Novos documentos sobre o caso Epstein contêm inúmeras referências a Trump
Departamento da Justiça emitiu rapidamente uma declaração defendendo o presidente de 79 anos
O nome de Donald Trump aparece inúmeras vezes em uma leva de documentos do processo sobre Jeffrey Epstein publicada nesta terça-feira (23), que ilustra os vínculos do presidente dos Estados Unidos com o criminoso sexual, encontrado morto na prisão em 2019.
O Departamento de Justiça americano afirmou que alguns desses arquivos, um dos quais mostra que o presidente teria viajado várias vezes no jato privado de Epstein, continham alegações "falsas e sensacionalistas".
"Se tivessem um pingo de credibilidade, sem dúvida já teriam sido usadas como arma contra o presidente Trump", declarou no X o departamento.
O mandatário de 79 anos, que não foi acusado de nenhum crime ligado a Epstein, passou a manhã desta terça em um de seus campos de golfe na Flórida e não reagiu de imediato à divulgação dos 11.000 novos documentos.
O Departamento de Justiça já havia publicado na sexta-feira cerca de 4.000 arquivos relacionados ao caso, mas não todos, como exige a Lei de Transparência dos Arquivos de Epstein (EFTA, na sigla em inglês), aprovada por unanimidade pelo Congresso.
Em declarações a jornalistas na segunda-feira, Trump insistiu em que não aprovava a divulgação dos arquivos porque poderia prejudicar pessoas inocentes. "Todo mundo era amigo desse cara", afirmou.
Oito viagens
Epstein era acusado de ter montado uma vasta rede de exploração sexual de jovens meninas. Segundo as autoridades, suicidou-se na prisão em agosto de 2019, antes de ser julgado por esses crimes.
Mais de dez anos antes, o financista havia sido acusado na Flórida de recorrer aos serviços de prostitutas menores de idade e condenado em 2008 a uma pena de prisão de 13 meses em regime especial, segundo um acordo com um promotor que evitou que recebesse acusações em âmbito federal.
Trump reconhece ter convivido com o financista na década de 1990, quando ambos eram figuras do jet set nova-iorquino, mas diz ter rompido os laços com ele antes de seus problemas com a Justiça.
O presidente americano, que tentou sem sucesso impedir a publicação integral do dossiê Epstein, afirma ainda que a relação entre os dois não era muito próxima.
Carta "falsa"
Outros dois novos documentos chamaram a atenção nesta terça-feira. O primeiro deles é uma carta atribuída a Epstein e dirigida a Larry Nassar, ex-médico da equipe americana de ginástica condenado à prisão perpétua por centenas de agressões sexuais.
A carta parecia ter sido enviada em agosto de 2019, mês em que Epstein se suicidou. O Departamento de Justiça afirmou em comunicado que o FBI “confirmou que a suposta carta de Jeffrey Epstein a Larry Nassar é falsa”. Indicou que tinha um carimbo postal de três dias após a morte de Epstein, e que foi depositada no sistema postal da Virgínia, enquanto o ex-financista estava preso em Nova York.
No texto, Epstein supostamente reclama que ele e Nassar estavam presos enquanto o presidente compartilhava o "amor" deles "por garotas jovens e bonitas". E continua: "Quando uma bela jovem passava, ele adorava 'passar a mão'."
Outro documento de destaque é uma troca de e-mails em 2019 entre agentes do FBI que mencionam a existência de dez supostos "cúmplices" de Epstein nos Estados Unidos.
"O Departamento de Justiça deve lançar mais luz sobre quem estava na lista, como estavam envolvidos e por que decidiu não processar" essas pessoas, reagiu nesta terça o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer.
O vice-procurador-geral, Todd Blanche, atribuiu o atraso na publicação dos documentos à necessidade de proteger as identidades das mais de 1.000 vítimas de Epstein.
O primeiro lote de materiais divulgados incluía fotos do ex-presidente democrata Bill Clinton e de outros nomes famosos, como os astros da música Mick Jagger e Michael Jackson, que também visitavam Epstein.
Clinton afirmou não ter nada a esconder e pediu ao Departamento de Justiça que publicasse todo material relacionado a ele.
Em outros documentos divulgados, alguém que parece ser o ex-príncipe britânico Andrew conversa com Ghislaine Maxwell, ex-namorada e colaboradora de Epstein, sobre a organização de encontros com "amigos impróprios".
A correspondência data de 2001 e 2002 e foi enviada de uma conta que assinava como "A". Embora não apareça nomeado explicitamente, o irmão do rei Charles III teve seus títulos reais retirados após o escândalo.
Ghislaine Maxwell, condenada em 2022 a 20 anos de prisão por crimes de exploração sexual, continua sendo a única pessoa condenada em conexão com o caso Epstein.