Jarbas, o DEBATE e a COP30 do Brasil
Nesses 40 anos de comemoração da fundação do DEBATE, venho registrar com muito orgulho as decisões de Jarbas Vasconcelos sobre o meio ambiente, as cidades e o Estado de Pernambuco. Desde 1985, quando prefeito pela 1ª. vez para o Recife, priorizou a limpeza urbana da cidade e fez disso uma obstinação. Foi escolhido por meses seguidos como melhor gestor municipal e dentre os quesitos avaliados sempre se destacava a limpeza do Recife.
Enorme aprovação da população que o via, diariamente, liderando pessoalmente as equipes da prefeitura. Excelente exemplo que deve ser copiado até os dias de hoje. Lá atrás, modernizou a legislação da cidade impondo sanções aos maus cidadãos que insistiam em sujar as ruas, praças e cursos de água. Campanhas educativas criadas por Joca Souza Leão – Jogue Limpo com Recife, foram destaque nacional.
Até o início da sua gestão, os catadores de lixo, ou carroceiros, como queira, eram tratados como verdadeiros infratores. Na Rua dos Navegantes era comum vê-los apanhando os sacos de lixo dos ricos, fazer uma rápida bagulhada, jogar o resto nos terrenos e esquinas. Isso era inadmissível para o pessoal da limpeza urbana, que apreendia as carroças, levava lá para o Caçote, quebrava o veículo e jogava fora.
Para mim, que aos 29 anos tinha a enorme responsabilidade de superintender o serviço, os catadores deveriam ser tratados como agentes a serviço da cidade, responsáveis que eram pela remoção de centenas de toneladas de recicláveis diariamente.
Estimulado pelo exemplo de Jarbas fui procurar os intermediários, os donos dos depósitos, para estabelecer um canal de comunicação. Reunião estranha aconteceu na sede da limpeza urbana no Caçote. Naquela manhã recebi com educação um grupo de empresários, gente de posses, vestidos com roupas comuns, mas, ostentando correntes e adornos de ouro no pescoço e ao volante de novos e belos Opala Chevrolet de 4 portas. Impressionante.
Mais espantados ainda estavam os funcionários da prefeitura. Até pouco tempo, caçavam as carroças e as quebravam. Agora, estavam recebendo essas pessoas. Cenas que nunca esqueci. A reunião começou um tanto estranha, desconfiados estávamos todos, mas, esperançosos de um final comum. E foi o que aconteceu. Celebramos um acordo a prefeitura iria orientar a todas as equipes e aos carroceiros, das novas regras de convivência. Tivemos êxito.
Nos dias de hoje cerca de 20% do orçamento municipal do Recife é gasto com serviços de limpeza urbana, mas, os catadores, empobrecidos ainda mais, aumentam dia a dia. É comum observar várias carroças, enormes carroças, coletando material reciclável nas ruas da cidade, nos mesmos dias e um pouco antes dos caminhões de coleta de lixo. A prefeitura oferece estações públicas de recepção de grandes volumes e de recicláveis. Mas fica a pergunta: por quê nossas ruas, praças e cursos d´água continuam a receber centenas de toneladas de resíduos todos os dias?
Cabe pensar uma proposta que incorpore os catadores como agentes ambientais. Remunerados pelos resíduos coletados e também pela prestação do serviço de coleta. Carteira assinada e tudo mais. Funcionários. São trabalhadores que circulam a bordo de suas carroças com toda família e um cachorro completam a caravana.
Eleito Governador alguns anos depois, Jarbas criou o ICMS Ambiental destinando 1% dessa receita aos municípios que tratassem corretamente seus resíduos, numa tentativa de acabar os lixões que grassavam o território pernambucano. Medida acertada e até hoje serve de estímulo à correta destinação do lixo urbano.
A COP30 registra inexistentes planos, programas e ações para as cidades. Sim, nas cidades habitam 60% de toda população mundial. Jacarta na Indonésia, detém o impressionante recorde de 40 milhões de habitantes e produz assombrosas 40 mil toneladas de lixo diariamente.
O mesmo que Recife em 1 mês. Os ricos da costa oeste da América produzem milhões de toneladas de plásticos, que chegam ao Pacífico, são empurradas pelas correntes frias do Oceano, se encontram com igual quantidade de lixo vindo da Ásia, formando uma enorme ilha de plásticos, material esse que é comido pelos peixes, que volta às pessoas na forma de alimento. Microplásticos. A praga moderna.
Debate com catadores. Debate com prefeitos. Debate com lideranças populares. Debate com o povo. Debate. Debate. Esse é o espírito da democracia, sem o qual, chega-se à intolerância, como está acontecendo hoje. Essa disposição separatista conduz ao atraso, nós contra eles. Vamos celebrar o DEBATE. Parabéns Jarbas.
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