Mauro Vieira diz que EUA devem responder proposta do Brasil sobre tarifaço até semana que vem
Chanceler brasileiro diz que Trump está disposto a "virar a página" e melhorar relações com o Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou na noite desta quinta-feira que o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, sinalizou que o governo americano deve responder a uma proposta do Brasil sobre o tarifaço imposto às exportações brasileiras "amanhã ou na próxima semana".
O chanceler se reuniu com Rubio no Canadá e em Washington nos últimos dois dias.
Segundo Vieira, a proposta brasileira foi apresentada em uma reunião técnica de alto nível com o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, no início do mês.
A proposta solicita o que o Itamaraty chama de acordo temporário, em que haja a suspensão do tarifaço temporariamente, por até três meses, enquanto as negociações de um acordo comercial entre as partes são concluídas.
— Houve uma reunião por videoconferência de alto nível técnico em que representantes do Ministério de Relações Exteriores, do Ministério da Fazenda e o Ministério da Indústria e Comércio (conversaram) com a contraparte americana, o representante comercial da Casa Branca. Na ocasião apresentamos propostas para a solução da questão. É uma resposta à primeira lista de temas que nos apresentaram quando estive aqui em 16 de outubro. Estamos esperando que eles nos respondam. O secretário de Estado (Marco Rubio) disse que estão examinando com toda a atenção e todo o tempo, que querem resolver rapidamente as questões bilaterais com o Brasil e que a resposta virá muito rapidamente, amanhã ou na próxima semana — disse Vieira a jornalistas em Washington.
Rubio relatou ainda, segundo Vieira, que o presidente Donald Trump teria interesse em "virar a página" do tarifaço e melhorar a relação com o Brasil.
— Ele (Rubio) disse, inclusive, que comentou com o presidente Trump que iria se reunir comigo, e que o presidente manifestou a intenção de resolver rapidamente e de manter uma boa relação com o Brasil. (Trump) disse que gostou muito da reunião que teve com o presidente Lula na Malásia e reafirmou o que tinha sido proposto já nas reuniões técnicas que é se chegar a um acordo provisório até o final deste mês ou o princípio do mês que vem, que estabelecesse o mapa do caminho para uma negociação que poderia durar dois ou três meses para concluir todas as questões — afirmou Vieira.
Para o chanceler brasileiro, a reunião "é uma demonstração do interesse do governo americano e do Secretário de Estado de solucionar todas as questões ainda pendentes na relação com o Brasil e um sinal de dar a volta nessa página e se aproximar" do país.
Apesar da declaração, o ministro afirmou que a conversa se deu em termos gerais e que não teria entrado nas especificidades dos setores afetados pelo tarifaço.
O encontro deu sequência ao breve diálogo de cerca de cinco minutos mantido entre os dois ministros na véspera, centrado principalmente nas negociações sobre as tarifas americanas impostas a produtos brasileiros. Integrantes do governo afirmaram que a conversa anterior — realizada à margem de uma reunião de ministros do G7, no Canadá — teve caráter simbólico: serviu para preservar o canal político entre Brasília e Washington e sinalizar a disposição de ambos os lados em buscar uma saída negociada.
O Brasil tem insistido na suspensão temporária do tarifaço e das sanções aplicadas a autoridades brasileiras e seus familiares. Essa posição já havia sido transmitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no telefonema e, depois, no encontro que teve com Donald Trump na Malásia, no mês passado.
As medidas adotadas pelos Estados Unidos, anunciadas em julho e vigentes desde agosto, incluíram uma sobretaxa de 50% sobre produtos como café, carne, frutas, pescados, suco de laranja e máquinas industriais.
Washington justificou a decisão como resposta à suposta “perseguição judicial” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes como principal alvo.
Para a balança comercial brasileira, o impacto foi imediato. Enquanto ao longo de 2024 o Brasil registrou um déficit de US$ 234 milhões com os EUA, apenas em outubro deste ano — terceiro mês da sobretaxa — o saldo negativo chegou a US$ 1,7 bilhão. Nos dez primeiros meses de 2025, o déficit acumulado alcançou US$ 6,8 bilhões.
Do lado brasileiro, a avaliação é que as sanções carecem de fundamento econômico, já que os EUA mantêm superávit no comércio bilateral mesmo após o tarifaço.
Além disso, o país tenta afastar a possibilidade de novas punições decorrentes da investigação aberta com base na Seção 301 da Lei de Comércio americana, que autoriza sanções unilaterais contra práticas consideradas desleais.
No caso do Brasil, a apuração envolve temas como comércio digital, propriedade intelectual, serviços financeiros e o uso do Pix como meio de pagamento instantâneo.
Apesar da ausência de avanços concretos, diplomatas brasileiros veem o encontro como um gesto relevante para arrefecer a tensão acumulada nos últimos meses. O diálogo simboliza, segundo interlocutores, um “recomeço cauteloso” nas relações com Washington, pouco depois da reunião entre Lula e Trump.