Eleições 2026

"Sou esse Bolsonaro mais moderado", diz Flávio após novo tour com empresários de São Paulo

Anunciado como candidato a presidente pelo pai, Jair Bolsonaro, senador aparece 10 pontos percentuais atrás de Lula no segundo turno, segundo a Quaest

Flávio viajou de Brasília a São Paulo próximo do meio-dia e participou de um evento fechado com cerca de 40 empresários, descrito por sua assessoria como "encontro com o mercado" - Andressa Anholete/Agência Senado

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro e anunciado como pré-candidato a presidente, deu seguimento nesta quarta-feira, 17, ao tour na Faria Lima, em busca do apoio do empresariado paulista e do mercado financeiro. No encontro, procurou mostrar que é um Bolsonaro "mais moderado", prometeu autonomia para a sua eventual equipe econômica de governo e argumentou que pesquisas demonstram uma candidatura "cada vez mais viável".

— Sempre pediram um Bolsonaro mais moderado, e eu sempre fui assim. Eu sou esse Bolsonaro mais moderado, equilibrado e centrado, e espero que isso se reflita, inclusive, na confiança da população de que vamos apresentar o melhor projeto para o Brasil — declarou o senador ao deixar o encontro.

Flávio viajou de Brasília a São Paulo próximo do meio-dia e participou de um evento fechado com cerca de 40 empresários, descrito por sua assessoria como “encontro com o mercado”. A reunião estava marcada para meio-dia, mas o político chegou com cerca de três horas de atraso em virtude da votação do PL da Dosimetria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O anfitrião foi Gabriel Rocha, sobrinho de Flávio Rocha, presidente do conselho do grupo que controla a Riachuelo, do qual também é acionista.

Flávio disse que o tour com os empresários serve para "acalmar a todos" que não existiria ruído na relação entre a família Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e lideranças de partidos do "Centrão", como União Brasil, PP, MDB e PSD. Ele descreveu o público ainda como "formadores de opinião" no mercado financeiro, interessados em uma postura "radical" na pauta da segurança pública e liberal na economia, com promessa de "equilíbrio fiscal".

A pesquisa preferida dos aliados de Flávio é uma do Instituto Gerp, menos tradicional no meio, divulgada na semana passada e que destoa dos principais levantamentos de opinião feitos até o momento. Ela colocou o senador empatado tecnicamente com Lula no segundo turno, com mais de 40% dos votos válidos. Foi o suficiente para causar burburinho entre operadores do mercado.

Nesta segunda-feira, 15, porém, uma pesquisa da Genial/Quaest ofereceu um termômetro mais em linha com os levantamentos anteriores. Flávio aparece à frente de governadores de direita ventilados para a disputa, incluindo Tarcísio, ainda que seja improvável que o ex-ministro de Bolsonaro aceite a corrida presidencial nessas condições. No segundo turno, Lula lidera com 10 pontos percentuais de diferença tanto para o filho de Bolsonaro quanto para o governador de São Paulo.

De acordo com a Quaest, o petista marca, neste momento, 46% das intenções de voto, contra 36% de Flávio. No confronto direto com Tarcísio, o desempenho é de 45% a 35%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Ratinho Júnior (PSD), com 35%, além de Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo), com 33%, também empatam tecnicamente com o desempenho do filho de Bolsonaro.

O ponto de maior discrepância passa pelos níveis de conhecimento e rejeição. De acordo com a pesquisa, 60% dos eleitores disseram que não votariam em Flávio e apenas 12% não sabem quem é ele. Lula tem 54% de rejeição e 2% de desconhecimento. No caso de Tarcísio, 28% afirmam não conhecê-lo e 47% descartam votar nele. Ratinho Júnior é desconhecido por 36%, número semelhante ao de eleitores que se recusam a apoiá-lo, 39%.

Ceticismo
Na semana passada, ao inaugurar o movimento de aproximação com os empresários, o senador almoçou na sede do Banco UBS, onde estiveram Flávio Rocha, dono da empresa de vestuário Riachuelo, e Richard Gerdau, da produtora de aço que leva o sobrenome da família, entre outros. Ao seu lado esteve o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Gustavo Montezano, figura de bom trânsito na Faria Lima.

O encontro foi intermediado por Filipe Sabará, ex-secretário de João Doria e um dos coordenadores de campanha de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo, no ano passado.

Como mostrou o Globo, gestores do mercado continuam em dúvida se a empreitada de Flávio é mesmo para valer, mas ouviram a promessa de um governo alinhado com o mercado financeiro. Segundo interlocutores, o senador prometeu repetir na área da economia a visão liberal de Paulo Guedes, ex-ministro da economia de Bolsonaro apelidado de "posto Ipiranga" na campanha de 2018. Argumentou ainda que iniciaria uma campanha eleitoral com "piso alto", ou seja, com uma margem de votos segura para ir ao segundo turno.

Boa parte dos economistas e gestores acredita que Tarcísio de Freitas teria mais potencial para se eleger ao Palácio do Planalto. A rejeição ao nome de Flávio foi evidenciada pelo comportamento da Bolsa e do dólar no dia do anúncio da candidatura, quando o Ibovespa despencou 8 mil pontos, equivalente a 4,35%, e o dólar terminou a sessão em R$ 5,44, maior patamar do ano.

A postura de diálogo e a busca de apoio no mercado afasta o candidato bolsonarista da narrativa "anti-establishment" que costuma ser vocalizada pelos irmãos Eduardo, deputado federal que está nos Estados Unidos, e Carlos, que renunciou ao mandato de vereador do Rio. A mesma ambiguidade ocorre com os partidos do "Centrão", colocados na prateleira dos rivais por essa ala da família, enquanto Flávio costura reuniões e tenta demonstrar viabilidade.

Flávio Rocha doou R$ 66 mil ao senador Rogério Marinho (PL-RN) na eleição geral passada, mesma quantia que outros dois familiares, e Gabriel Kanner, R$ 21 mil para Bolsonaro.