Além do Natal: como manter a solidariedade viva o ano inteiro
Especialistas explicam atitudes e valores que promovem empatia, generosidade e boas práticas advindas do 'espírito natalino'
O período natalino é marcado por atitudes de caridade, ações sociais e fraternidade que abrilhantam a época que comemora o nascimento de Jesus e o findar de mais um ano. Famílias e amigos se reúnem em encontros marcados por intensidade, emoção, perdão e afeto, com troca de presentes e planejamento para o novo ano. São expressões do chamado “espírito natalino”. É fundamental, contudo, que os bons feitos sejam práticas constantes durante todo o ano, com atitudes simples. Entre tantos gestos, o hábito de trocar cartões ou dizer "obrigado por estar na minha vida" pode estreitar laços e formar grandes amizades.
Memória
O psicólogo clínico Filipe Pedro afirma que esse tempo desperta maior sensibilidade nas pessoas, porque ativa símbolos profundamente ligados à família, ao afeto, ao pertencimento e às memórias da infância, longe das tecnologias e da correria diária.
“É uma data que convida à pausa e à reflexão sobre o ano vivido, favorecendo o contato com emoções como empatia, gratidão e compaixão. Além disso, há um forte contágio emocional coletivo, reforçado por campanhas solidárias, mensagens de esperança e narrativas que estimulam o cuidado com o outro”, explicou.
Gestos empáticos
Do ponto de vista psicológico, a doação fortalece a empatia e a consciência social, reduz o foco excessivo nos problemas e contribui para a saúde mental, ajudando a diminuir o estresse e a ansiedade.
“A doação traz benefícios não apenas para quem recebe, mas também para quem doa. Ao ajudar alguém, o cérebro ativa áreas relacionadas ao bem-estar, promovendo sensações de prazer, conexão e propósito”, complementou.
Fraternidade em meio à polarização política
Com a chegada de um ano eleitoral e das expectativas sobre quem vai comandar os Executivos local e nacional, há confrontos de ideias entre pessoas que defendem lados diferentes. Mesmo havendo esses campos discordantes, é preciso primar pelas relações humanas.
O que fazer para evitar conflitos desnecessários?
O cientista político Rudá Ricci aconselha que, diante destas e outras épocas, é necessário evitar tratar de temas conflituosos que causam divisão, principalmente na esfera política.
“Nos Estados Unidos isso se chama calcificação. Acontece quando a polarização atinge um grau de emocionalismo e identidade tão forte que propaga uma diferença intransponível entre as duas partes. Na política, ela parte para diversos campos, de tal maneira que inviabiliza qualquer conversa, por exemplo, num almoço de domingo. O melhor é fazer um pacto para não se falar sobre isso”, aponta ele.
“No segundo caso é mais grave, porque a calcificação impede que você coloque até mesmo valores morais, porque ele já entra no esquema da disputa e da negação do outro”, complementa.
Prioridades
Ainda do ponto de vista de Ricci, o Brasil precisa amadurecer e voltar os olhares para o que realmente importa.
“[O povo] é idólatra. Fala que é a melhor música do mundo, é o melhor cantor. Se morre algum famoso, a pessoa fala: ‘Agora acabou o mundo, é a maior perda da história’. Nós trabalhamos com hipérboles o tempo inteiro. Vários reis e rainhas [...] Falar nisso num país que não tem monarquia é uma projeção infantil de conto de fadas”, acrescenta.
“No fundo, o brasileiro acredita pouco em si e nos pares [...] Ele tem que amadurecer para perceber que tem coisas muito mais graves e importantes do que ficar defendendo, pondo a mão no fogo por uma pessoa", finaliza.