Líderes do governo e do PT se dizem surpreendidos com votação do projeto da dosimetria
Base insinua que houve acordo entre Hugo Motta e a oposição
Governistas na Câmara afirmam ter sido surpreendidos pela decisão do presidente da Casa, Hugo Mota (Republicanos-PB), de pautar a votação do projeto que reduz penas aos condenados nos atos do 8 de janeiro de 2023 nesta terça-feira, e passaram a ver o movimento como parte de uma negociação com o PL e com a família Bolsonaro.
Líderes alinhados ao Palácio do Planalto mencionam que a súbita entrada do tema na agenda legislativa ocorre no rastro da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), lançada em meio a resistências do Centrão e a sinais de fragilidade política.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, afirmou que Hugo Mota não comunicou previamente à base a decisão de avançar com a matéria.
— Pegou só a gente de surpresa. É o começo de uma negociação — disse.
Segundo o petista, o alinhamento imediato do PL ao anúncio — concordando de pronto com a votação e informando que não apresentaria destaques — reforça a percepção de que houve acerto prévio.
— Está muito claro que essa decisão do Hugo Mota foi combinada com o PL e com a família Bolsonaro. Eles concordaram de pronto com a votação e ainda anunciaram que não fariam destaques. Foi uma negociação — afirmou.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também relacionou o avanço da dosimetria ao contexto aberto pela candidatura de Flávio.
— Isso tem tudo a ver com a candidatura do Flávio Bolsonaro — disse.
A pré-candidatura anunciada na semana passada começou com sinais de isolamento. O jantar convocado por Flávio para reunir presidentes de partidos do Centrão terminou sem apoios anunciados, e governadores de direita evitaram endossar publicamente sua entrada na corrida.
Nesse ambiente, a frase dita por Flávio — de que retirar sua candidatura teria “um preço” — passou a ser lida por parlamentares como um recado sobre o tipo de contrapartida política que esperava obter. Lindbergh retomou a fala ao comentar a movimentação desta terça:
— Vocês lembram do Flávio Bolsonaro dizendo que para retirar a candidatura tinha um preço? Pois é.
Para a base do governo, a aceleração da dosimetria entrou nesse tabuleiro de pressões e reposicionamentos. Deputados afirmam que o gesto de Hugo Mota sugere que o presidente da Câmara ingressou nas negociações. O entorno de Motta, contudo, nega articulações.