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Gripe K: Ministério da Saúde confirma quatro casos no Brasil

Evidências até o momento indicam que imunizante atual continua a oferecer alta proteção contra desfechos graves; nova cepa foi identificada no Brasil e tem antecipado a temporada de gripe na Europa

Vírus da gripe se caracteriza pela rápida capacidade de mutação e pela facilidade de transmissão, lembra especialista. - Dr_Microbe/Adobe Stock

Um novo subtipo do vírus influenza, que ficou conhecido como gripe K, tem chamado a atenção de autoridades de saúde e foi, recentemente, identificado no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, até o momento há 4 casos confirmados de gripe causados pela nova cepa.

"Um importado, no Pará, associado a viagem internacional, e três no Mato Grosso do Sul, que seguem em investigação para confirmação da origem. A amostra do caso do Pará foi analisada pela Fiocruz/RJ, laboratório de referência nacional, enquanto as amostras do Mato Grosso do Sul foram processadas pelo Instituto Adolfo Lutz (SP)", diz a pasta em nota.

"Nas duas situações, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) dos respectivos estados identificaram a presença do vírus e enviaram para os laboratórios de referência nacional para sequenciamento, conforme os protocolos da vigilância", continua.

De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que analisou a amostra proveniente do Pará, o caso identificado na região Norte ocorreu ainda no final de novembro e foi de uma paciente do sexo feminino, adulta e estrangeira, oriunda das ilhas Fiji. Por isso, o caso foi classificado como importado.

Frente ao crescimento da nova cepa pelo mundo, o Ministério da Saúde também disse que intensificou as ações de vigilância da gripe, a partir do monitoramento contínuo de casos de síndrome gripal e de síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

Além disso, a pasta trabalha com a identificação e diagnóstico precoces, a investigação e notificação imediata de eventos respiratórios incomuns e o fortalecimento das medidas de prevenção, como acesso a vacinas e antivirais para grupos de risco.

O que é a gripe K?
O vírus influenza, que causa a gripe, é dividido em quatro tipos: A, B, C e D. Os tipos A e B são os que circulam e causam as epidemias sazonais da doença, geralmente ao longo do inverno. Ambos têm ainda subdivisões.

O tipo B, por exemplo, é separado em duas linhagens, a B/Yamagata e a B/Victoria. Já o influenza A tem uma série de subtipos classificados de acordo com as combinações das proteínas H e N, que ficam na superfície do vírus.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no momento, os subtipos do influenza A em circulação no planeta são o H1N1 e o H3N2. No entanto, há também diferentes variantes desses vírus, chamadas de subclados, a depender da sua composição genética.

É aí que entra a “gripe K”, um subclado do vírus H3N2 chamado oficialmente de J.2.4.1. Essas variações são esperadas e fazem parte do processo evolutivo do influenza. Por isso, a necessidade de atualizar a composição das vacinas a cada ano.

Onde a gripe K está circulando?
De acordo com o alerta da OMS, baseado em dados do GISAID, plataforma em que pesquisadores de todo o mundo registram as identificações de diferentes vírus, “houve um aumento recente e rápido” da gripe K em diferentes partes do planeta.

“As detecções de vírus do subclado K estão aumentando em muitas partes do mundo, com exceção, até o momento, da América do Sul. Os vírus do subclado K foram particularmente evidentes a partir de agosto de 2025 na Austrália e na Nova Zelândia e agora foram detectados em mais de 34 países nos últimos 6 meses”, diz.

Em comunicado, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirma que, segundo os os dados mais recentes, o subtipo “cresceu rapidamente na Europa e em vários países da Ásia, onde representa uma proporção importante dos vírus de influenza A(H3N2) analisados”. “Na América do Norte, Estados Unidos e Canadá também registram um aumento progressivo de detecção do subclado K. Até o momento, não foi observada circulação semelhante na América do Sul”, continua.

A regional da OMS para a Europa disse que mais da metade do continente enfrenta uma temporada intensa e antecipada da gripe, que começou cerca de quatro semanas antes do esperado, impulsionada pela nova cepa, “colocando os sistemas de saúde sob pressão significativa em alguns países”. Pelo menos 27 dos 38 que reportam dados à Região Europeia da OMS registram atividade de gripe alta ou muito alta.

“A nova cepa — o subclado K do A(H3N2) — está impulsionando as infecções, embora não haja evidências de que cause doença mais grave. Essa nova variante da gripe sazonal agora responde por até 90% de todos os casos confirmados de influenza na Região Europeia. Isso mostra como até mesmo uma pequena variação genética no vírus da gripe pode exercer enorme pressão sobre nossos sistemas de saúde, porque as pessoas não têm imunidade prévia contra ela”, diz Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa.

No Brasil, o Ministério da Saúda esclarece que, em 2025, foi registrado um comportamento fora do padrão do vírus Influenza A H3N2, "com aumento de casos no segundo semestre, antes mesmo da identificação do subclado K no país".

"Esse movimento começou na região Centro-Oeste e, na sequência, se espalhou para estados de outras regiões. No momento, as regiões Centro-Oeste e Sudeste já apresentam queda nos casos de SRAG associados à Influenza, enquanto Norte e Nordeste ainda registram tendência de crescimento", afirma.

A gripe K é mais grave?
Até o momento, as informações disponíveis não indicam que a gripe K seja mais grave do que a doença comum. As autoridades sanitárias dos países em que o subtipo do vírus está em circulação “não relataram mudanças significativas na gravidade clínica” da doença, segundo a Opas.

Quais os sintomas da gripe K?
De acordo com as autoridades de saúde, também não foram identificados ainda sintomas diferentes que sejam associados especificamente à versão K do vírus da gripe. Por enquanto, os sintomas seguem os mesmos de uma infecção comum. Segundo o Ministério da Saúde, são eles:

A vacina atual funciona contra a gripe K?
Segundo a OMS, embora os dados sobre o grau de eficácia da vacina especificamente contra a gripe K ainda sejam limitados, estimativas iniciais, com base nos casos do Reino Unido, apontam que a imunização continua a proteger contra doença grave, especialmente entre os indivíduos mais vulneráveis.

“Mesmo que existam algumas diferenças genéticas entre os vírus da influenza em circulação e as cepas incluídas nas vacinas, a dose sazonal contra a influenza ainda pode oferecer proteção (...). Ainda se espera que a vacinação proteja contra doença grave e ela continua sendo uma das medidas de saúde pública mais eficazes”, diz a organização em alerta sobre a linhagem.

De acordo com a OMS, a composição atual da vacina indicou ser de 70% a 75% eficaz em prevenir atendimento hospitalar entre crianças de 2 a 17 anos, e 30% a 40% entre adultos.

"As vacinas disponibilizadas pelo SUS protegem contra formas graves da gripe, inclusive as causadas pelo subclado K. Os grupos mais vulneráveis ao vírus são os mesmos já contemplados como prioritários na campanha de vacinação. A hesitação vacinal, cenário observado em países do América do Norte, contribui para a maior circulação do vírus, especialmente em contextos de baixa adesão à imunização", complementa o Ministério da Saúde.

Paola Resende, pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, que identificou o caso de gripe K no Brasil, também afirma que o imunizante atual deve oferecer uma boa proteção:

“Mesmo para quem não se vacinou durante a última campanha, vale ir até o posto de saúde mais próximo e solicitar a imunização”, diz, em nota da instituição. Além disso, destaca que, para o próximo ano, a atualização da composição vacinal recomendada pela OMS inclui cepas mais próximas do subclado K.