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Brasil é um dos países que menos cobram impostos dos super ricos

Taxas efetivas caem quase a zero no topo da pirâmide, mostra Relatório Mundial sobre Desigualdade

Segundo o relatório, as alíquotas efetivas de imposto de renda aumentam gradualmente para 99% da população, mas despencam justamente entre os ultra ricos. - José Cruz/Agência Brasil

Os super ricos escapam de pagar impostos em vários países, mas ainda mais no Brasil. Na comparação com outros quatro países — França, Holanda, Espanha e Estados Unidos —, o país amarga a situação mais crítica na taxação dos mais ricos.

Ainda assim, um novo estudo mostra que nenhum deles se sai bem. Em todos, as alíquotas efetivas caem quase a zero no topo da pirâmide, quando se trata de bilionários.

É o que apontam os dados da terceira edição do Relatório Mundial sobre a Desigualdade 2026, elaborado por um grupo de pesquisadores da rede World Inequality Lab, liderado pelo economista francês Thomas Piketty.

Segundo o relatório, as alíquotas efetivas de imposto de renda aumentam gradualmente para 99% da população, mas despencam justamente entre os ultra ricos.

Enquanto trabalhadores da classe média pagam entre 10% e 20% de sua renda em impostos, os bilionários contribuem proporcionalmente menos. Muitas vezes, até menos do que famílias de renda média ou alta.

A queda no topo é observada em todos os países pesquisados, mas no Brasil é particularmente mais acentuada. À exceção da Holanda, que tem trajetória um pouco mais próxima à do Brasil, Espanha, França e Estados Unidos chegam a pelo menos manter taxas efetivas um pouco mais altas para as faixas mais elevadas de renda.

O Congresso brasileiro aprovou recentemente um projeto do governo Lula que prevê a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Em contrapartida, os contribuintes com renda anual a partir de R$ 600 mil pagarão uma alíquota mínima de 10% — essa taxa sobe gradualmente e só chega a 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano.

No relatório da equipe de Piketty, os dados do Brasil são atualizados até o ano de 2023.

O economista Ricardo Gómez Carrera, coordenador do relatório, ressaltou que a América Latina, incluindo o Brasil, enfrenta dificuldade histórica em taxar os mais ricos.

— A região, em média, não é muito boa em tributação progressiva. Na verdade, em alguns casos, a tributação é até regressiva — destaca.

Ele pondera, no entanto, que a região foi uma das que mais reduziu a desigualdade por meio de programas de transferência de renda. No Brasil, o Bolsa Família atende mais de 18 milhões de famílias.

Segundo o estudo, as distorções tributárias estão inclusive inseridas num cenário global que tradicionalmente favorece os países ricos. A forma como a arquitetura financeira internacional é desenhada, com juros mais baixos para emissores de moeda forte, faz com que as economias avançadas acumulem mais renda do que países em desenvolvimento.

Segundo os autores, isso acaba sendo uma forma “moderna de troca estruturalmente desigual”, o que acaba limitando espaço fiscal das outras nações.

Imposto de 3% sobre bilionários levantaria US$ 750 bi por ano
O relatório apresenta três propostas de tributação global sobre altas fortunas. A mais moderada, que prevê um imposto anual de 3% sobre cerca de 100 mil bilionários e milionários, calcula que poderia ser arrecadado US$ 750 bilhões por ano, valor equivalente a todo o orçamento global de educação de países de baixa e média renda.

Num cenário mais modesto, um imposto de 2% sobre patrimônios acima de US$ 100 milhões já seria capaz de trazer uma receita de US$ 503 bilhões por ano, o equivalente a 0,45% do PIB mundial, destacam os economistas.

Já uma tributação de 5% arrecadaria, por ano, US$ 1,3 trilhão, o que representa 1,11% do PIB mundial.

Segundo os autores, tributar uma parte das fortunas daria aos governos mais capacidade fiscal para enfrentar desafios estruturais — seja da educação, saúde ou até transição climática —, sem aumentar o ônus sobre a classe média ou os mais pobres.