Por que você não deve fechar o nariz com a mão quando espirra?
O mecanismo de expelir substâncias estranhas das vias aéreas pode, ocasionalmente, dar um pouco errado e levar a pessoa ao hospital
Espirrar não parece ser letal ou algo com que as pessoas precisem se preocupar, certo? Errado. O mecanismo de expelir substâncias estranhas das vias aéreas, como poeira, pólen ou vírus, por meio de uma expulsão explosiva de ar, pode, ocasionalmente, dar um pouco errado e levar a pessoa que espirra ao hospital.
Uma revisão, que analisou relatos de casos na literatura médica de 1945 a 2018, encontrou 52 casos de lesões relacionadas a espirros, principalmente em pacientes do sexo masculino, e a maioria ocorrendo em pacientes sem outras condições agravantes.
Os problemas tendem a surgir quando os espirros são suprimidos fechando a boca e o nariz com as mãos, resultando em uma pressão nas vias aéreas até 24 vezes maior do que um espirro sem supressão.
"Durante um espirro, o alto volume nos pulmões contra uma glote fechada se traduz em alta pressão quando a glote se abre. No entanto, muitas pessoas não gostam de espirrar em público, seja pelo barulho incômodo, pela percepção de estarem doentes ou simplesmente por hábito. Ao tentar conter um espirro, o gradiente de pressão intratorácica não desaparece simplesmente. A pressão é redirecionada ou transmitida aos tecidos moles, resultando em uma manobra de Valsalva com potencial para muitas das lesões e complicações”, explica a equipe.
Em um dos casos, publicado no BMJ Case Reports, um homem de 34 anos foi parar no hospital após cobrir a boca e o nariz com a mão ao mesmo tempo durante um espirro, por razões não divulgadas. Ao espirrar, o primeiro sinal de que algo estava errado foi uma sensação de estalo no pescoço.
A situação piorou quando ele começou a sentir dor de garganta, dificuldade ao engolir e uma "mudança na voz". Ao examiná-lo, a equipe médica descobriu que seu pescoço, até a caixa torácica, emitia estalos e crepitações, um sinal de que ele tinha bolhas de ar dentro dos tecidos e músculos profundos.
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Desconfiados de um possível "sinal de Hamman" ou " crepitação de Hamman", que ocorre quando o coração bate contra um tecido cheio de ar, os médicos solicitaram uma tomografia computadorizada do tecido mole do pescoço e do tórax.
O exame logo revelou o problema: ao tentar conter um espirro, ele havia rompido a parte posterior da garganta. A ruptura – que geralmente é causada por trauma contuso no pescoço, vômitos profusos e tosse intensa – provocou vazamento de ar para a região retrofaríngea, causando dor e perda da voz.
Felizmente, o homem se recuperou do espirro no hospital — como tratamento, ele recebeu uma sonda de alimentação e antibióticos intravenosos como medida de precaução — e recebeu alta. Os médicos lhe avisaram para nunca mais tentar obstruir as duas narinas com a mão ao espirrar.
"Conter um espirro bloqueando as narinas e a boca com as mãos é uma manobra perigosa e deve ser evitada. Pode levar a inúmeras complicações, como pneumomediastino, perfuração da membrana timpânica e até mesmo ruptura de aneurisma cerebral", concluiu a equipe em seu relatório.