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'Jimmy Cliff no Brasil': entenda a história do álbum que o ícone do reggae gravou para os fãs

Lançado em 1990, disco reuniu hits e faixas de apelo pop pensadas para o mercado brasileiro

Morre Jimmy Cliff, ícone do reggae, aos 81 anos - Divulgação

Lançado no Brasil em meados dos anos 1990, Jimmy Cliff in Brazil marcou um capítulo na relação entre o cantor jamaicano e o público brasileiro. Embora o título sugira um registro ao vivo ou gravado no país, o álbum é, na verdade, uma coletânea cuidadosamente montada pela gravadora para fortalecer a presença do artista no país. Reunindo sucessos, faixas de forte apelo e músicas com mensagens sociais, o disco se tornou a porta de entrada para a obra de um dos nomes centrais do reggae mundial.

A década de 1990 foi um período de redescoberta de Jimmy Cliff no Brasil. Depois de uma primeira onda de popularidade nos anos 1970, impulsionada por clássicos como “Many Rivers to Cross” e pela participação no filme The Harder They Come, o cantor voltou a ganhar espaço no país com faixas que dialogavam com o pop, o soul e o reggae contemporâneo. A estratégia da gravadora foi justamente reunir músicas que combinassem a identidade de Cliff com o gosto de um público que consumia reggae no rádio, na TV e em trilhas de novela.

O álbum abre com “Reggae Night”, talvez a canção mais emblemática desse período. Com arranjo mais dançante e refrão fácil, ela se tornou um hit mundial e foi rapidamente incorporada às pistas brasileiras. Ao lado dela, “Hot Shot” também teve grande circulação no país — chegando a aparecer em trilhas de novela — e ajudou a consolidar uma imagem de Cliff como um artista versátil, capaz de transitar entre o reggae tradicional e uma sonoridade mais pop.

Mas o disco não se limita ao clima festivo. Em “Save Our Planet Earth”, Jimmy Cliff abraça a veia social e ambiental que sempre fez parte de sua obra. A letra, que fala sobre preservação e responsabilidade coletiva, passou a conversar com um Brasil que, nos anos 1990, começava a discutir de forma mais ampla temas ambientais. Já músicas como “We All Are One” reforçam a mensagem de união global que o cantor defendia — ecoando bem em um país diverso como o Brasil, onde o reggae sempre encontrou terreno fértil.

Outras faixas, como “Sunshine in the Music”, “Reggae Street” e “Special”, completam o mosaico do álbum, alternando momentos mais solares com canções de espírito romântico e espiritual. Para muitos fãs, esse equilíbrio é justamente o que torna Jimmy Cliff in Brazil um disco representativo do período: ele captura o artista em uma fase madura, dialogando com novos mercados e, ao mesmo tempo, reafirmando sua identidade musical.

O lançamento também ajudou a fortalecer a presença de Jimmy Cliff no país, onde ele construíra, ao longo das décadas, uma relação de afeto. O Brasil se tornou parada frequente em suas turnês, e as músicas presentes no álbum passaram a figurar em shows, rádios e coletâneas nacionais. Com o tempo, Jimmy Cliff in Brazil deixou de ser apenas um produto comercial da gravadora e se transformou em peça de memória para fãs brasileiros — muitos deles o conheceram por meio desse disco.

Hoje, o álbum permanece como um retrato de uma época em que o reggae se expandia para territórios distantes da Jamaica, encontrando no Brasil um dos seus públicos mais calorosos. E Jimmy Cliff, com sua trajetória marcada por espiritualidade, engajamento e carisma, soube traduzir essa conexão em música. Para quem viveu aquele período ou para quem o descobre agora, Jimmy Cliff in Brazil é um lembrete de como a ponte entre Jamaica e Brasil sempre esteve firme — sustentada pela força do reggae e pela voz gentil e contagiante de Jimmy Cliff.