Aliados de Bacellar fazem corrida silenciosa pela presidência da Alerj, caso ele renuncie ao cargo
Caso ideia prospere, sucessão do governador Cláudio Castro pode ficar ainda mais embolada. O chefe do executivo não quer novas eleições
A decretação do afastamento de Rodrigo Bacellar (União) da presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), por ordem do Supremo Tribunal Federal, provocou uma corrida silenciosa pelo comando da Casa. O ministro Alexandre de Moraes determinou que ele fosse solto, mas não retornasse ao comando do legislativo fluminense. No entanto, por ser eleito presidente, somente uma renúncia, perda do mandato de deputado ou morte tornaria vaga a cadeira. Nos bastidores, três nomes já estão sendo articulados por diferentes grupos políticos, mesmo antes de qualquer definição oficial sobre o futuro do deputado. Eles querem convencê-lo de que ao renunciar, Bacellar poderia articular pela eleição de alguém do grupo.
— É um verdadeiro "golpe de estado" — definiu um deputado.
A corrida silenciosa
Na decisão, Alexandre de Moraes afasta Bacellar somente da presidência da Alerj e não de seu mandato. Ele poderá participar das votações e deliberações normalmente. Dessa forma, os deputados não precisam chancelar ou negar as medidas cautelares impostas pelo ministro do Supremo. Sem previsão de um retorno do parlamentar à cadeira mais importante do Palácio Tiradentes, alguns deputados já iniciavam uma corrida silenciosa antes mesmo de Bacellar deixar a carceragem da Polícia Federal.
Segundo interlocutores, entre os nomes que aparece como um possível sucessor nesse primeiro momento é de Chico Machado (Solidariedade), que já estaria tentando reunir apoios de parlamentares independentes e de setores da base governista. Uma segunda candidatura seria organizada pela chamada “tropa do Bacellar", formada por deputados próximos ao ex-presidente. O núcleo "duro" do presidente afastado conta com Rodrigo Amorim (União), Alan Lopes (PL) e Alexandre Knoploch (PL), que dizem não saber da articulação.
A terceira composição em discussão por parte do PL é de um nome não ligado a Bacellar. Deputado licenciado e secretário de Cidades, Douglas Ruas é o preferido pela cúpula do partido no Rio para concorrer à presidência da Alerj em 2027. Assim como o presidente interino da Alerj Guilherme Delaroli, ele é ligado a Altineu Cortes, presidente do PL fluminense. Pesa contra ele ser seu primeiro mandato e estar fora da Casa.
Mas a permanência de Delaroli como presidente ou a chegada de Ruas num cenário de renúncia de Bacellar representa nesse momento uma troca de grupos no poder. E sem vice-governador pela renúncia de Thiago Pampolha, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, em caso de real vacância do cargo de presidente, cresce o poder de influência do governador Cláudio Castro na decisão do nome.
Nesta semana, Castro já deixou claro a deputados que não é a favor de uma nova eleição, sobretudo com temas sensíveis e urgentes ao governo, como a adesão ao Propag e o orçamento de 2026. O governador também não deseja esticar a corda contra o antigo aliado. Apesar do afastamento entre os dois desde o meio do ano, indicados de Bacellar não foram exonerados do governo do Rio.
Mas a posição pessoal de Castro não diminui a força que ele terá em apoiar um nome, caso seja preciso. Como presidente interino da Alerj, Guilherme Delaroli não está na linha de sucessão do governo. Nesse momento, quem assumiria o governo em caso de renúncia, viagem ou licença de Castro é o presidente do Tribunal de Justiça, Ricardo Couto.
O governador deverá renunciar em 2026 ao cargo para concorrer a uma vaga no Senado nas próximas eleições. Esse movimento precisa ser feito até o fim de abril, por força da lei eleitoral. A partir de maio, qualquer um que esteja governador só poderá concorrer à reeleição.
Antes da prisão e afastamento de Bacellar, Castro e aliados tinham decidido que o governador só iria deixar o Palácio na data limite. Então o presidente da Alerj assumiria interinamente o governo e convocaria uma eleição indireta em até um mês. Bacellar tinha interesse em se lançar candidato e concorrer à reeleição como governador. Desde a briga entre os dois, o governador tem dito a interlocutores que tinha preferência que seu secretário da Casa Civil Nicola Miccione, que não teria pretensões eleitorais, fosse eleito para o mandato tampão até o final de 2026.
Mas num cenário em que Bacellar renuncia à presidência da Alerj, a Assembleia precisa eleger um novo comandante em até cinco sessões. Esse parlamentar então teria que aceitar abrir mão de disputar a eleição de 2026 a deputado ou tentar uma reeleição como governador.
É nesse limbo eleitoral que a força de Castro pode prevalecer. Havendo necessidade da Alerj escolher um novo presidente, é possível que na mesa das negociações seja incluída uma antecipação da renúncia do governador em um mês e a presidência da Casa, seja um nome de interesse do governador. Nesse caso, facilitaria a eleição de sucessão de Miccione ao mandato tampão ou outro nome escolhido por Castro.