Greve geral em Portugal afeta aeroportos e cancela ao menos 6 voos entre Lisboa e Brasil
Sindicatos reagem a proposta que facilita demissões e amplia contratos temporários; viagens canceladas faziam ponte entre capital lusitana e cidades como São Paulo e Fortaleza
Uma ampla interrupção atingiu nesta quinta-feira o transporte aéreo e ferroviário português, hospitais e escolas, enquanto os sindicatos convocaram a maior greve nacional em mais de uma década contra as reformas trabalhistas do governo. A principal estação ferroviária de Lisboa estava vazia, com a maioria dos serviços cancelados, e a companhia aérea nacional TAP cancelou cerca de dois terços de seus 250 voos habituais, dentre os quais estão ao menos seis voos ligando a capital portuguesa a cidades brasileiras como São Paulo, Campinas e Fortaleza.
Segundo os sindicatos, a coleta de lixo estava parada, assim como os setores hospitalares que tratam casos não urgentes. Escolas e tribunais também foram afetados.
Os sindicatos ficaram enfurecidos com uma lei proposta pelo governo minoritário de direita que, segundo eles, visa simplificar procedimentos de demissão, estender a duração dos contratos de prazo determinado e ampliar os serviços mínimos exigidos durante uma greve.
O primeiro-ministro Luis Montenegro insistiu que as reformas trabalhistas, com mais de 100 medidas, tinham como objetivo “estimular o crescimento econômico e pagar salários melhores”.
Mas os maiores centros sindicais do país, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), e União Geral dos Trabalhadores (UGT), mais moderado, criticaram duramente os planos. E a paralisação é a maior de Portugal desde junho de 2013, quando o país precisou da ajuda do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia para superar uma crise de dívida.
O secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, disse que as reformas estavam “entre os maiores ataques ao mundo do trabalho”. Ele disse à AFP que a ação do governo iria “normalizar a insegurança no emprego” e “facilitar as demissões”.
De uma população ativa de cerca de cinco milhões de pessoas, aproximadamente 1,3 milhão já está em posições precárias, disse Oliveira.
Com Portugal prestes a eleger um novo presidente no início de 2026, Oliveira afirmou considerar que a greve já era “um sucesso” mesmo antes de começar, pois havia atraído a atenção pública para as reformas trabalhistas.
A opinião pública está amplamente a favor da ação, com 61% dos entrevistados apoiando a paralisação, segundo uma pesquisa publicada na imprensa portuguesa.
Na véspera da greve, Montenegro disse que esperava “que o país funcione o mais normalmente possível... porque os direitos de alguns não devem infringir os direitos de outros”.
Embora seu partido de direita não tenha maioria no parlamento, o governo de Montenegro deve ser capaz de aprovar o projeto de lei com o apoio dos liberais — e da extrema direita, que se tornou a segunda maior força política em Portugal.
A oposição de esquerda acusou o campo de Montenegro de não dizer aos eleitores que retrocessos nos direitos trabalhistas estavam nos planos durante a campanha para as últimas eleições parlamentares.
Embora Portugal tenha registrado um crescimento econômico de cerca de dois por cento e uma taxa de desemprego historicamente baixa de aproximadamente seis por cento, o primeiro-ministro argumentou que o país deveria aproveitar o clima favorável para aprovar reformas.
Armindo Monteiro, chefe da principal confederação patronal, a CIP, condenou a greve e disse à AFP que o projeto de lei do governo era apenas uma “base para discussão”, visando corrigir o “desequilíbrio” causado pelas mudanças trabalhistas feitas por um governo anterior de esquerda.