Governo trata decreto de Trump como vitória de Lula enquanto Eduardo culpa inflação e eleições
Presidente americano retirou tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros, como café e carne bovina
A decisão do presidente americano Donald Trump de retirar a tarifa adicional de 40% sobre produtos agrícolas brasileiros, anunciada nesta quinta-feira, novamente deflagrou uma disputa de narrativas entre o governo federal e o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), licenciado desde março nos Estados Unidos e que atuou, junto ao governo americano, pela imposição de sanções ao país e autoridades brasileiras.
Enquanto o governo federal atribuiu o alívio nas tarifas para os principais produtos agrícolas exportados para os Estados Unidos, como café e carne, à atuação da diplomacia brasileira e do presidente Lula (PT), Eduardo Bolsonaro minimizou a atuação do Itamaraty e afirmou que a decisão foi causada por fatores internos dos Estados Unidos.
O decreto, assinado por Trump nessa quinta-feira, justifica a retirada das tarifas mencionando o progresso das negociações iniciadas com Lula na Malásia, em outubro, e não cita o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para integrantes do governo, a menção expressa ao presidente Lula é uma vitória do governo federal. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou o episódio como uma vitória de Lula.
"Lula soube conversar com seriedade e altivez com Donald Trump, confirmando que é um verdadeiro líder. Vitória do Brasil e enorme derrota dos traidores da pátria, Jair e Eduardo Bolsonaro, e daqueles que comemoraram o tarifaço contra o país, como o governador Tarcísio de Freitas e outros mais", afirmou a ministra em suas redes sociais.
Já o líder do governo na Câmara, o deputado federal José Guimarães (PT-CE), afirmou que o recuo americano confirma a força de uma "diplomacia ativa", que recuperou a "credibilidade" do país no cenário internacional.
"Uma vitória para o agro, para a indústria e para o Brasil que volta a ocupar seu lugar no mundo com seriedade e credibilidade com a nossa diplomacia", disse.
Eduardo Bolsonaro, que desde o início procurou ligar a imposição de tarifas à atuação do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal, voltou a repetir a expressão "Tarifa Moraes". Em publicação nas suas redes sociais, ele tentou desvincular a ação do governo brasileiro da decisão de Trump.
Segundo Eduardo, o decreto do governo americano foi editado para conter a inflação de alimentos que afeta o consumidor americano, principalmente de café e carne bovina, dois produtos em que o Brasil é um dos principais exportadores para os Estados Unidos e são amplamente consumidos no país.
Eduardo Bolsonaro destacou que o ano de 2026 será marcado na política americana pelas eleições de meio de mandato, quando a Câmara dos Deputados e parte do Senado será renovada.
"É preciso ser claro: a diplomacia brasileira não teve qualquer mérito na retirada parcial dessas tarifas de hoje. Assim como beneficiou outros países, a decisão dos EUA decorreu apenas de fatores internos, especialmente a necessidade de conter a inflação americana em setores dependentes de insumos estrangeiros", escreveu Eduardo.
O deputado federal voltou a repetir o argumento de que a imposição de tarifas foi causada pela "instabilidade jurídica" criada por Alexandre de Moraes.
"A tarifa-Moraes de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros é consequência direta da crise institucional causada pelo ministro Alexandre de Moraes, cujos abusos já preocupam o mundo e afetam a confiança internacional no Brasil", disse.