Verão e rinite: por que as crises aumentam?
Quando falamos em rinite, a maioria das pessoas associa imediatamente o problema ao inverno. Isso acontece porque, nessa estação, ficamos mais tempo em ambientes fechados, o ar tende a ficar mais seco e os episódios de gripe e resfriado costumam aumentar. No entanto, como otorrinolaringologista, observo todos os anos um fenômeno que ainda surpreende muitos pacientes: a rinite também se intensifica, e muito, durante o verão.
O calor excessivo altera significativamente a forma como convivemos com os ambientes. Passamos a depender quase ininterruptamente do ar-condicionado, seja em casa, no carro, no trabalho ou em estabelecimentos comerciais. E é justamente aí que mora o problema. Equipamentos sem manutenção adequada acumulam poeira, ácaros e fungos, que são lançados de volta ao ar sempre que o aparelho é ligado. Para quem já tem predisposição alérgica, esse cenário é um prato cheio para desencadear sintomas.
Além disso, a brusca variação de temperatura, do sol escaldante para um ambiente gelado, é um gatilho importante para irritação da mucosa nasal. O nariz não se adapta de forma imediata a essa mudança, e a consequência é um processo inflamatório que se manifesta como entupimento, coceira, espirros e coriza. Em dias muito quentes e secos, ainda há outro agravante: o aumento da concentração de poluentes e partículas suspensas no ar, que permanecem circulando por mais tempo.
É importante lembrar que a rinite não surge “do nada”. Ela é resultado de uma reação exagerada do nosso sistema imunológico a partículas normalmente inofensivas. Quando reconhece um alérgeno, o organismo libera histamina, substância responsável por desencadear os sintomas clássicos das crises. Quanto maior a exposição aos gatilhos, maior a liberação de histamina e mais intensa a crise.
Diante desse cenário, precisamos desmistificar a ideia de que a rinite é um problema menor ou restrito ao inverno. Não é. A doença compromete sono, produtividade, bem-estar e, em muitos casos, afeta profundamente a qualidade de vida. No verão, quando teoricamente esperamos estar mais ativos e dispostos, crises recorrentes acabam limitando atividades, impedindo viagens e até prejudicando rotinas de lazer.
Por isso, adotar medidas preventivas como hidratação adequada, lavagem nasal com soro fisiológico, manutenção regular do ar-condicionado, limpeza frequente de ambientes e atenção às mudanças bruscas de temperatura é fundamental. São atitudes simples, mas que fazem diferença no controle dos sintomas.
O ponto principal é entender que alergia não tira férias. A rinite acompanha o paciente ao longo de todo o ano, e o verão tem, sim, seus próprios riscos e desafios. Reconhecer é o primeiro passo para evitar crises e buscar qualidade de vida, independentemente da estação. Os sintomas frequentes ou persistentes merecem avaliação. Cuidar da saúde respiratória é cuidar de si, todos os dias.
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