Hong Kong inicia três dias de luto após incêndio que deixou mais de 120 mortos
Governo local habilitou pontos para que o público assinasse livros de condolências
Milhares de pessoas prestaram homenagem aos 128 mortos no grande incêndio que destruiu um complexo de arranha-céus residenciais em Hong Kong e depositaram flores em sua memória neste sábado (29), dando início a três dias de luto oficial pela tragédia.
O chefe do Executivo da cidade semiautônoma, John Lee, e funcionários do alto escalão respeitaram um minuto de silêncio às 8h locais, em frente à sede do governo, onde bandeiras da China e de Hong Kong foram hasteadas a meio mastro devido à tragédia, que também deixou dezenas de desaparecidos.
Pessoas choravam pelas vítimas e depositavam flores perto do conjunto Wang Fuk Court, de oito torres e quase 2.000 apartamentos, localizado no distrito de Tai Po.
O governo habilitou pontos para que o público assinasse livros de condolências.
"Não posso fazer nada. Só posso esperar que descansem em paz", declarou à AFP um homem identificado como Ki, 52 anos, antes de assinar um dos livros.
Raymond Tang, que também estava na fila, afirmou desejar que os falecidos possam "atravessar o mar do sofrimento e partir para o outro lado".
Muitas pessoas ainda percorriam hospitais e centros de identificação de vítimas na esperança de encontrar familiares, uma vez que 89 corpos não puderam ser identificados e quase 100 continuam desaparecidas.
O órgão anticorrupção do território prendeu oito pessoas relacionadas ao incêndio, o mais letal em um edifício residencial no mundo desde 1980.
As chamas se propagaram rapidamente na quarta-feira por sete dos oito arranha-céus do complexo residencial.
Investigações preliminares apontam que o fogo começou nos andares inferiores, através de plásticos de proteção que costumam ser usados para cobrir prédios em reforma em Hong Kong. Andaimes de bambu e painéis de espuma "altamente inflamáveis" teriam contribuído para a propagação do incêndio.
O chefe do departamento de bombeiros, Andy Yeung, revelou que os sistemas de alarme dos oito blocos "não funcionavam da maneira adequada" e prometeu tomar medidas contra os responsáveis.
A televisão pública CCTV anunciou, por sua vez, que o país iniciou uma campanha de "inspeção e reforma" contra os riscos de incêndio em arranha-céus.
Moradores do complexo afirmaram à AFP que não ouviram nenhuma sirene e que precisaram bater de porta em porta para alertar os vizinhos sobre o perigo.
O órgão anticorrupção de Hong Kong informou que "consultores, pessoas terceirizadas responsáveis pelos andaimes e um intermediário do projeto" estavam entre as oito pessoas detidas na sexta-feira. Na quinta-feira, outros três homens foram detidos, por suspeita de terem deixado embalagens de espuma no local do incêndio.
Hospitalizados
Dezenas de pessoas continuavam hospitalizadas, 11 delas em estado crítico e 21 em estado grave.
"Não descartamos a possibilidade de a polícia encontrar mais restos carbonizados ao entrar no complexo para realizar uma investigação detalhada e colher provas", disse o chefe de segurança do território, Chris Tang.
Diante da busca desesperada das famílias, o governo informou que a polícia ativou um sistema especial de identificação de vítimas de desastres, para ajudar a localizar os desaparecidos.
Este foi o incêndio com o maior número de mortos em Hong Kong desde 1948, quando uma explosão seguida de um incêndio matou pelo menos 135 pessoas.
Incêndios fatais já foram um problema frequente na densamente povoada Hong Kong, especialmente nos bairros mais pobres, mas a adoção de medidas de segurança reduziu o número de incidentes.
Cerca de 800 pessoas receberam abrigo temporário, informou o governo, que já havia anunciado um fundo de US$ 38,5 milhões em ajuda.
Multidões comovidas com a tragédia se mobilizaram em apoio às pessoas afetadas. Postos de fornecimento de roupas, alimentos e artigos para o lar foram montados em uma praça, perto das torres carbonizadas, além de cabines que oferecem atendimento médico e psicológico.