Deputados temem reação do STF e evitam votação imediata sobre situação de Bacellar
Cúpula da Casa teme novas medidas judiciais caso o deputado tente reassumir o cargo após eventual soltura, além de interferências externas no tabuleiro
A prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), pela Polícia Federal, nesta quarta-feira, provocou uma articulação imediata entre parlamentares para evitar decisões precipitadas e reduzir o risco de desgaste institucional. Bacellar é acusado de vazar informações sigilosas de uma operação policial ao deputado TH Joias, preso sob suspeita de envolvimento com o Comando Vermelho.
Guilherme Delaroli, então presidente da Alerj, abriu a sessão desta quinta-feira sem fazer nenhuma menção à prisão de Bacellar, adotando um tom de normalidade institucional, enquanto buscava demonstrar força política em meio à crise. Para isso, levou ao plenário uma comitiva de aliados — entre eles, seu irmão, o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, e o prefeito de São João de Meriti, Léo Vieira — além de outros apoiadores.
Nos bastidores, articuladores afirmam que Delaroli tenta enviar o recado de que “não irá se deixar comandar enquanto estiver como presidente”, reforçando sua autonomia no comando interino da Casa. A movimentação também mira, sobretudo, o tabuleiro eleitoral de 2026, quando o deputado pretende ampliar sua influência política.
Em fevereiro, Bacellar foi reeleito presidente da Alerj por unanimidade. Após a prisão, deputados da cúpula da presidência afirmam que “não é o momento de tomar decisões a toque de caixa”, lembrando o episódio envolvendo Jorge Picciani em 2017. Na ocasião, após a Alerj decidir pela soltura do então presidente da Casa, o Judiciário considerou que os prazos não foram respeitados e determinou novamente sua prisão — um trauma que parlamentares não querem repetir.
Durante reuniões internas ocorridas até tarde da noite, após o plenário ontem, líderes defenderam conduzir a crise “com serenidade e sem atropelo”. Há temor de que uma eventual soltura imediata de Bacellar, ou até mesmo a possibilidade de ele tentar reassumir a presidência, possa gerar novos atritos com o Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é que isso poderia levar a medidas cautelares mais duras, caso a Corte entenda que o deputado estaria interferindo no plenário mesmo após a ordem de prisão.
A cúpula da Alerj também teme possíveis retaliações políticas. Um dos receios é que deputados ligados ao governo estadual aproveitem a instabilidade para pressionar aliados de Bacellar ou até mesmo estimular pedidos de impeachment. Há ainda quem tema que deputados da base tentem convencer membros da Mesa Diretora a renunciar suas cadeiras.
Enquanto isso, a Assembleia aguarda a notificação formal da Justiça sobre a prisão — documento que ainda não chegou à Casa. A expectativa é que a votação sobre o caso ocorra a partir da semana que vem, após a análise jurídica dos autos e a construção de um entendimento político mais sólido.
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Apesar da cautela, há divisão entre os parlamentares sobre o futuro da cadeira de Bacellar. A decisão do ministro Alexandre de Moraes determina apenas o afastamento da presidência, o que abre margem para que ele, se solto, retorne ao mandato. No entanto, um precedente de 2017 — quando Jorge Picciani foi afastado e o vice assumiu — pode fazer com que a presidência permaneça com o atual vice, Guilherme Delaroli (PL), considerado aliado de Bacellar.
O clima, dizem interlocutores, é de apreensão e espera. A principal preocupação, neste momento, é evitar que a crise escale e coloque a Alerj novamente no centro de um embate com o Judiciário.