Filipe Luís poderá igualar número de conquistas do Guardiola em sua estreia no Barcelona
A trajetória do catarinense até aqui assemelha-se bastante com o início da carreira do consagrado espanhol
Quem acompanhou os últimos anos de Filipe Luís como jogador sabia que era questão de tempo até ele trocar a lateral-esquerda pela prancheta na beira do gramado, mas ninguém imaginava que o catarinense teria, tão rapidamente, tanto sucesso como treinador.
Após vencer a Libertadores, no último sábado (29), o professor chegou ao seu quarto título liderando o elenco profissional do Flamengo, com um ano e dois meses no comando da equipe. Se faturar o Campeonato Brasileiro, Filipe ficará a uma taça de igualar o seu número de conquistas no período às levantadas pelo fenômeno Pep Guardiola no mesmo espaço de tempo, quando estreou como técnico do time principal do Barcelona.
Libertadores, Supercopa do Brasil, Copa do Brasil e Campeonato Carioca são os quatro troféus erguidos por Filipe Luís em apenas 14 meses como técnico da equipe principal do Flamengo.
O catarinense já superou a quantidade de conquistas obtidas no começo da trajetória de treinadores consagrados internacionalmente, como Zinedine Zidane, que faturou três títulos como estreante, liderando o Real Madrid em 2016 - trabalho que o levou a ser premiado pela Fifa como melhor técnico do mundo daquele ano.
No momento, o Filipe só fica atrás de Guardiola, mas pode alcançar o feito do espanhol, que ganhou seis títulos com o Barcelona entre 2008 e 2009, se o Flamengo vencer o Brasileirão e o Mundial de Clubes.
Segundo o Bola de Cristal, ferramenta de previsões do Campeonato Brasileiro, feita pelo GLOBO em parceria com a UFMG, o Flamengo tem 97,2% de chances de ganhar o torneio, podendo levantar a taça na próxima quarta-feira (3), se vencer o Ceará no Maracanã, pela penúltima rodada da competição.
O único que ainda pode tirar o troféu do vermelho e preto é o Palmeiras, que tem apenas 2,8% de chances de levar a melhor, não somente precisando vencer seus dois próximos jogos, mas também dependendo de tropeços flamenguistas.
No intercontinental, são três embates até a taça. O primeiro jogo será contra o Cruz Azul, do México, no dia 10 de dezembro, em Doha, no Catar. Se triunfar, o Flamengo enfrentará o egípcio Pyramids no dia 13, tentando chegar à final contra o Paris Saint-German, da França, quatro dias depois.
A jornada de herói de Filipe Luís
Depois de 8 anos de Atlético de Madrid (2010-2014 e 2015-2019), intercalados por uma temporada no Chelsea (2014-2015), Filipe Luís decidiu que era a hora de voltar ao Brasil. Após vencer a Copa América com a seleção brasileira, em julho de 2019, o então jogador disse que queria retornar ao país, mas que teria que ser para o clube do coração, que viva o prelúdio de uma era vitoriosa.
"Voltar para o Brasil? Só se for para o Flamengo. Esse é o peso. Sou flamenguista desde pequeno. O Flamengo está em um momento em que pode brigar por tudo", disse o catarinense em coletiva, após aquela vitória jogando pelo Brasil. A fala contém rastros da visão analítica de Luís, que não só seria bem aproveitada na realização de seu desejo de defender o rubro-negro, mas também se faria necessária quando, cinco anos mais tarde, iniciasse a sua trajetória como treinador.
Com dez títulos conquistados como atleta do vermelho e preto, entre 2019 e 2022, Filipe fez parte da era mais vitoriosa do clube, pendurando as chuteiras no fim de 2023, aos 38 anos. O sonho e o talento do catarinense para comandar um time de futebol eram explícitos nesses seus últimos anos como jogador, quando volta e meia ele mostrava entendimento tático detalhado em entrevistas, era visto ao lado dos técnicos estudando as partidas ou vestia a braçadeira de capitão, exibindo postura de líder dentro de campo.
