ENTREVISTA

Tulipa Ruiz comenta sobre projeto intimista em temporada na Caixa Cultural Recife

Em entrevista à Folha de Pernambuco, cantora e compositora fala sobre o projeto "Noire", concebido na pandemia, sua relação com Pernambuco, entre outros assuntos

Tulipa Ruiz apresenta show intimista ao lado do irmão, Gustavo Ruiz - OneRPM Studios/Divulgação

Uma série especial de cinco shows, desta sexta (26) até 29 de dezembro, na Caixa Cultural Recife, marca o retorno da cantora e compositora paulista Tulipa Ruiz ao Recife após dois anos sem se apresentar na capital pernambucana. 

Em formato intimista com voz e violão, a artista apresenta - ao lado do irmão e produtor Gustavo Ruiz - a essência do projeto “Noire”, inspirado pela live “Tulipa Noire”, dirigida pela cineasta Laís Bodanzky durante a pandemia, revisitando canções com foco nas letras e melodias originais. 

“Tulipa Noire”
A apresentação, gravada na histórica Casa de Francisca, explorou o universo estético do preto e branco e a atmosfera de magia do Palacete Tereza, ressaltando a delicadeza e a profundidade do repertório de Tulipa.

O espetáculo “Noire” destaca o repertório da artista em sua forma mais pura e emocionante, valorizando releituras que exploram nuances literárias e musicais, já apresentado em turnês pela China, Europa e Brasil.

“Esse show não acontece sempre porque na maior parte do tempo estou em turnê com a banda. Ele é um show para ocasiões e lugares especiais”, avalia Tulipa.  

Curta temporada
A temporada tem início na sexta-feira (26), às 20h, segue com duas sessões no sábado (27), às 17h e 20h, e encerra com apresentações no domingo (28), às 17h, e na segunda-feira (29), às 20h. Os ingressos estarão disponíveis no site da Caixa Cultural. A turnê conta com produção da Banalíssima Arte e realização da Circuito Arte. 

Tulipa Ruiz,Uma das vozes mais marcantes da música brasileira contemporânea é “cantautora” e ilustradora, conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa com “Dancê” (2015) e foi indicada ao prêmio de Melhor Artista Revelação. 

Com cinco álbuns lançados e participações em projetos nacionais e internacionais, Tulipa consolidou sua carreira em palcos e festivais ao redor do mundo, além de atuar nas artes visuais e na moda autoral.

Tulipa Ruiz apresenta, ao lado do irmão Gustavo Ruiz, show intimista inspirado no projeto "Tulipa Noire" Foto: OneRPM Studios

ENTREVISTA

Tulipa, esse show, mais intimista, acústico, com nuances literárias, foi concebido e inspirado na live “Tulipa Noire”, realizada no período da pandemia. Gostaria que você pudesse falar um pouco da concepção do projeto e como ele foi se transformando ao longos dos anos após a reabertura do isolamento e ganhando corpo para se tornar um espetáculo.

Não se trata exatamente do meu novo show e sim do nosso formato mais antigo. E também da nossa tecnologia mais avançada. Voz e violão. Gogó y guitarra. O nome “Noire” é por conta da live realizada na pandemia, na Casa de Francisca em São Paulo, dirigida pela cineasta Laís Bodansky, que aconteceu neste formato, com este corpo.

Foi uma live em branco e preto com direção de fotografia, cenário, que aconteceu em um momento onde pudemos experimentar linguagem. Antes disso o desafio era apenas de transmissão. O nome veio por conta dessa atmosfera cinematográfica e pelo fato de meu nome ser Tulipa. Minha mãe, na adolescência, viu um filme chamado La Tulipe Noire e guardou esse nome.

Esse show é chamado de Noire porque revela uma das fotos desse formato. Gosto de dizer que essa é a nossa formação mais radical, é como se fosse um parkour. Podemos ir para qualquer lado que a música quiser, não existe a convenção dos mapas, dos arranjos fechados. Esse show não acontece sempre porque na maior parte do tempo estou em turnê com a banda. Ele é um show para ocasiões e lugares especiais.  

