Onildo Almeida, aos 97 anos, tem "Forrock" resmaterizado e "Feira de Caruaru" renovada
Artista caruaruense, um dos símbolos maiores de cultura pernambucana, segue celebrado por sua trajetória e parceria com o Gonzaga
Foi como se o tempo tivesse se aquietado por alguns instantes. É que os idos anos de 1950 estavam para chegar ali, com parte de “tudo que aaaai no mundo” versado por seu autor, quase sete décadas depois de ter sido gravada e reproduzida mundo afora pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga.
Um trecho que fosse teria sido um privilégio e tanto, mas o cantar se prolongou… Onildo Almeida, 97 anos, divertia-se enquanto rimava os versos findos em “u” com o hino de um dos Patrimônios Culturais Imateriais do Brasil, a Feira de Caruaru.
O feito aconteceu no programa apresentado pela radialista Simone Mendes na Rádio Folha, no último 1º de dezembro, cujo entrevistado foi o compositor e poeta caruaruense Onildo Almeida, pleno e disposto como um menino.
“Eu não envelheci ainda”, gaba-se ele, após ser perguntado sobre seus “quase 98”, como gosta de dizer.
Onildo veio acompanhado da cantora Kira Aderne, à frente da banda de rock Diablo Angel que, a propósito, fez com o caruaruense uma versão ‘muderna’ da canção imortalizada por Gonzaga.
Vale dizer que Kira tem sido para Onildo uma condutora que ‘alumia’ os caminhos dele, celebrando (em vida) um dos artistas mais altivos da música pernambucana.
Seu Luiz chorou
“Dei a fita pra ele e tempos depois perguntei se tinha ouvido a música e a resposta foi ‘que música?’. Fiquei chateado. Aí passei para Marinês e ela lançou”, conta Onildo sobre a canção “Meu Beija-Flor”, composição que fez sucesso na voz da cantora pernambucana.
Em outra, Gonzaga dessa vez ouviu, e chorou. “A Hora do Adeus”, cuja letra descreve a história de um artista em vias de finalizar a carreira. (...) Ele ouviu e saiu. Fiquei pensando, será que não gostou? Mas ele estava na esquina chorando", relata Onildo.
Forró e rock?
E o forró virou rock em um vice-versa que deu num “Forrock”, disco lançado por Onildo nos anos de 1980, no auge de um Rock in Rio em que o ‘forrofiou’’ até nas guitarradas.
Relançado no último mês de outubro pela Polymusic, com remasterização de Hélio Rozenblit, o trabalho é mais um registro de um vanguardista dos fazeres do Nordeste em terras sudestinas.
“Me incomodava ele não ter um disco dele nas plataformas digitais”, confessa Kira, idealizadora dessa boa nova na carreira do mestre.
E antes do “Forrock” remasterizado, os ritmos se encontraram em uma parceria entre a cantora e Onildo. Ambos, aliás, têm trocado (boas) ideias há algum tempo. Em junho deste ano, no São João em Caruaru, no Palco Azulão, os artistas apresentaram outra versão da "Feira".
“Trouxemos uma melodia vocal diferente, renovando esse clássico de 1956 (...). Comecei a pesquisar a obra de Onildo e não parei mais”, celebra a vocalista da Diablo Angel, banda de rock radicada na Capital pernambucana, onde a também caruaruense reside há algum tempo.
De tudo que ai no mundo...
“O matuto chegava, comprava um guarda-roupa, botava nas costas e ia embora. Isso só se via ali em Caruaru, na feira. Fui observando…”, descreve Onildo, sobre a ideia de fazer a música, relembrando também que “no final da avenida, perto do Colégio das Freiras, antigamente ficava uma fila de carros com a placa ‘vende-se’.
O que vai se buscar numa feira é mantimento, não é carro não”, brinca ele sobre o patrimônio maior de Caruaru, narrada em música com letra nada sofisticada e, por isso mesmo, com chegança em todo mundo.
“Ainda hoje as pessoas perguntam o significado de muito que é dito na letra”, lembra Onildo, sobre trechos fieis a um linguajar próprio da época, a exemplo de “carça de arvorada”, “mó de menino” e um “de tudo que há (ou ai) no mundo”.
“O tanto quanto ‘Asa Branca’ tem o ‘que brasero, que fornaia’ ou um “entonce eu disse’, explica o crítico de música José Teles sobre dizeres peculiares de cancioneiros nordestinos, tais quais os escritos Onildo Almeida, um dos símbolos maiores da ‘Capitá’ do Forró.