CRISE NOS CORREIOS

Correios: presidente é avisado que 'não há chance' de aprovação de empréstimo com juros acima do CDI

Estatal suspendeu negociações com bancos após órgão considerar custo elevado de negociação

Fachada dos Correios - Júnior Soares/Folha de Pernambuco

Com o grande desafio de tirar os Correios da pior crise da História, o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, recebeu um recado duro do Tesouro Nacional em reunião na terça-feira (2): não há chance de o órgão dar aval a um empréstimo com juro acima do padrão adotado para esse tipo de operação, de 120% do CDI.

Apesar das más notícias para a estatal, que busca ao menos R$ 10 bilhões para ter um respiro no curto prazo, Rondon não foi o destinatário final da mensagem do Tesouro. Ele foi orientado a repassar para os bancos que o governo não vai aceitar que os credores coloquem uma "faca no pescoço" de qualquer estatal federal.

A taxa de 136% do CDI oferecida pelo consórcio de BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil, Banco do Brasil e Banco Safra é considerada "abusiva" para uma operação com aval da União. Na prática, caso a empresa não pague, o Tesouro assume os compromissos, sem risco de calote para a instituição financeira.

O Comitê de Garantias do Tesouro estabelece o custo máximo que deve ser observado para que uma operação seja elegível ao aval da União. Para um empréstimo com duração superior a 10 anos, esse teto é de 120% do CDI.

Em tese, a flexibilização do teto de juros é possível de ser negociada a depender do risco da operação, mas, no caso dos Correios, essa opção foi descartada. O Tesouro nem chegou a analisar as demais condições do empréstimo - o custo foi um critério de eliminação.

A estratégia é fazer pressão sobre as instituições financeiras para que melhorem as condições do empréstimo. BTG, Citi e ABC Brasil já têm um contrato ativo de R$ 1,8 bilhão com os Correios, sem garantia. Portanto, teriam interesse em trocar a operação, para garantir que serão pagos.

O empréstimo, no entanto, também é importante para o governo, uma vez que, no limite, caso não se encontrem soluções para a estatal, a empresa pode se tornar depende da União. Nesse caso, os gastos da empresa teriam que disputar espaço com outros gastos, como políticas públicas. Mas a equipe econômica já vem pensando em outras alternativas.

A negativa do Tesouro interrompeu a segunda tentativa dos Correios para conseguir levantar R$ 20 bilhões e aumenta as dúvidas sobre a capacidade da empresa em conseguir reverter sua grave situação financeira.

Do lado da estatal, o momento é de avaliar as possibilidades, mas a empresa deve "partir para briga" com as instituições para tentar baixar as taxas. A cúpula dos Correios deve continuar insistindo com os bancos que não é necessário "resolver tudo de uma vez".

A ideia é repetir que a operação pode ser fatiada, com um valor menor em um primeiro momento, mas com um custo mais razoável. Essa foi a estratégia da segunda rodada de negociações, que visava obter ao menos R$ 10 bilhões no curto prazo, mas não surtiu efeito, já que as condições foram bastante similares na oferta agora recusada pelo Tesouro Nacional.

A Caixa Econômica Federal ficou de fora das negociações e não participou da oferta de crédito para os Correios. Mas a direção do banco pode entrar nas negociações, caso seja acionado pelo governo. Em parceria com o BB, há possibilidade de uma taxa menor para ajudar os Correios, disse um executivo. O interesse se deve à garantia do Tesouro.