'Não sei se é bom ter Trump colado com minha imagem', diz Flávio Bolsonaro após EUA retirarem Moraes
Anúncio do governo americano gerou críticas da militância bolsonarista
O senador e pré-candidato do PL à presidência Flávio Bolsonaro (PL) colocou em dúvida se seria positivo ter o presidente americano, Donald Trump, associado à sua campanha eleitoral. A declaração, feita em entrevista ao canal LeoDias TV, vem dias depois de Washington confirmar a retirada do nome do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes do rol de sancionados pela Lei Magnistky, notícia que Eduardo Bolsonaro, irmão de Flávio, relatou ter recebido "com pesar"
Flávio negou que a retirada das sanções evidencie um enfraquecimento do clã Bolsonaro e defendeu a atuação do irmão nos Estados Unidos, para onde Eduardo se mudou em fevereiro.
— As sanções que foram impostas ao Brasil e a Lei Magnitsky não foram manipulação do Eduardo. As empresas e os cidadãos americanos perseguidos pelo Moraes sempre foram os interesses do Trump. Acreditar que o Eduardo manipula o Trump, isso não dá. Não tem nada a ver com a minha candidatura. Nem sei se é bom ter Trump colado com a minha imagem — destacou Flávio.
O comunicado da remoção dos sancionados foi publicado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos EUA sem descrever quais foram as razões para a retirada. Isso ocorreu em meio ao distensionamento das relações entre o governo de Donald Trump e a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Moraes foi incluído no rol de sancionados da Magnitsky em julho, no mesmo dia em que Trump formalizou o tarifaço de 50% contra exportações brasileiras.
A motivação citada à época foi a atuação do ministro na ação penal da trama golpista que posteriormente condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão. O ministro era acusado pelo governo Trump de promover uma "caça às bruxas" contra Bolsonaro. A retirada das sanções levou a uma enxurrada de críticas nas redes sociais por parte de bolsonaristas, que se disseram "abandonados" pelas autoridades americanas.
Na entrevista a Leo Dias, Flávio ainda afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estava “claramente desconfortável” enquanto aplaudia Alexandre de Moraes durante evento na semana passada. A declaração ocorreu após o parlamentar ser questionado se apoiaria Tarcísio como adversário de Lula na corrida pelo Planalto no ano que vem.
— Eu acho o Tarcísio um cara fenomenal. Tinha uma parte dele aplaudindo o Moraes. Sinceramente, quando vejo a cara do Tarcísio, ele está completamente desconfortável. Não é um aplaudo de concordância. É meio protocolar. Eu não aplaudiria. Teria levantado e ido embora — disse Flávio em entrevista ao jornalista Léo Dias.
O aplauso ocorreu em um evento de lançamento do SBT News na sexta-feira. Em seu discurso, Tarcísio disse que é preciso “construir a convergência” e que o debate entre diferentes ideias deve ocorrer “na arena política”.
Clima cordial
Como mostrou o GLOBO, o clima cordial adotado pelo governador com o presidente Lula (PT) e Moraes virou munição para um segmento do bolsonarismo que prefere ver Flávio como candidato a presidente em 2026.
Durante o discurso de Moraes, Tarcísio apareceu na transmissão do canal aplaudindo timidamente uma fala sobre a retirada da Lei Magnitksy pelo governo Trump. A sanção contra as autoridades brasileiras foi articulada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) como forma de tentar reverter a atuação da Corte, em especial do ministro relator do processo da trama golpista.
— A verdade venceu hoje. O presidente se recorda que, em julho, quando o Supremo se reuniu para tratar dessas sanções contra o Judiciário brasileiro, eu pedi a ele que não ingressasse com nenhuma ação, que não tomasse nenhuma medida contra isso. Porque eu acreditava, como continuei acreditando, e hoje isso fica muito claro, que no momento que chegasse às autoridades norte-americanas, a verdade prevaleceria — afirmou Moraes.