Corrida de rua: passos rumo à longevidade
A atividade, que atrai cada vez mais adeptos, requer acompanhamento médico e fisioterápico para evitar sobrecargas, lesões e desequilíbrios musculares
Não faltam evidências de que a prática de exercício físico traz diversos benefícios para a saúde humana. Numa sociedade cada vez mais ciente da importância das atividades físicas, a corrida de rua apresenta uma grande procura recente.
A modalidade atrai cada vez mais novos adeptos no Brasil. E muito do seu grande público é atraído pelo seu aspecto democrático, integrador, além da melhoria na qualidade de vida.
Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Ph.d. em Ciências da Saúde, Eduardo Zapaterra reforça os aspectos fisiológicos e também de saúde mental e bem-estar, sem deixar de citar que a corrida é algo quase que inerente ao ser humano.
“A corrida, de uma maneira geral, tem um componente cardíaco e respiratório muito importante, que traz adaptações no nosso organismo, que melhora muito a nossa saúde de maneira geral, a nossa expectativa de vida, e, além disso, é uma atividade inerente ao ser humano desde os seus primórdios, principalmente as corridas mais longas”, diz.
Por ser um esporte extremamente acessível, sendo necessário apenas um par de tênis, roupas leves e um local seguro para a prática - parques, pistas ou ruas -, o professor entende que o esporte é uma ótima porta de entrada contra o sedentarismo e que pode apresentar um bom retorno imediato.
Limitações
Para quem está buscando iniciar nas corridas e que ainda apresenta pouco condicionamento físico, o indicado é respeitar as suas limitações, estabelecendo pequenos objetivos diários, como começar com caminhadas de 20 ou 30 minutos, sem se importar com comparações com outros praticantes mais avançados.
“O primeiro ponto é você fazer aquilo que está dentro da sua possibilidade. Isso já traz benefícios enormes. Não é necessário que você complete uma maratona para iniciar na corrida”, alerta o educador físico.
Para quem está começando a correr de maneira leve, saber o histórico familiar de saúde, como, por exemplo, alguma doença, é importante, diz Eduardo Zapaterra. Contudo, ele ressalta a necessidade de haver um acompanhamento médico, principalmente para quem planeja fazer exercícios mais intensos.
“Um treino tranquilo, uma caminhada numa intensidade leve, sem ficar muito ofegante, não traria nenhum grande risco para uma pessoa que não tem problema cardíaco ou pulmonar, que não possui esse histórico de doenças na família”, afirma.
Exemplos
Quem seguiu uma ‘cartilha’ parecida foi o analista de TI, Álvaro Soares. Mesmo com o gosto pelos exercícios físicos, em determinado momento da sua agitada rotina da vida adulta, chegou aos 108kg, com 1,64 m de altura, em um quadro de obesidade.
Incentivado pela esposa, a enfermeira Eide Soares, o analista começou a acompanhá-la em treinos no Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife. O início foi lento. Enquanto ela já completava quilômetros, Álvaro percorria poucos metros, sempre acompanhado de um inalador, devido a sua asma.
Aos poucos, ele foi pegando gosto pelo exercício, foi melhorando o desempenho, aumentando a intensidade dos treinos, e o que era apenas um cuidado passou a ser um estilo de vida.
Com uma alimentação mais equilibrada e consultas com nutricionistas, o peso na balança foi diminuindo, a qualidade de vida, melhorando, e a necessidade do uso das bombinhas foi ficando para trás.
Quase 30 anos se passaram, e a atividade passou a fazer parte da rotina de Álvaro, hoje com 59 anos. As poucas voltas no parque se transformaram em participações em corridas de rua.
“Quando você começa a perder peso, vai se identificando mais, vai gostando do que vê e passa a melhorar na corrida. Correr para mim não é e nunca foi moda”, reflete o corredor.
Totalmente inserido nesse mundo, o analista foi um dos idealizadores do Corre 10, site especializado em corridas de rua e inscrição de provas. Nome recorrente nas corridas, perdeu a conta de quantas participou - 5 km, 10 km ou meia-maratona. Atualmente, consegue apenas ter noção de quantas maratonas teve oportunidade de correr, já que os 42 km exigem uma preparação especial.
Exames
Eduardo Zapaterra se mostra atento aos exames regulares e revela que para determinadas provas, são exigidos atestados médicos. “Quando a gente se submete a fazer uma maratona, o ritmo de treino é muito grande. Então, todo ano, e disso eu não abro mão, faço um check-up”, comenta.
O analista Álvaro Soares concorda: “Não dá para você se submeter - até mesmo pela minha idade, tenho 59 anos - se não tiver um acompanhamento médico com um treinador específico”, detalha.
Contando com todo suporte, inclusive acompanhamento técnico, Álvaro não abre mão de um planejamento e lembra que é necessário estudar uma rotina de preparação para concluir uma prova tão longa.
Além disso, outros cuidados também são necessários. Dependendo do período, sessões de fisioterapia e de recuperação muscular, com banheira de gelo, bota de compressão e massagens, por exemplo, são bem-vindas. Preocupação com a nutrição e uma boa higiene do sono também são aspectos importantes.
Cuidados
A corrida pode ser considerada como uma atividade de médio a alto impacto. Dessa forma, se fazem necessários alguns cuidados para preservar articulações e grupos musculares. O fisioterapeuta Diogo Duarte, do Hospital Jayme da Fonte, reitera a necessidade de fortalecer o corpo e elenca algumas prioridades na preparação.
“A principal forma de prevenção é o fortalecimento muscular global, com foco em quadríceps, glúteos e panturrilhas. Também são importantes os alongamentos regulares, o treino de equilíbrio e controle corporal (propriocepção) e o respeito à progressão gradual dos treinos. Aumentar distância e intensidade de forma planejada é essencial para evitar sobrecarga nas articulações”, explica.
Desde que realizado com acompanhamento, os exercícios de fortalecimento podem ser feitos até mesmo em casa, com pouca carga, ou até mesmo somente o peso corporal, como explica o educador físico Eduardo Zapaterra.
Esses cuidados visam evitar possíveis lesões, que geralmente estão associadas à sobrecargas, erros de treinamento ou desequilíbrios musculares. Segundo o fisioterapeuta Diogo Duarte, as lesões mais frequentes em corredores envolvem o joelho, tornozelo e pé, com destaque para a fascite plantar, condropatias patelares e canelite.
Outro importante cuidado que pode ser inserido na rotina de treinos são os aquecimentos. Segundo os especialistas, isso pode ser feito mesmo com uma corrida mais leve que o ritmo médio ou movimentos mais específicos que vão preparar toda musculatura. O pós-corrida também exige uma atenção especial.
“Antes da corrida, o ideal é realizar um aquecimento dinâmico, com movimentos leves e ativos que elevam a temperatura corporal e preparam a musculatura”, diz. “Após a corrida, é indicado o resfriamento, com caminhadas curtas e alongamentos suaves, além de hidratação e alimentação equilibrada”, ensina. “Sessões de fisioterapia preventiva, liberação miofascial e exercícios de mobilidade articular também favorecem a recuperação e a performance”, esclarece Diogo Duarte.