Tédio: o inimigo silencioso das marcas
Enquanto o mundo lá fora pulula de novidades, deixando muita gente angustiada por não acompanhar tudo o que está acontecendo, outros sofrem exatamente pelo oposto. Com direito até à trilha sonora importada do passado, sofrem de tédio, um tema que ganha cada vez mais espaço nas manchetes mundo afora.
No trabalho, o problema é resumido por um verso da canção que foi sucesso na adolescência da geração X: “um dia, a monotonia tomou conta de mim, é o tédio cortando os meus programas, esperando o meu fim”. A isso, os especialistas chamam de “boreout”, nome que lembra o de outro fantasma que assombra as empresas, o burnout.
Neste último, a pessoa entra em estado de esgotamento físico, mental e emocional causado por sobrecarga, pressão constante, expectativas inalcançáveis ou ambientes tóxicos. No boreout, ocorre o oposto: em vez de sobrecarga, é a inexistência de desafios e aprendizados no dia a dia, o que leva a uma sensação de tédio crônico.
Sem propósito, o profissional acaba sucumbindo ao desânimo. A apatia e a exaustão emocional surgem em resposta à sensação de subutilização que emerge diante de uma rotina monótona, tarefas pouco desafiadoras e longos períodos sem estímulos intelectuais.
É quando o tema deixa de ser apenas um incômodo individual e passa a se tornar um problema estratégico para as empresas, inclusive em termos de marca e reputação. Porque estas são, também, um reflexo direto do ambiente interno. Afinal, marca forte e uma reputação corporativa robusta também são construídas pelo cotidiano da experiência de quem trabalha na empresa.
Funcionários entediados, subutilizados ou emocionalmente desconectados se tornam, inevitavelmente, embaixadores silenciosos de uma reputação frágil. Não que falem mal da empresa empregadora. Muitas vezes, simplesmente deixam de falar. Pior: deixam de indicar a empresa como um grande lugar onde se trabalhar. E, diante de um mercado cada vez mais transparente, sua apatia e o peso do que não dizem se espalham rápido.
Uma organização que deixa seus colaboradores “murchem” por tédio projeta para fora a mesma imagem que permite crescer internamente: a de uma empresa sem vitalidade, sem narrativa de futuro, sem coragem de criar espaço para que as pessoas cresçam. Pois o boreout é fruto de estruturas burocráticas, lideranças pouco imaginativas e uma cultura que não oferece estímulo intelectual nem oportunidades reais de desenvolvimento.
E em tempos nos quais os melhores talentos têm cada vez menos paciência para empresas que não lhes entregam evolução, essa omissão custa caro. Para combatê-la, é preciso mais do que ajustar a descrição de cargos ou inserir treinamentos esporádicos na agenda. É preciso efetivamente estimular aprendizado contínuo, entregar desafios reais, cultivar autonomia e criar rituais de reconhecimento. Eles não apenas reduzem o risco de boreout, mas ajudam a construir marcas vivas, desejadas e respeitadas.
Para reacender a curiosidade e devolver às pessoas a essencial sensação de estar em movimento, vale ter programas internos de mobilidade e incentivar projetos interdisciplinares. Também ajuda se houver espaço para ciclos curtos de experimentação e mesmo a criação de microdesafios. Sobretudo, é fundamental a prática sincera do feedback
Quem não age, permite ao tédio assumir o papel de comunicador. E, quando o que se comunica é indiferença, estagnação ou falta de futuro, nenhuma estratégia de branding dá conta de reparar o que a cultura, silenciosamente, destruiu.
Mas quando a empresa demonstra disposição para provocar, apoiar e fazer crescer, o tédio perde força e dá espaço à energia que sustenta o engajamento e, por consequência, a reputação. Porque a crença tangível, de quem conhece a empresa por dentro, na sua força e no seu próprio futuro, é um dos mais poderosos impulsionadores de uma marca.