Na luta para evitar que Correios se torne dependente, aporte da União em 2026 segue na mesa
Governo aposta em programa de reestruturação porque não quer trazer para dentro do orçamento um volume de despesas de R$ 22 bilhões, que afetaria o arcabouço fiscal
O empréstimo de R$ 12 bilhões aos Correios cujo aval foi concedido na quinta-feira elo Tesouro Nacional garante um fôlego para a estatal cumprir com suas obrigações até o meio do ano que vem, mas a possibilidade de aporte da União segue no radar da área econômica e ainda pode ocorrer em 2026.
A grande guerra que a equipe econômica está lutando é para evitar que a empresa se torne dependente do Tesouro, o que significaria incluir dentro do orçamento R$ 22 bilhões em despesas.
A necessidade ou não de um repasse direto do Tesouro ficará mais clara à medida que o plano de reestruturação, que está em fase de finalização, for sendo implementado. Mas também se insere no contexto da aversão à ideia de a empresa ficar dependente, que poderia forçar até a uma revisão do arcabouço fiscal.
A estratégia do governo é que o programa consiga trazer robustez à empresa por uma combinação de parcerias e medidas de ajustes do lado dos gastos, de tal forma que, em dois ou três anos, ela esteja em condições até de abrir o capital em oferta de ações ao mercado.
Mas esse é um cenário que depende de muitas variáveis a longo prazo. No curto prazo, a direção da companhia, hoje sob o comando de Emmanoel Rondon, precisa colocar de pé questões mais urgentes, como o Programa de Demissão Voluntária (PDV).
Na visão da equipe econômica, a necessidade de redução da folha de pessoal de R$ 14 bilhões anuais é um dos principais desafios e não se descarta um processo de demissão normal, sem incentivo, caso o PDV fracasse.
Outra perna do programa de reestruturação é a celebração de parcerias. O governo vê um potencial enorme de geração de receitas neste flanco. Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que uma delas poderia ser feita com a Caixa Econômica Federal.
O GLOBO apurou que entre as potenciais sinergias entre o banco estatal e a empresa de entregas seria a rentabilização dos ativos imobiliários por meio de fundos imobiliários. Outra possibilidade de parceria entre as duas instituições seria pelo uso da estrutura de agências, como já foi feito no passado com os correspondentes bancários.
Há muita clareza no governo de que é preciso garantir o papel dos Correios na universalização dos serviços postais. Isso é muito mais que a entrega de cartas comuns, explica um interlocutor. A empresa, por exemplo, tem papel relevante na entrega de notificações judiciais, cobrança de dívida por parte do Fazenda Nacional, entre outros aspectos.
Ainda que eventualmente seja necessário para o governo bancar o subsídio pelo serviço de universalização, a intenção primária é fazer com que a empresa, com esses ajustes e ampliação das receitas próprias, consiga por si só financiar esses serviços.