Cerca de um mês depois da aposentadoria como lateral, ele foi convidado pela diretoria do Flamengo, presidida na época por Rodolfo Landim, para assumir a liderança do sub-17 do clube. O jovem treinador obteve êxito rápido e, junto dos garotos do Ninho, conquistou, em junho de 2024, a Copa Rio da categoria.
No mesmo mês surgiria um novo e maior desafio: comandar o sub-20 rubro-negro, que estava disputando um torneio mundial. Filipe, mais uma vez, mostrou competência em pouco tempo. Sob sua ótica, pela primeira vez, em agosto do ano passado, o vermelho e preto levantou a Taça Intercontinental sub-20, cravando 2 a 1 em cima da base do Olympiacos, num Maracanã lotado de flamenguistas gritando "Filipe Luís" no fim da partida.
De olho na conquista inédita, com disputas importantes do elenco profissional pela frente enquanto havia crises entre jogadores e Tite, Landim deu um grande voto de confiança no técnico iniciante: em setembro de 2024, o catarinense foi convidado para liderar, interinamente, o time principal do Flamengo.
A sua rápida ida para o patamar mais alto do clube parecia coisa de cinema. "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", máxima do clássico Homem-Aranha, dita pelo Tio Ben ao jovem herói, também poderia ter sido falada ao jovem prodígio das pranchetas, que já estreou numa semifinal de Copa do Brasil, disputada contra o Corinthians.
Para a alegria dos rubro-negros, Filipe começou com o pé direito, avançou à final, levou o troféu, passou a ser técnico titular, e continua salvando os dias dos flamenguistas, com o heroísmo de quatro títulos conquistados em pouco mais de um ano, que podem virar seis no fim desta temporada.
Filipe Luís, o novo Pep Guardiola?
À primeira vista, pode parecer exagero comparar o iniciante com Josep Guardiola, considerado o maior treinador de todos os tempos por muitos especialistas em futebol, mas a trajetória do catarinense até aqui assemelha-se bastante com o início da carreira do consagrado espanhol.
Também atento às pranchetas de seus comandantes nos últimos anos como jogador profissional, Pep pendurou as chuteiras em 2005, no mexicano Dorados de Sinaloa. Apesar de não ter feito sua despedida no clube do coração, assim como Filipe, Guardiola estreou como treinador de uma equipe secundária do time que tem a sua torcida, o Barcelona. Ele iniciou no clube catalão em 2007, estando à frente do Barcelona B, com quem conquistou o título da segunda divisão espanhola daquele ano.
Na temporada seguinte, Guardiola chegou ao profissional do Barcelona, sendo o melhor treinador estreante da história do futebol, e dando início à era de ouro do clube, que revolucionou o esporte ao mostrar para o mundo o poder do "tiki-taka" ensinado pelo professor.
Em um ano e dois meses, entre 2008 e 2009, Pep venceu duas vezes a La Liga e levantou taças da Champions League, Supercopa UEFA, Supercopa da Espanha e Copa do Rei. O técnico seguiu no Barça até 2012, dirigindo a ascensão de grandes estrelas da bola, como Messi, que ganhou o prêmio de melhor do mundo pela primeira vez em 2009.
Não há como especular se o Filipe Luís chegará a tamanho sucesso no Flamengo, até porque, no momento, ele ainda nem discutiu a renovação do seu contrato, que termina neste mês de dezembro. Porém, embora o brasileiro não privilegie toques curtos e movimentações constantes nas suas táticas e seja mais fã de um jogo vertical, é possível notar grandes semelhanças na postura do catarinense com o comportamento adotado por Pep no seu início de carreira.
Além disso, o rubro-negro acaba de se consagrar o melhor clube da América do Sul, pode atingir o título mundial nos próximos dias, tem ótimos fluxos financeiros, centro técnico e jogadores de ponta. Dessa maneira, se conquistar seu sexto título em 14 meses e optar por continuar no vermelho e preto, Filipe terá um terreno fértil para, quem sabe, chegar ao patamar que, por hora, só Guardiola ocupa.