Melhor lance de Mão foi agarrar a chance de mudar de vida
Goleiro da seleção brasileira de beach soccer viveu infância humilde e venceu as adversidades através do esporte
Vestir a camisa da seleção brasileira faz parte da rotina de Jenílson Brito Rodrigues, mais famoso pelo apelido Mão, há mais de uma década. É dele a responsabilidade de fechar o gol nacional, obrigação cumprida com louvor e que já rendeu cinco títulos da Copa do Mundo, seis do Mundialito, três da Copa Intercontinental e outros tantos em torneios continentais, além de quatro importantes premiações individuais por destaque na posição - a mais recente delas neste sábado (4), quando foi eleito Melhor Goleiro da Copa Intercontinental 2017.
Aos 38 anos, ele completou 300 jogos pelo Brasil durante a Copa Intercontinental de Dubai, que está sendo realizada nos Emirados Árabes. Número tão expressivo quanto a realização dele em ter conseguido transformar o sonho juvenil em profissão de fato. Para o menino nascido e criado em Santo Antônio, região vulnerável de Vitória (ES), ser goleiro era uma arte, mas conseguir entrar no esporte era um desafio.
“Pedia para entrar nas escolinhas da comunidade, não tinha condições de pagar. Era garoto de rua, não tinha chances em projetos sociais. Aí entrei em uma quadra lá, o cara me viu pulando na bola e me convidou. Não tinha dinheiro pra comprar tênis, nem nada. Mas fui crescendo”, conta ele, que iniciou no futsal.
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A certeza de que era o esporte que mudaria o seu destino veio com a perda do pai, encontrado morto em um lixão depois de anos de alcoolismo. “Foi um divisor de águas. Hoje é engraçado, mas minha mãe questionou o que faria da minha vida depois que enterramos meu pai. Perguntei se ela ia me bater e ela disse que não. Então falei que queria ser goleiro de futebol. Ela me deu uma surra e falou que, a partir dali, eu ia viver minha vida. Tinha 16 para 17 anos”, recorda Mão, que, desde então, deixou a casa humilde em Vitória para ganhar o mundo.
Depois de jogar campeonatos locais, regionais e nacionais com a seleção capixaba, Mão chegou à seleção brasileira em 2004, convocado para um torneio em Montevidéu, no Uruguai. Na temporada seguinte, então como terceiro goleiro, iniciou a preparação com o grupo para a Copa do Mundo de 2006, ano em que se tornou campeão do evento pela primeira vez e que também passou a ter oportunidades como titular no gol brasileiro, chance a qual abraçou com unhas e dentes.
Viveu anos áureos, atravessou momentos difíceis e é parte importante no soerguimento da modalidade em território nacional. A seleção chegou a fez títulos conquistados de forma sucessiva e invicta entre 2016 e 2017.
Exemplo fiel da excelente ferramenta que é o esporte, da sua capacidade de mudar perspectivas, Mão retribui o que ele lhe proporcionou oferecendo oportunidades para quem, assim como ele um dia, não tem tantas condições. Comanda 14 projetos em comunidades diferentes do município de Serra, no Espírito Santo.
“Saí de Vitória porque a própria comunidade que eu residia não acreditava que eu me tornaria atleta de alto rendimento, me viam como um dos próximos bandidos mais perigosos do bairro. E o esporte é uma ferramenta poderosa. Hoje, como professor, procuro levar isso para os meus alunos”, afirma ele, que tem ainda uma parceria para bolsas de estudos com a universidade na qual se formou em Educação Física e trabalha como coordenador dessa área.
“Vou começar agora no curso de Direito”, conta, orgulhoso, o pai de Jefferson, que já lhe deu um neto, Lara e Davi, frutos da união com a esposa Maurielle. “O maior legado que meu pai deixou é a importância da família e que caixão não tem gaveta. Não levamos nada depois que partimos e, por isso, busco compartilhar um pouco do que o esporte me deu dando ferramentas para que outras pessoas também possam mudar de vida. Mas, claro, é preciso querer mudar de vida.”