Poeta e cantador Maciel Melo recebe Título de Doutor Honoris Causa
Título foi concedido ao artista pernambucano pela Universidade Federal de Pernambuco, em solenidade realizada nesta quinta-feira (18)
Aos 90 anos, Dona Maria de Lourdes pôde assistir de perto o quarto filho (de onze) ter o título de “Honoris Causa” outorgado pela Universidade Federal de Pernambuco. Maciel Melo, cantor, compositor, poeta, violeiro e contador de causos e histórias, proporcionou a honraria à sua mãe, assim como às filhas, neto, irmão e amigos presentes na cerimônia realizada nesta quinta-feira (18) no hall do teatro do Complexo de Convenções, no Campus da UFPE Recife, Cidade Universitária.
Em meio a aplausos, sorrisos e olhos marejados, o “Caboclo Sonhador” de Iguaracy, Sertão pernambucano, admitiu lhe faltar palavras para um momento que ele chamou de “imenso”.
“É um título concedido a grandes autoridades, não imaginava que eu fosse isso tudo, não processei ainda sobre a importância de um título como esse em minha vida”, contou, à Folha de Pernambuco, o multifacetado artista que há pelo menos quatro décadas canta (e conta) sobre o Nordeste e o Sertão, em verso e prosa tipicamente entrelaçados por quem nunca separou a arte da própria vida.
“É como se eu tivesse recebendo um diploma, é uma sensação que só quem está recebendo sabe do peso e responsabilidade de uma comenda como essa, principalmente vindo de uma das universidades mais importantes do País.
Fico com o sentimento de dever cumprido e de que valeu a pena todo o esforço que fiz para resistir e ser o que sou hoje, e daqui para frente tenho que procurar fazer melhor”, complementou o agora Doutor Honoris Causa reverberado por tantos em música, e aclamado por traduzir com maestria um ver, ouvir e viver sob memórias sertanejas.
Unanimidade
“Uma trajetória belíssima, enraizada na cultura do povo, que sabe cantar suas músicas, aprecia seus versos (...). A universidade precisa fazer reconhecimento a pessoas de sua estatura e representação no campo cultural. Maciel faz um trabalho de resistência daquilo que é típico e identitário da cultura nordestina.
É uma alegria tê-lo entre os Doutores Honoris Causa, vai ficar muito bonita a imagem dele junto às demais figuras que nós já honramos com esse título”.
A fala, em tom orgulhoso, é do reitor da UFPE, professor Alfredo Macedo Gomes, que presidiu a sessão de entrega do título. Além dele, o vice-reitor Moacyr Cunha de Araújo Filho também estava na composição da mesa, junto ao prefeito da cidade natal de Maciel Melo, Pedro Alves, e Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, entre outros nomes.
Tal qual sua aprovação se deu por unanimidade junto ao Conselho Universitário, concedendo-lhe, assim, o título, a história de Maciel Melo e sua contribuição à cultura nordestina e brasileira, na música, na poesia, em trilhas de novela e programas televisivos, tem o assentimento de uma multidão, inclusive de artistas e contadores de causos, como ele.
“Com alegria e gosto presencio tudo isso, nada mais merecido. Maciel como poucos sabe fazer a verdadeira tradução da linguagem, do sentimento e da paisagem sertaneja, emocionando a todos com a verdade nordestina”, ressaltou o paraibano Jessier Quirino, que em comum ao mais novo Honoris Causa pernambucano, exalta o linguajar do Nordeste em palcos Brasil afora.
Dia importante
Para Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, presente na solenidade, representando o prefeito do Recife João Campos, o dia de ontem foi “de uma representação importante para a produção da cultura popular”, tendo Maciel como uma figura merecedora por tudo que já fez como artista.
“Ter esse reconhecimento pela universidade valida junto à sociedade pernambucana e brasileira, todos os poetas, compositores, atores, demonstrando que tão importante quanto à produção acadêmica pode ser a produção feita lá fora”, continuou Canuto.
E em sua fala, após ser decretado oficialmente um Doutor Honoris Causa, Maciel Melo - autor de cantorias como “Que Nem Vem Vem”, “Caia Por Cima de Mim”, “Terra Prometida” e a clássica “Caboclo Sonhador”, entre outras centenas de composições - entoou falas de agradecimento à família, em especial à sua mãe, que já foi cantada por ele na canção “Rainha”, integrante da trilha da global “Flor do Caribe”. Mas, por óbvio, ele trouxe também versos rimados, que desde sempre o traduzem:
“Sei que nada se perdeu por completo, ainda resta um restinho de esperança, um fiapo, uma nesga de lembrança de um passado feliz que me marcou: um poeta, um boêmio, um cantador”.