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Tarcísio diz que Bolsonaro está "doente e fragilizado" e que trabalhará por anistia no Congresso

Em evento para entrega de veículos, governador de São Paulo falou publicamente pela primeira vez após vídeo da tornozeleira

Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em almoço em Brasília - Reprodução

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta terça-feira, 25, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está “doente e fragilizado” e que trabalhará tanto pela aprovação da anistia no Congresso quanto para que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite o cumprimento de pena em prisão domiciliar.

O aliado declarou ainda que não está pensando no cenário eleitoral neste momento, mas reforçou que pretende concorrer à reeleição em São Paulo e que Bolsonaro segue como líder da direita, mesmo com o processo da trama golpista finalizado.

— Recebo a notícia com muita tristeza, porque confio muito na inocência do presidente. Sei da boa intenção, do bom propósito, uma pessoa que sempre procurou fazer o melhor. Acho que tudo isso que está acontecendo é injusto e confio que o tempo vai esclarecer toda a verdade — afirmou Tarcísio, ao término de um evento de entrega de caminhonetes do Fundo Social para cerca de 200 prefeituras paulistas.

O governador insistiu no estado de saúde debilitado de Bolsonaro para argumentar que ele não tem condições de cumprir a pena na sede da PF. Em dado momento, disse que se trata de uma “questão humanitária”, por se tratar de um homem de 70 anos que sofreu uma facada e ainda convive com sequelas do atentado, que precisa de cuidados domésticos e de alimentação especial. Foram sete cirurgias no abdômen, afirmou o governador, que resultam hoje em soluços intermináveis e risco de broncoaspirar.

— Não estou pensando em cenário eleitoral, a eleição está muito longe agora. Digo sempre que eu sou candidato à reeleição, que tenho interesse de ficar em São Paulo. Com frequência eu respondo a mesma coisa e parece que as pessoas não acreditam, mas assim, eu estou muito focado no meu trabalho, nos projetos de longo prazo — disse ele, quando indagado sobre os rumos da oposição ao presidente Lula (PT) em 2026.

Tarcísio é um dos principais cotados para enfrentar o petista nas urnas, mas depende de um apoio explícito de Bolsonaro e de seus familiares, notadamente o deputado federal Eduardo, que está nos Estados Unidos e já o criticou publicamente. Outros governadores de direita tentam se viabilizar no pleito, como Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais.

— Não vamos nos esquecer que a grande liderança da direita é o Bolsonaro. Quem vai decidir a candidatura da direita é o Bolsonaro. Então, ele continua sendo o líder nesse movimento, que ele criou e que ele tem o capital político. Ele que vai definir.

Sobre a anistia, Tarcísio declarou que sempre defendeu a pauta e prometeu fazer o possível para que ela seja aprovada. Meses atrás, foi a Brasília costurar com líderes de partidos e com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), o andamento no plenário. Motta escolheu, então, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade) como relator do projeto, que desagradou a bancada mais radical do bolsonarismo ao trabalhar somente pela dosimetria das penas, e não por um perdão amplo que também alcance o ex-presidente.

— A questão do Bolsonaro em casa hoje é uma questão de respeito a uma pessoa que tem 70 anos e está muito doente. Eu acho que se toma um risco quando se coloca o Bolsonaro numa prisão porque, de repente, você não vai ter a medicação como deveria ter, você não vai ter a alimentação como deveria ter. Acho que não podemos tomar esse risco e a gente tem que ter respeito aos ex-presidentes.

Tarcísio aderiu à versão de Bolsonaro de que danificou a tornozeleira eletrônica em meio a um surto por conta do uso de remédios. O ex-presidente admitiu, em audiência de custódia na PF, que queimou o equipamento com um ferro de solda em meio a uma “alucinação” de que haveria uma escuta ilegal dentro do objeto. Ao mesmo tempo, o governador questionou a necessidade do monitoramento em virtude de policiais estarem na porta da residência “24h por dia”.

— Foi um momento de oscilação de consciência, de uma pessoa que está fora de si, que está passando por um momento de extremo estresse, de extrema provação e acabou mexendo na tornozeleira. Não tinha necessidade nenhuma. Como é que ele vai fugir de casa? Não vai fugir. Ele tem 70 anos, ele está doente, ele está fragilizado. Tem vigilância na porta da casa dele. Ele está preso, ele não quer sair de casa.