A iluminação e a estética “noire” está presente no show como conceito. Quais as referências artísticas que você buscou para esse trabalho? 

Sim, o nome do show veio a partir de um filme e a plasticidade do show tem a fotografia do cinema noir como ponto de partida, por conta do brilho e contraste. O conceito de brilho e contraste tanto na imagem quanto no som. A inspiração para esse show é o cinema. Não exatamente como escola, mas como estado de imersão. 

Recife sempre está na rota de suas turnês ao longo de sua carreira. Como é tua relação com a cidade e com Pernambuco, tanto afetiva quanto musical? 

Amo muito, tenho muitos amigos. Cresci no sul de Minas e quando era adolescente vi a apresentação de um coral de Olinda em um encontro de corais que acontecia na minha cidade, São Lourenço. Nesse coral tinha um garoto tocando alfaia e eu nunca tinha visto aquele instrumento, achei lindo. Incrível.

Fiz amizade com o garoto, que é o Yuri Rabid, da Academia da Berlinda. Ele me mostrou vários sons, como Rage Against the Machine e Kaiowas, do Sepultura, além de várias bandas pernambucanas. Me mandou uma camiseta do Abril Pro Rock e foi assim que conheci os festivais e fiquei ligada na galera daí. Na tal antena parabólica que capta os trem tudo.

Logo depois tive um programa de rádio chamado Maracatu Atômico, na rádio comunitária de São Lourenço. A abertura era um mixagem que fiz com durex e fita do Mautner e do Chico cantando o standard. Minha primeira vez em Recife foi de galera. Peguei carona no bonde do meu irmão, que foi tocar no carnaval com sua banda da época, a DonaZica, que também tinha a Anelis Assumpção, a Iara Rennó.

Tinha acabado de mudar pra São Paulo para fazer faculdade, mas já conhecia a Anelis porque nossos pais, Itamar Assumpção e Luiz Chagas, tocavam juntos. Conheci muita gente nesse carnaval. Isa e Catarina do Amparo, Siba, Badé do Ambrosio, Otto. A Karina Buhr eu já conhecia do Teatro Oficina, uma das primeiras coisas que meu pai me levou pra fazer em São Paulo foi ver os Sertões, onde ela era atriz.

Depois meu irmão começou a tocar com Junio Barreto, Juninho foi uma das primeiras pessoas que me chamou pra cantar. Meu pai tocou com Ortinho, com Karina. Gustavo me apresentou o Vítor Zalma, artista gráfico recifense que rapidamente virou amigo e eu chamei Zalma pra desenhar no songbook do Itamar que meu pai estava fazendo.

Zalma me apresentou Sabiá Sensível, banda pernambucana da minha amiga Anaira Mahin. China, tempos depois, me chamou pra ilustrar o livro dele, onde conta a viagem com seu cachorro de São Paulo até o sertão. Nosso amigo olindense e filósofo Abel Menezes tem um cajazeiro no quintal chamado Gustavo Ruiz. Tudo isso pra dizer que a minha relação com Pernambuco é cheia de afetos e admiração e Recife sempre estará na minha rota. 

Em relação a novos projetos de álbuns/singles e outras produções, tem algo no horizonte para nos antecipar?

Acabo de voltar de uma turnê grande na China, onde também iniciamos a produção de um documentário sobre essa experiência tão intensa. Em 2026, além de produzir esse filme, farei com minha banda a turnê de encerramento de Habilidades Extraordinárias, meu último disco, que por sinal ainda não passou por Recife. Também entrarei em estúdio para gravar disco novo.


SERVIÇO:
Tulipa Ruiz, com o show “Noire”
Onde: Caixa Cultural Recife - Av. Alfredo Lisboa, 505, Recife
Datas e horários: 26/12 (sexta-feira), às 20h; 27/12 (sábado), às 17h e 20h; 28/12 (domingo), às 17h; e 29/12 (segunda), às 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada para clientes Caixa e casos previstos em lei), à venda a partir das 12h do dia 19/12/25 no site da Caixa Cultural.
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos
Duração: 90 minutos
Informações: Site da Caixa Cultural Recife
Instagram: @caixaculturalrecife