MERCADO AUTOMOTIVO

Crise dos chips, juros altos e clima: ano fecha abaixo da projeção para produção e venda de veículos

Estimativas tinham sido revisadas para baixo pela Anfavea, entidade que representa o setor

Estimativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) era de crescimento de 5% no ano - Anfavea

Num ano de aumento das taxas de juros, problemas na produção de chips e paralisação de fábrica por eventos climáticos (a Toyota teve uma de suas unidades atingidas por um temporal em São Paulo), as vendas e a produção da indústria automobilística nacional, em 2025, devem ficar abaixo das projeções revisadas em agosto pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que representa o setor.

Entre janeiro e novembro, as vendas chegaram a 2,4 milhões de unidades, alta de 1,4% na comparação anual. A estimativa da Anfavea era de crescimento de 5% no ano.

"Para atingir a meta, os emplacamentos teriam que ser, em dezembro, 38% superiores ao que tivemos em novembro, o que eu não acredito. Continuamos com número positivos de emplacamentos, mas eles vêm desacelerando. As projeções não serão atingidas", disse Igor Calvet, presidente da Anfavea, em coletiva nesta segunda-feira, em que foram apresentados os números mais recentes do setor.

Os emplacamentos em novembro chegaram a 238,6 mil unidades, queda de 5,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

O segmento de caminhões é um dos que mais preocupa a Anfavea. Novembro foi o quarto mês consecutivo de recuo na produção de caminhões, com queda acumulada de 9,3% no ano.

A projeção da Anfavea era de um recuo de 3,1%. Na ponta do consumidor, os juros estão próximo de 28% ao ano, alerta a entidade.

E a atividade econômica vem desacelerando, impactando as vendas especialmente de caminhões pesados. O segmento tem correlação direta com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Nesse cenário, o emplacamento dos caminhões tem queda acumulada de 8,7%, e a projeção era de recuo de 8,3%.

"O mercado que mais sofre é o dos caminhões pesados, que representa 45% do setor, e tem queda acumulada de 20% nas vendas. O segmento de semileves recua 24,5% em emplacamentos, mas esses veículos representam apenas 5% do mercado. Temos uma safra boa, a economia ainda cresce este ano, mas os juros altos asfixiam e impedem que o mercado de caminhões siga adiante", explica Igor Calvet, que diz que é importante, nesse momento, que as autoridades tenham uma visão estratégica para o setor de caminhões.

Incentivo à renovação da frota
No Brasil, a frota de caminhões em circulação chega a 2,1 milhões de veículos e tem quase 65% de participação do modal rodoviário no total de transporte de cargas.

Mas a idade média dos veículos é de 13 anos e, segundo especialistas, precisa ser renovada. Na Europa, a idade média da frota é de 10 anos.

O mercado europeu de caminhões emplaca entre 250 mil e 350 mil unidades por ano. No Brasil, foram vendidos 122 mil caminhões ano passado.

A anfavea defende que medidas governamentais como estímulo à renovação de frotas, além de melhores condições de crédito para a compra, poderiam ajudar o segmento a ter uma 2026 um pouco melhor.

A expectativa da Anfavea é que a taxa de juros Selic, atualmente em 15%, comece a cair a partir de março, mas os efeitos dessa baixa só serão sentidos entre seis e nove meses depois da redução.

"Tem coisas estruturais que podem melhorar a competitividade, mas o principal problema são os juros altos",  enfatizou.

Com relação a produção, em novembro passado saíram das fábricas 219,1 mil unidades, quantidade 8,2% inferior ao mesmo mês do ano passado.

Entre janeiro e novembro, a indústria automobilística nacional produziu 2,45 milhões de unidades, alta de 4,1% em relação aos 11 meses de 2024. Já a expectativa de produção da Anfavea era de 2,749 milhões de unidades no ano, uma evolução de 7,8% sobre o volume produzido em 2024.

"Este ano tivemos fatores geopolíticos que afetaram a cadeia de fornecimento, com crise dos chips, tivemos a produção afetada até mesmo por condições climáticas. A cada 15 dias tivemos um fato relevante que afetou a produção. E 2026, é um ano eleitoral que traz instabilidade", disse Calvet.

A alta expressiva das exportações atenua a queda das vendas e da produção. O país exportou 35,7 mil unidades em novembro passado, queda de 13,4% em relação a novembro de 2024.

Entre janeiro e novembro, entretanto, foram vendidos ao exterior 510,1 mil veículos, alta de 37,9% em relação ao mesmo período de 2024.

A projeção da Anfavea para as exportações é de alta de 38,4% este ano sobre 2024, totalizando 551 mil unidades.

A recuperação do mercado argentino e a retomada das vendas para a Colômbia ajudam no crescimento das vendas ao exterior.