Aliança rompida com Ciro, pedido de desculpa a Michelle e mais: entenda a crise na família Bolsonaro
Reunião sinalizou que atrito foi superado depois de Flávio ter feito um pedido de desculpas à madrasta
O PL decidiu nessa terça-feira suspender a aliança que costurava no Ceará para apoiar uma eventual candidatura de Ciro Gomes (PSDB) ao governo do estado, após o acordo acentuar, nos últimos dias, uma briga por protagonismo político entre a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O anúncio ocorreu horas após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) visitar o pai na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal — onde Bolsonaro cumpre a pena pela trama golpista — e sinalizar que a divisão familiar foi superada depois de ter feito um pedido de desculpas à madrasta.
O recuo foi acordado em reunião realizada ontem pelo PL em Brasília. O partido decidiu que irá procurar outro nome para as eleições do estado, já que Ciro não agrada a todas as alas da família. A posição foi referendada por Bolsonaro no encontro com Flávio.
Ponto um: desculpas
Antes da mudança ser oficializada, o senador disse ter informado a Bolsonaro que pediu desculpas a Michelle e enfatizou que o racha com a ex-primeira-dama já foi superado internamente. Depois de articular um ataque coordenado com os irmãos contra Michelle e chamá-la de “autoritária” por se opor à aliança no Ceará, Flávio buscou ontem reforçar que as decisões futuras do campo serão tomadas em conjunto e submetidas ao pai que, mesmo preso, terá a “palavra final” sobre alianças regionais.
Segundo o senador, Michelle, que também é presidente do PL Mulher, segue com poderes para fazer posicionamentos, desde que alinhados com o clã e que contem com o crivo do patriarca da família.
"A gente dá um passo importante aqui de amadurecimento, de demonstração de maturidade", contemporizou Flávio. "A Michelle participa do núcleo duro aqui do partido que vai tomar as decisões, porque ela tem um posicionamento muito cristalino, muito transparente, muito verdadeiro e com a visão que ela, uma pessoa que tem percorrido o Brasil todo, pode colaborar e muito para que a gente tome as decisões corretas em cada estado. O que houve foi um ruído de comunicação e todo mundo querendo acertar".
O deputado federal André Fernandes (CE), que costurava a aliança dos bolsonaristas com Ciro em seu estado, também falou em “ruído de comunicação” e disse que vai acatar a decisão do PL.
"Vou continuar lutando para que o estado do Ceará se livre das garras do PT, para que acorde. Eu estou aqui para dizer que faremos essa composição em conjunto", disse. "Acato a ordem do diretório nacional e vamos repensar, analisar um futuro melhor para o estado".
Ponto dois: briga por protagonismo
A briga por protagonismo na família Bolsonaro ganhou tração com o início do cumprimento da pena do ex-presidente e se tornou pública anteontem. De olho no espólio político do patriarca, Flávio, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) se uniram em críticas à ex-primeira-dama por tentar interferir na costura do palanque no Ceará. Segundo eles, ao atacar a aliança de Fernandes com Ciro, Michelle teria desrespeitado uma ordem direta do marido.
Ainda na madrugada de ontem, antes de o PL anunciar a suspensão da aliança com o ex-presidenciável, Michelle usou as redes sociais para divulgar uma nota sobre o atrito e reforçar sua posição contra a costura no Ceará, estado que visitou no domingo para participar do lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) a governador. No evento, a mulher de Bolsonaro criticou a aproximação de Fernandes e do PL com Ciro, que há quase dois meses rompeu com o PDT.
Ponto três: rompimento com Ciro“Eu respeito a opinião dos meus enteados, mas penso diferente e tenho o direito de expressar meus pensamentos com liberdade e sinceridade”, escreveu Michelle, que voltou a criticar Ciro, a quem chamou de “raposa política”. “Eu jamais poderia concordar em ceder o meu apoio à candidatura de um homem que tanto mal causou ao meu marido e à minha família”, acrescentou.
Após o posicionamento, Michelle recebeu apoios públicos de aliados, como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o ex-ministro Marcelo Queiroga (PL-PB).