FUTEBOL

David Luiz reencontra protagonismo na Europa e brilha em campanha do Pafos na Champions

Aos 38 anos, zagueiro brasileiro marca gol, vira referência no clube cipriota e rebate desconfiança após deixar o Brasil

David Luiz é referência no Pafos - Reprodução

Aos 38 anos, David Luiz voltou a ser personagem central de noites europeias. Longe dos holofotes tradicionais do futebol continental, o zagueiro brasileiro tem sido um dos líderes da campanha histórica do Pafos FC, do Chipre, que disputa pela primeira vez a fase de grupos da Champions League e surpreende pela competitividade diante de adversários de maior investimento e tradição.

Contratado com desconfiança por parte do mercado, David não apenas assumiu papel de referência técnica e emocional no elenco, como também voltou a marcar na principal competição de clubes do mundo algo que não acontecia havia oito anos quando balançou as redes contra o Mônaco, da França, em novembro deste ano.

O gol, celebrado com emoção, simboliza mais do que um momento individual: representa a consolidação de um projeto esportivo e a resposta de um jogador que se recusou a tratar a mudança como um rebaixamento de ambição.

Tenho estado impressionado com o nível. Acho que, devido à evolução do futebol e da tecnologia, hoje todos os países se preparam muito bem. Isso proporcionou uma evolução geral, e aqui no Chipre não é diferente. É um campeonato muito disputado, e por isso a gente tem conseguido fazer bons jogos na Champions e mostrar nosso valor disse David Luiz, em entrevista ao Globo.

 

Papel de liderança
O desempenho do Pafos na Champions tem sido tratado pela imprensa europeia como um dos pontos fora da curva da competição. Inserido em um grupo considerado extremamente difícil, o clube cipriota conseguiu pontuar e competir em jogos nos quais era amplamente apontado como azarão.

David Luiz esteve em campo em partidas-chave, com alto volume de minutos, boa taxa de passes e presença decisiva nas bolas aéreas ofensivas e defensivas. O gol marcado na fase de grupos recolocou o brasileiro em uma lista restrita: ele se tornou um dos jogadores mais velhos a balançar as redes na história da Champions League. Mais do que a estatística, o momento teve peso simbólico.

Voltar a celebrar um gol na Champions foi algo inexplicável. Também pelo nível físico que tenho apresentado, por poder desfrutar com alegria dos melhores jogos do mundo. É gratificante. Eu jogo futebol porque amo futebol afirmou.

Novo capítulo
A escolha pelo Pafos, após deixar o futebol brasileiro, onde teve passagens por Flamengo e Fortaleza, foi vista por muitos como um passo lateral ou até descendente na carreira de um jogador com passagens por Chelsea, PSG, Arsenal e pela seleção brasileira. David, porém, rebate a narrativa e associa o momento atual a um processo de trabalho contínuo.

O que importa não é o que as pessoas pensam, é aquilo que a gente constrói todos os dias. Quando tive a oportunidade de vir, queria voltar para a Europa. Logo depois surgiu a chance de disputar a Champions de novo. Eu sabia de tudo que vinha trabalhando, da forma como sempre trabalhei, e isso fez as coisas acontecerem.

O discurso encontra respaldo no ambiente interno do clube. No Pafos, David é tratado como referência de profissionalismo. Segundo ele, a rotina não mudou com o passar dos anos.

Até hoje sigo a mesma linha: chegar primeiro e sair por último. Sei que só com trabalho se conquistam objetivos. Esse gol veio para presentear tudo aquilo que o Pafos vem fazendo e também o que eu tenho feito individualmente.

'Pressão sempre vai existir'
A campanha europeia do Pafos começou sob forte descrédito externo. A expectativa dominante era de uma participação protocolar, sem pontos somados. O cenário mudou rapidamente.

A pressão sempre vai existir quando se representa uma instituição. Muita gente dizia que não faríamos nem um ponto, mas conseguimos grandes jogos e pontuamos bem. Isso veio da dedicação, do trabalho e da ambição de entrar respeitando todos, com humildade, mas sabendo que algo podia ser construído.

David ressalta que, à exceção de uma partida em que o nível do adversário foi claramente superior, o time manteve competitividade.

Tirando um jogo específico, a diferença foi grande. Nos outros, performamos muito bem. Fomos consistentes.

Apesar do destaque continental, o discurso no Pafos segue ancorado no planejamento doméstico. O clube disputa o Campeonato Cipriota e a Copa Nacional, tratadas como prioridades.

Nossa meta é conquistar títulos nacionais. A Copa começa agora em janeiro. E, por que não pensar em classificação na Champions, mesmo sabendo da dificuldade? Estamos em um grupo com o Chelsea, será muito duro em Londres e também em casa. Mas vamos nos preparar da melhor forma possível.

Decisão, não peso
Ao falar sobre a saída do Brasil e o retorno ao futebol europeu, David Luiz faz questão de afastar qualquer ideia de desgaste emocional ou obrigação.

Não foi peso nenhum, foi decisão. Jogar futebol nunca deve ser um peso. Eu jogo porque amo. Voltar à Europa, jogar em alto nível de novo, era algo que eu tinha em mente. Surgiu a oportunidade, e estou muito feliz com o que estou vivendo.