DECLARAÇÃO

Lula diz que Trump se apoia na 'lei do mais forte': "Disse para ele que nós não queremos guerra"

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou também ataques ao multilateralismo

Lula faz declaraçaõ sobre as tensões entre Estados Unidos e Venezuela - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, em recente conversa com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, argumentou que palavras são mais poderosas do que armas e que o Brasil não quer uma guerra na América Latina. A declaração faz referência às crescentes tensões entre os EUA e a Venezuela.

Em discurso realizado em Belo Horizonte durante uma edição da chamada Caravana Federativa (política em que o presidente e seus ministros atendem prefeitos da região para ouvir demandas e sugestões), Lula mencionou o telefonema, sem citar a Venezuela ou o ditador do país, Nicolás Maduro. Trump tem pressionado o líder do regime chavista a renunciar.

— O unilateralismo que o presidente Trump deseja é que o mais forte determine o que os outros vão fazer. É sempre a lei do mais forte. Ontem, quando eu conversava com ele, ele falava para mim... Ele falou muito comigo. Eu disse: "ô Trump, nós não queremos guerra na América Latina, é uma zona de paz" — relatou Lula.

O último telefonema entre os dois líderes divulgado pelo Itamaraty foi em 2 de dezembro. O Globo questionou o Ministério das Relações Exteriores e à Presidência da República sobre a existência de uma nova conversa entre Lula e Trump, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Em seguida, Lula citou o parte do que teria sido a fala do presidente americano: "Eu tenho mais arma, eu tenho mais navio, eu tenho mais bomba".

— Eu falei (a Trump): "Cara, eu acredito muito mais no poder da palavra do que no poder da arma. Vamos tentar utilizar a palavra como instrumento de convencimento, de persuasão para fazer as coisas certas". Vamos acreditar que a palavra é a coisa mais forte para a gente resolver os problemas — disse Lula.

O presidente voltou a dizer que não quer briga com os Estados Unidos, embora tenha criticado os ataques ao multilateralismo pelo presidente americano.

— Nós estamos vivendo um momento muito importante no Brasil. A democracia no mundo não está bem. O mundo tem pouca liderança mundial. Há uma fragmentação, uma destruição da democracia, uma tentativa de colocar fim ao multilateralismo, que foi o que sustentou a paz no mundo desde a Segunda Guerra Mundial, pelo unilateralismo — disse Lula.

Pouco antes, no mesmo discurso, disse que "é preciso ter coragem" para criticar Trump e que a relação entre os países precisa ser de respeito.

— É preciso ter coragem. Quando o presidente Trump tomou as decisões que tomou contra o mundo, vocês não têm noção do medo de uma parte da elite brasileira: "ah, tem que conversar, tem que conversar, tem que conversar". Eu aprendi com a mãe analfabeta que ninguém respeita quem não se respeita. Se eu quiser ser respeitado, tenho que me respeitar. É por isso que quero ter uma boa relação com os Estados Unidos. É o país mais rico do mundo, o mais poderoso do mundo do ponto de vista tecnológico, de arma, de ciência. Não quero brigar com os Estados Unidos — afirmou.