Segundo relato de amigos e familiares, Isabele Gomes sofria rotina de covardia e agressões
À Folha de Pernambuco, amiga mais próxima de Isabele Gomes de Macedo relata últimas horas de mulher morta em incêndio na comunidade Icauã, no bairro da Caxangá. Irmã confirma histórico de agressões
A Folha de Pernambuco voltou ao local do incêndio que vitimou Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e os quatro filhos: Aline, de 7 anos; Adriel, de 4 anos; Aguinaldo, de 3 anos; e Ariel, de 1 ano. O crime aconteceu no último sábado, na comunidade Icauã, uma ocupação social localizada no bairro da Caxangá, na Zona Oeste do Recife, onde a família residia.
No local, que ainda cheirava a plástico queimado, a amiga mais antiga e próxima da vítima, Cristiana Severina da Silva, de 49 anos, contou que o companheiro dela era violento. “Ele cumpria as obrigações dele com as despesas, trabalhava com bico, comprava as coisas. Ela tinha de tudo, mas não tinha paz. Ele espancava ela, chamava muitos nomes com ela, os meninos ficavam tudo chorando. E ele era muito rebelde…”, relatou a amiga.
Residente da ocupação há 10 anos, mesmo período que Isabele, Cristiana ainda disse que partia da amiga a vontade e os pedidos de não denunciar o agressor.
“Ninguém nunca chamou a polícia porque ela pedia, sabe? Por conta dos filhos, para não estragar a família. A única renda que ela tinha era do Bolsa Família. Eu dizia ‘vai para a casa da tua mãe’ e ela respondia: ‘Tina, eu com quatro meninos, não vou. Eu preciso estar no meu barraquinho, porque se eu ganhar, os meus filhos vão ter sempre uma casa”, relatou Cristiana, reforçando que um dos medos da amiga era deixar o local e perder uma possível indenização.
Pedido de ajuda
Ainda segundo Cristiana, no dia do crime, a amiga estava assustada e pediu ajuda. “Eu estava aqui sentada, daí veio ela e os três filhos dela [mais velhos]. Ela chegou pertinho, chorando, e estava com uma marca de faca de serra pequena e um roxo no olho. Daí ela disse: ‘Tina, ele está com gasolina e o novinho está lá’", contou.
Ela teria orientado a amiga a deixar os três filhos mais velhos na casa dela enquanto ia buscar o mais novo, mas não adiantou.
“Eu disse: ‘deixa esses três aqui comigo e não diz nada com ele, pega o novinho que a gente vai para a praça passear e vocês ficam aqui até ele dormir”. Isabele foi, mas os meninos sempre iam atrás, porque onde ela ia levava os meninos. Ela não deixava eles com ninguém, nem comigo”, relatou a amiga.
Jaqueline Gomes, irmã de Isabele, afirmou que o casal havia se separado na sexta-feira, um dia antes do incêndio. “Minha mãe tinha ligado pra mim, dizendo que ele saiu de lá levando um bujão de gás e os 'troços' dele pra casa da mãe. Porém, ele voltou de madrugada e começou a agredir a minha irmã”, relatou.
Segundo a irmã, já fazia algum tempo que a vítima relatava agressões por parte do ex-companheiro. “A gente ficava muito preocupado com ela, a gente sempre estava em cima dela. Meu pai, minha mãe, a gente sempre ia ajudando e pedindo pra ela sair daquele lugar”, relembrou a irmã.
Motivo
O maior motivo das brigas do casal, de acordo com Jaqueline, era a forma como o benefício do Bolsa Família, que estava no nome do suspeito, era utilizado.
“Ela sempre dizia que ele chegava muito violento. Ele recebia o dinheiro do Bolsa Família, que era no nome dele, pegava o dinheiro e, ao invés de comprar as coisinhas dos meninos, leite, fralda, ele gastava. Ele dizia que tinha que ter dinheiro para o cigarro dele, para beber, farrar. Ele saía na sexta e chegava no domingo, cheio de cachaça”, completou Jaqueline, afirmando que a irmã já havia sido ameaçada pelo ex em outras discussões.