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Rage bait, parassocial e '67': afinal, o que querem dizer as palavras do ano

Dicionários elegeram os termos que simbolizam a internet de 2025 e revelam como jovens transformaram raiva calculada, vínculos imaginários e um número sem sentido em linguagem cotidiana

Montagem com a Jennifer Lawrence, rapper americano Skrilla e a Taylor Swift e seu noivo - AFP / Reprodução Instagram

Em 2025, a internet deixou de ser apenas um lugar para rolar a tela. Entre gritos de “six, seven”, brigas cuidadosamente encenadas e fãs que se sentem íntimos de famosos que nunca conheceram, três termos disputaram o posto de “palavra do ano” ao redor do mundo: “rage bait”, “parassocial” e o enigmático “67”. A mistura parece caótica — e é exatamente esse o ponto. Nunca foi tanto sobre entender, e tanto sobre sentir.

O fenômeno virou oficial quando a Oxford University Press escolheu “rage bait” como a Palavra do Ano de 2025, em novembro. Ao mesmo tempo, o dicionário de Cambridge apostou em “parassocial” como retrato da época, enquanto o Dictionary.com foi ainda mais radical e elegeu um número que, em tese, não quer dizer nada: “67”. Três escolhas diferentes, mas que contam a mesma história: a de jovens da geração Z e Alpha que provocam, aproximam e confundem em questão de pouco tempo.

Hoje, o Globo vai te esclarecer do que se trata cada uma dessas palavras.

Rage bait
“Rage bait”, literalmente “isca de raiva”, define conteúdos criados para deixar as pessoas indignadas de propósito. Embora pareça uma moda recente, o termo já aparecia em fóruns da Usenet em 2002, quando descrevia reações de motoristas irritados na estrada. Em 2025, virou estratégia profissionalizada.

Segundo a Oxford Languages, o uso da expressão triplicou no último ano. O termo ganhou ainda mais atenção quando Jennifer Lawrence revelou ter criado um perfil anônimo no TikTok só para discutir com fãs de cinema — um exemplo clássico do jogo de provocar para engajar.

A palavra venceu concorrentes mais “positivos” como “biohack” e “aura farming”, em uma disputa que envolveu votação popular com mais de 30 mil pessoas e até vídeos verticais produzidos pelo estúdio criativo Uncommon. Para a Oxford, a força do termo está no reconhecimento imediato: mesmo quem nunca ouviu entende do que se trata.

Parassocial
Já “parassocial” é o oposto em tom, mas igualmente revelador. Eleito o termo do ano pelo dicionário de Cambridge, o conceito existe desde 1956, quando sociólogos norte-americanos tentavam nomear o vínculo emocional que telespectadores criavam com apresentadores de TV. O que era acadêmico virou cotidiano entre a galera nascida desde 1997.

Em 2025, o termo explodiu nas buscas depois que o youtuber IShowSpeed bloqueou uma fã que ele chamou de sua “parassocial número 1”. Outro pico ocorreu quando Taylor Swift anunciou o noivado com Travis Kelce, da NFL, e milhões de pessoas se comportaram como se vivessem o momento dentro da própria relação.

Cambridge define “parassocial” como a conexão que alguém sente com uma pessoa famosa, personagem fictício ou até inteligência artificial, mesmo sem qualquer contato real. A lista de variações — de “luto parassocial” a “rompimento parassocial” — mostra como o vocabulário passou a dar nome para sentimentos que antes não tinham rótulo.

67
E então vem o mais estranho dos três: “67”. Eleito pelo Dictionary.com como “palavra do ano”, mesmo sendo, tecnicamente, só um número. Surgido do caos da internet entre os adolescentes da geração Alpha, nascidos a partir de 2010, o “six, seven” nasceu da música “Doot Doot”, do rapper Skrilla, lançada em 2024.

Sem significado definido — o próprio Skrilla disse ao “Wall Street Journal” que nunca quis dar sentido à expressão —, virou o som do absurdo. Professores começaram a ouvir alunos gritando “six, seven” em corredores de escolas nos Estados Unidos, a ponto de algumas instituições proibirem o termo.

No TikTok, a hashtag #67 já ultrapassou a marca de 2 milhões de postagens. Vídeos com o jogador LaMelo Ball, que mede seis pés e sete polegadas, passaram a usar a música como trilha sonora, e o próprio atleta entrou na brincadeira em entrevista à ESPN. Para o Dictionary.com, o “67” é a síntese do chamado “brain rot”: o prazer de repetir algo sem sentido apenas por fazer parte da piada.

Outras palavras circularam nesse mesmo universo, como “aura farming” — o cultivo meticuloso de uma persona carismática — e “biohack”, ligado a tentativas de otimizar o corpo e a mente, além de “vibe coding”, eleito pelo dicionário Collins após ser cunhado por Andrej Karpathy, da OpenAI. Mas nenhuma dessas capturou tão bem o espírito do ano quanto o trio improvável que dominou o debate.

No fim, “rage bait”, “parassocial” e “67” são menos sobre dicionários e mais sobre espelhos. Eles revelam um público que quer se emocionar, se conectar e, às vezes, apenas gritar algo sem sentido junto com milhões de desconhecidos.