Justiça

Aliados temem que Bolsonaro seja levado à Papuda e intensificam pressão por anistia

Parlamentares afirmam que saúde fragilizada e "timing" da decisão agravam tensão; nos bastidores, oposição admite que avanço da anistia é improvável e que cenário favorece apenas a dosimetria

O ex-presidente Jair Bolsonaro - interlocutores próximos afirmam que, diante do quadro de saúde fragilizado, há um coro crescente entre parlamentares de que "se ele for para a Papuda, ele morre". - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O reconhecimento do trânsito em julgado da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro provocou um movimento imediato entre seus aliados no Congresso, que passaram a manifestar publicamente preocupação com a possibilidade de ele ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda.

Nos bastidores, o clima é ainda mais alarmado: interlocutores próximos afirmam que, diante do quadro de saúde fragilizado, há um coro crescente entre parlamentares de que “se ele for para a Papuda, ele morre”.

A avaliação é que a execução da pena, a cargo do ministro Alexandre de Moraes, adiciona pressão a um debate já sensível — a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, pauta que está entravada desde o início do ano.

O deputado Marco Feliciano (PL-SP) disse considerar “lamentável” a celeridade na conclusão do processo.

— Considero essa decisão extremamente preocupante pelo seu timing e pela forma como foi conduzida. Em processos dessa relevância nacional, a Justiça precisa não apenas cumprir o rito, mas também demonstrar equilíbrio, prudência e senso de oportunidade institucional — afirmou.

Crítico da possibilidade de Bolsonaro ser encaminhado a um presídio comum, o deputado Sanderson (PL-RS) questionou o tratamento que deverá ser aplicado ao ex-presidente:

— Se Lula, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, ficou custodiado numa sala especial da Superintendência da PF em Curitiba, por que o presidente Jair Bolsonaro iria para um presídio comum?

As manifestações se somam às de senadores que, desde o fim de semana, passaram a tratar a votação da anistia como “urgente”, apesar de reconhecerem que o avanço é improvável. O senador Carlos Portinho (PL-RJ) reiterou que Bolsonaro deveria cumprir pena em instalações militares:

— Tem que ser seguida a lei: ele tem que ir para as dependências das Forças Armadas, enquanto a gente aqui no Congresso trabalha pela anistia. É o único gesto capaz de pacificar o país.

A eventual ida de Bolsonaro à Papuda também levou o senador Cleitinho (Republicanos-MG) a intensificar o discurso:

— Eu acho que é um baita de uma injustiça. Agora é tentar recorrer aqui na anistia, ampla e geral. Chance de avançar? Claro. Eu posso falar por mim… mas essa é a parte que eu vou fazer.

Na mesma linha, Hiran Gonçalves (PP-RR) defendeu que apenas o Parlamento teria condições de reduzir a polarização:

— Nós lamentamos porque achamos que não houve tentativa de golpe no Brasil. O que resta é respeitar a decisão judicial e resolver a questão no Parlamento. A única maneira de pacificar é uma anistia ampla, geral e irrestrita.

Bastidores: oposição teme desgaste e admite que anistia dificilmente avançará

Apesar do tom público, aliados de Bolsonaro reconhecem reservadamente que a anistia não deve prosperar. Deputados relatam que o relator da dosimetria, Paulinho da Força, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, mantêm posições consideradas “irredutíveis”. Isso torna mais provável negociar apenas a redução das penas — movimento visto como insuficiente por parte da oposição.

No Senado, a leitura é semelhante: a crise entre as duas Casas e o Planalto pode abrir espaço para temas de interesse da direita, mas dificilmente ao ponto de pautar a anistia. Líderes afirmam que o cenário mudou após a divulgação do vídeo em que Bolsonaro admite ter tentado romper a tornozeleira eletrônica — episódio que ampliou a resistência de partidos do centrão.

O trânsito em julgado foi confirmado após Bolsonaro, Alexandre Ramagem e Anderson Torres deixarem transcorrer o prazo para novos recursos. Moraes agora deve determinar o início da execução das penas, movimentação que acendeu o alerta no núcleo político do PL.

Até o momento, Bolsonaro segue na Superintedência da Polícia Federal, onde foi levado no último sábado, após tentar romper sua tornozeleira.