"A música é meu bálsamo, minha fonte de juventude", disse Jards Macalé em última entrevista ao Globo
Ícone da contracultura, músico carioca morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos
Ícone da contracultura, o carioca Jards Macalé morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos. O músico estava internado em hospital na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro, tratando uma broncopneumonia, e sofreu uma parada cardíaca.
Em junho deste ano, em razão da sua participação no Mimo Festival, no Rio de Janeiro, ele falou ao Globo sobre a vida e os planos para o futuro:
— Através das minhas músicas, eu digo o que eu penso da vida e do mundo. Se as pessoas quiserem captar, que bom. Também aprendo muito com os jovens sobre o comportamento de agora. Com a minha idade, meu plano para o futuro é cada dia ser um dia. Tudo tem que ser muito bem vivido e aproveitado. A música é o meu bálsamo, a minha fonte de juventude.
Essa foi a última entrevista de Macalé ao Globo.
Conhecido como "anjo torto" da MPB, o músico vinha celebrando o icônico disco homônimo de 1972 — aquele com “Mal secreto”, “Movimento dos barcos” e mais músicas que enfrentaram a ditadura militar e atravessaram gerações.
Em 2023, quando lançou o último disco de inéditas, "Coração bifurcado", ele fez um show no Circo Voador (casa histórica no Rio por onde ainda passaria no próximo dia 4 de dezembro), e também falou ao Globo:
— Minha geração toda continua produzindo. Nós traduzimos em canções as nossas vivências, então, enquanto há vida, há vida. Eu sigo atento ao que está acontecendo. Vou seguir sempre vivendo e fazendo. Não tenho outra opção.
No quesito amizades e parcerias musicais, Macalé era mestre. Além de Maria Bethânia, presente na canção “Mistérios do nosso amor”, Gal Costa também estaria em “Coração bifurcado”, não fosse a sua morte em novembro de 2022.
— Estávamos nos falando e combinando tudo, mas infelizmente não deu — comentou na ocasião, com pesar, sempre se referindo à cantora como sua amiga.
A faixa que teria a sua participação, “Simples assim”, ganhou a voz de Ná Ozzetti — que, segundo Macalé, “cantou lindamente”. Macalé também comentou sobre a parceria musical com João Donato, morto em julho daquele ano.
— O Donato, com 88 anos, tem uma atualidade fantástica na música dele — diz, usando o verbo “ter” no presente. — João é João. Acho que tenho isso também. Jards é Jards.