Rio de Janeiro

União Brasil troca integrante da CCJ em meio a crise envolvendo investigação de Bacellar na Alerj

Direção partidária decidiu substituir o deputado Vinicius Cozzolino pelo correligionário Marcelo Dino na Comissão de Constituição e Justiça

Alerj - A troca ocorre em meio à prisão de Bacellar e à deflagração da segunda fase de uma operação da Polícia Federal - Tomaz Silva/Agência Brasil

A crise política desencadeada pela prisão do deputado Rodrigo Bacellar (União) aprofundou divisões internas no União Brasil e levou a mudanças na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o colegiado mais estratégico da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

A direção partidária decidiu substituir o deputado Vinicius Cozzolino pelo correligionário Marcelo Dino na comissão, em um movimento que expõe o desgaste do partido desde que passou ao centro de um escândalo com desdobramentos no Legislativo e no Judiciário.

A troca ocorre em meio à prisão de Bacellar e à deflagração da segunda fase de uma operação da Polícia Federal que também levou à detenção do desembargador Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Desde então, o União Brasil enfrenta um racha interno, pressionado por disputas de espaço e pela tentativa de conter danos políticos.

Cozzolino não participou da reunião da CCJ que aprovou a soltura de Bacellar e tampouco esteve presente nas sessões plenárias em que os deputados confirmaram a decisão e manifestaram apoio ao presidente afastado da Alerj. Nos bastidores, a ausência foi interpretada como um gesto político calculado, em um momento de forte tensão entre aliados e críticos do grupo ligado a Bacellar.

O líder do União Brasil na Casa, deputado Fábio Silva, teria telefonado para Marcelo Dino para comunicar a mudança. Interlocutores afirmam que, embora a troca seja oficialmente tratada como um ajuste interno, ela reflete uma disputa mais ampla por espaço dentro do partido, que tenta reorganizar suas forças após o desgaste provocado pelo caso.

Procurado, Vinicius Cozzolino afirmou, em nota, que foi surpreendido pela informação de que teria sido substituído na CCJ, ressaltando que não houve ato formal da presidência da Alerj alterando a composição do colegiado. O deputado também destacou que, no episódio envolvendo a prisão de Bacellar, não houve aprovação de resolução do União Brasil orientando a bancada sobre a conduta de votação.

Na nota, Cozzolino frisou ainda que, desde o início do mandato, sempre atuou na CCJ de forma técnica, com rigor jurídico e observância dos princípios legais e constitucionais, contribuindo de maneira responsável para a análise das matérias em tramitação na Casa.

O União Brasil tem duas cadeiras na CCJ. Além de Dino, o partido mantém o deputado Rodrigo Amorim, presidente do colegiado e líder do governo na Assembleia, considerado hoje um dos principais articuladores políticos da Casa. Amorim integra o grupo de parlamentares alinhados a Bacellar, assim como deputados do PL, partido que atua como um dos principais aliados do presidente afastado no Legislativo estadual.

A instabilidade se espalhou pela Alerj. Pouco antes do início da única sessão plenária desta quarta-feira, o presidente em exercício da Casa, Guilherme Delaroli (PL), convocou uma reunião de líderes para tratar da pauta do orçamento e tentar reduzir o clima de incerteza entre os parlamentares, agravado pelas exonerações de cargos estratégicos ligados a Bacellar, como o diretor-geral, o procurador-geral e o chefe de gabinete da presidência.

Nos corredores do Palácio Tiradentes, deputados relatam que a direita passou a viver um processo de fragmentação. Enquanto parte do grupo tenta ocupar espaços deixados pelo enfraquecimento do entorno de Bacellar, aliados do presidente afastado buscam preservar influência política. A tensão é tamanha que alguns parlamentares da direita já admitem, reservadamente, a possibilidade de migrar para o PSD, partido do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de olho na disputa pelo governo do estado em 2026.

Deputados mais próximos a Bacellar evitam declarações públicas e têm restringido o diálogo a encontros reservados em gabinetes. A orientação interna é de cautela, enquanto o tabuleiro político da Alerj segue em rearranjo acelerado, sob o impacto das investigações e das mudanças promovidas no comando da Casa.