que a poupança.

Destino 
Há dois anos, o gerente administrativo Raphael Miranda decidiu mudar a relação com o 13º e, desde então, utiliza o valor de forma estratégica. “Por muitos anos eu tive o mal costume de enxergar o 13° como parte da minha receita mensal, quando na verdade  é, ao meu ver, uma bonificação”, afirmou. 

Depois de procurar ajuda profissional para direcionar melhor o dinheiro da gratificação, Raphel passou a adotar uma rotina financeira mais estruturada. “Fiz um investimento em um educador financeiro. A partir dessas orientações, comecei a ver meu dinheiro ser aplicado de forma correta. O décimo terceiro deixou de ser um dinheiro ‘sem fim programado’ e passou a ter destino certo”, contou.

Hoje, o 13º  é direcionado principalmente a investimentos, viagens ou oportunidades pontuais, como a compra de um bem. Este ano, o gerente decidiu dividir o valor, uma parte vai para a poupança e a outra para uma viagem de férias. “Costumo não atrelar esse valor a despesas fixas. Já tenho uma reserva para IPVA, IPTU e emergências dentro do meu orçamento mensal. O 13º é o plus, a chance de realizar algo maior”, disse.

Para o gerente, o segredo está em ajustar o padrão de vida ao salário mensal, sem contar com o décimo como parte da renda. O recado que ele deixa para quem ainda não consegue organizar o décimo é “Busque adaptar sua vida ao que você realmente ganha e veja o décimo como uma oportunidade de conquista, investir ou realizar um sonho, sem precisar se endividar”.

Armadilha
Outra armadilha comum nessa época é o uso do cartão de crédito de forma descontrolada. Para o especialista, a melhor estratégia é simples: só gaste o que já está reservado no orçamento.  “Se você não tem dinheiro hoje, também não deveria gastar com cartão agora. O 13º pode ser usado para quitar ou antecipar faturas, eliminando parcelas pendentes e reduzindo o risco de juros. Configure um limite abaixo da sua renda e use alertas no celular para acompanhar os gastos. Isso evita surpresas desagradáveis”, alertou Thiago Senna.

Planejamento também é a palavra-chave para enfrentar o início do ano, período que concentra despesas como IPTU, IPVA e material escolar. Por vezes, o valor também pode ser usado para mais de um objetivo, como foi o caso de Raphael. Para quem busca equilíbrio entre quitar dívidas, investir e aproveitar o fim de ano, Senna sugere uma divisão prática do décimo terceiro: 50% para quitar dívidas, 30% para investir e 20% para lazer e consumo consciente.