Cana-de-açúcar, bandeira do Nordeste
Pernambuco deu seus primeiros passos amparado pela cana-de-açúcar no Engenho “Nossa Senhora da Ajuda” em 1535, localizado no chamado “Forno da Cal” nos arredores de Olinda. O donatário Duarte Coelho Pereira entregou o engenho ao cunhado Jerônimo de Albuquerque, irmão de sua esposa Dona Brites.
As mudas de cana foram trazidas da Ilha da Madeira, onde já eram cultivadas há décadas, aclimatando-se com grande sucesso ao nosso clima e solo de Massapê.
Durante quinhentos anos, a atividade canavieira integrou-se à perfeição, como principal ferramenta no processo de colonização da Capitania, expandindo-se de tal forma que em meados do século XVI Pernambuco já contava com mais de cem unidades produtoras na Zona da Mata.
Desde então, a cultura canavieira liderou durante séculos todas as iniciativas dignas de destaque da Colônia à República. Nos bons e nos maus momentos a cana-de-açúcar permeou nossa história, na chegada, convívio e expulsão dos holandeses, adiante nos momentos libertários com a Revolução de 1817, homenageada com a “carta Magna”, depois em 1895 com o gesto de reconhecimento do governador Alexandre Barbosa Lima, colocando a cana-de-açúcar no brasão de Pernambuco.
A vida seguiu, vários outros governadores foram inoculados com a sina canavieira, Herculano Bandeira de Melo, do engenho Tamataupe, em Nazaré da Mata; Estácio Coimbra, do engenho Tentugal, em Barreiros; Carlos de Lima Cavalcanti nascido no engenho Caeté, em Amaraji; Alexandre Barbosa Lima Sobrinho, ex-presidente do IAA, autor do estatuto da Lavoura Canavieira; Agamenon Magalhães, acompanhado estrategicamente de dois secretários com origem canavieira, um filho de usineiro e outro filho de Fornecedor de Cana, sendo um da Mata Norte e outro da Mata Sul; Cid Sampaio, da Usina Roçadinho, Miguel Arraes que foi fiscal de tributos do IAA, três mandatos como governador; José Francisco de Moura Cavalcanti, do engenho Cipó Branco em Macaparana.
Mais recentemente Marco Maciel, governador e vice-presidente da República, padrinho de batismo da UNIDA — União Nordestina dos Produtores de Cana; Jarbas Vasconcelos, que aprovou os Projetos Prorenor e Proresul, de revitalização da Mata Canavieira; Eduardo Campos, que incentivou a criação de Cooperativas de Fornecedores de Cana, permitindo a reativação de três grandes Usinas do Estado; Paulo Câmara, que autorizou incentivo fiscal para as usinas em processo de recuperação judicial, aos quais agradecemos os gestos de reconhecimento e apoio à multissecular saga canavieira, pilar de sustentação econômica e social do estado de Pernambuco e que continua aguardando a criação do “dia da cana-de-açúcar” que, cansada de nos carregar, agora aos 507 anos de idade precisa de ajuda em caráter emergencial.
Desta feita não mais como a mais ilustre dos pernambucanos, mas sim como bandeira do Nordeste, mesmo reduzida a menos da metade do que já foi um dia. Ainda assim, resiste obstinadamente à adversidade, resiliência ancestral de lutas. Pernambuco nasceu com a cana, irmã siamesa de nós todos.
Todo símbolo da terra e do povo precisa para ostentar seu orgulho de porta-bandeiras à altura da glória e majestade que representa, e Graças a Deus, ainda temos companheiros marcados de cicatrizes de lutas. Mas também de ternas memórias, capazes de empunhar nossa bandeira, pequeno grupo, representando os principais agentes do Setor da Agroindústria Canavieira, de faca nos dentes, lutando pela sobrevivência de Usinas, Fornecedores de Cana e Trabalhadores. Eles todos têm nome e sobrenome, que vamos evitá-los, vez que concordaram em dividir com todos nós pernambucanos os atos de heroísmo exigidos para manutenção da cana como estandarte de nosso bloco.
Por tudo isso, estamos certos de que Raquel Lyra, a segunda governadora de Pernambuco, gestora do “Estado de Mudança”, possa nos socorrer com redentora ajuda, anunciando a criação do “dia da cana-de-açúcar” bandeira de Pernambuco, antes que esta se despeça para sempre como ocorreu com o algodão, vizinho da cana no brasão do Estado.
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