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Estatais federais acumulam déficit de R$ 6,35 bilhões até outubro e ampliam pressão sobre Orçamento

O caso mais crítico é o dos Correios que apenas no primeiro semestre de 2025 já teve um prejuízo que ultrapassou R$ 4 bilhões

Banco Central do Brasil - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As empresas estatais federais registraram um déficit de R$ 6,35 bilhões no acumulado de 2025 até outubro, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira. O resultado representa um gasto total superior às receitas obtidas por essas companhias ao longo do ano e já se aproxima do rombo verificado em todo 2024, R$ 6,73 bilhões.

Esse levantamento do BC considera apenas a variação da dívida das estatais, metodologia usada internacionalmente para medir impactos fiscais. Ficam fora dessa conta gigantes como Petrobras, Eletrobras e os bancos públicos, o que torna o déficit ainda mais expressivo. Entram no cálculo empresas como Correios, Emgepron, Hemobrás, Casa da Moeda, Infraero, Serpro, Dataprev e Emgea, que possuem menor capacidade de geração de caixa e dependem com mais frequência de aportes federais.

A piora do desempenho das estatais já está afetando diretamente o Orçamento. Como o rombo superou o valor previsto para este ano, o governo precisou bloquear R$ 3 bilhões em despesas discricionárias para cumprir a meta fiscal. São recursos que poderiam ser direcionados a ministérios ou programas, mas que agora precisam ser retidos para compensar o resultado negativo dessas empresas.

Correios lideram rombo
O caso mais crítico é o dos Correios, em profunda crise financeira. Em 2024, a empresa já havia fechado o ano com déficit superior a R$ 2,5 bilhões. Em 2025, o quadro se deteriorou rapidamente: apenas no primeiro semestre, o prejuízo ultrapassou R$ 4 bilhões, e projeções internas apontam que o rombo pode chegar a R$ 10 bilhões até dezembro e saltar para R$ 23 bilhões em 2026 se nada for feito.

A gravidade do cenário acendeu um alerta na equipe econômica. Segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, o resultado dos Correios é hoje o principal fator de deterioração das contas públicas entre as estatais.

— A empresa de fato tem problemas graves e estruturais, e isso possivelmente pode trazer um impacto fiscal ainda maior para 2026 — afirmou o secretário executivo, na apresentação do relatório bimestral das contas públicas, em Brasília. — Existe um risco de que esse valor seja maior do que o necessário para este ano.

A nova gestão da empresa aprovou, este mês, um plano de reestruturação que inclui revisão de operações, reorganização administrativa e busca por um financiamento de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos para recuperar liquidez. A privatização, defendida pelo governo anterior, foi descartada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afirmou que o serviço postal é considerado estratégico em diversos países e, em muitos casos, precisa de subsídios para garantir atendimento nacional.

Situação fiscal das estatais piora
O relatório bimestral do governo já havia apontado que 13 das 21 empresas avaliadas tiveram piora entre setembro e novembro, elevando a projeção de rombo total para R$ 9,2 bilhões, acima da previsão anterior de R$ 5,5 bilhões.

Com o novo número, o governo precisou contingenciar R$ 3,3 bilhões para manter a projeção oficial de déficit dentro da meta — que é de até R$ 31 bilhões negativos em 2025, considerando a margem de tolerância do arcabouço fiscal.

Entre os destaques negativos adicionais estão:

Infraero, que opera aeroportos não concedidos;

Emgea, gestora de ativos da União;

companias docas de cinco estados, como Ceará, Pará e Rio de Janeiro;

Autoridade Portuária de Santos, que mesmo registrando lucro contábil precisou ajustar dados para adequação à metodologia do BC.

A equipe econômica afirma que o desafio se estenderá a 2026. Segundo Durigan, o próximo ano exige R$ 30 bilhões em receitas adicionais, que dependem de aprovação no Congresso — como novos tributos sobre bets e redução de benefícios fiscais.

O Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) argumenta que o rombo fiscal não deve ser interpretado como sinônimo de prejuízo operacional. A pasta afirmou que:

15 das 20 estatais consideradas na estatística do BC registram lucro em 2025;

algumas apresentaram simultaneamente lucro operacional e déficit fiscal, porque investimentos e pagamentos de dividendos entram na conta como despesa;

juntas, essas empresas lucraram R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre.

Segundo o ministério, até setembro, as estatais investiram R$ 3,2 bilhões e pagaram R$ 1,74 bilhão em dividendos — itens que reduzem o resultado fiscal, mas não indicam problemas estruturais.

Quando se considera o universo completo das estatais, incluindo Petrobras e bancos públicos, o desempenho é robusto: o setor faturou R$ 655,3 bilhões no primeiro semestre, com lucro de R$ 92,4 bilhões, alta de 54% frente a 2024.

Mesmo com o discurso do governo de que os déficits têm origem em investimentos e metodologias contábeis, o fato é que o rombo acumulado de R$ 6,35 bilhões até outubro — e a previsão de R$ 9,2 bilhões até o fim do ano — pressiona diretamente o Orçamento, restringe espaço para gastos e aumenta a incerteza sobre a saúde financeira das empresas públicas.