Aos 89 anos, Hotel Central é tombado

Solicitação foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC)

Hotel Central - Arthur de Souza

Um dos ícones da arquitetura recifense do século 20, sede de eventos gloriosos da sociedade pernambucana, teve finalmente seu pedido de tombamento aceito. De características ecléticas, o edifício que abriga o Hotel Central, localizado no número 209 da avenida Manoel Borba, esquina com a rua Gervásio Pires, no bairro da Boa Vista, área central da Capital, teve a solicitação aprovada por unanimidade pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC).

De acordo com o parecer do conselheiro Rodrigo Cantarelli, relator do processo relacionado ao prédio, o exame elaborado pelo corpo técnico da Gerência de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe concluiu que o Hotel Central “foi a primeira construção do gênero de grande porte em Pernambuco e foi palco, durante décadas, de um sem número de eventos sociais envolvendo não só a sociedade recifense, mas de todo o Estado, que de alguma maneira possuem ligações afetivas com o lugar”.
Para entender o glamour que permeava o Hotel Central em seus anos áureos, basta lembrar alguns de seus hóspedes mais famosos: o ex-presidente da República Getúlio Vargas, o cineasta americano Orson Welles e a cantora e atriz Carmen Miranda. A tripulação do dirigível alemão Graf Zeppelin, que por diversas vezes atracou no campo do Jiquiá, na Zona Oeste da Cidade, também se hospedava lá.

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A avaliação para o tombamento ainda levou em conta que, embora o edifício já “esteja inserido numa área de preservação municipal, a Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEPH) 08 - Boa Vista, desde 1980, a quadra fronteiriça ao Hotel Central, segundo a mais recente legislação aprovada pela Prefeitura da Cidade do Recife, possui índices urbanísticos altíssimos que poderiam permitir construções que causem interferência na ambiência e na visibilidade do bem em questão”.

O tombamento, de acordo com o relator, além da importância cultural para Cidade, é um marco inegável desse tipo de construção no Estado por haver inaugurado “um novo padrão para a verticalização das cidades pernambucanas que, adaptado pelo mercado imobiliário, repete-se até hoje (...) e que só foi possível de ser realizado graças à adoção do concreto armado associado ao uso de elevadores, provavelmente um dos primeiros instalados na Cidade”.

A iniciativa de construção do edifício partiu do empresário greco-suíço Constantin Aristide Sfezzo. A ideia inicial era construir um prédio de apartamentos para aluguel voltado para estrangeiros que se instalavam no Recife na segunda metade da década de 1920. Após uma contraproposta do empresário George Kyrillos - dono do Palace Hotel, na vizinha praça Maciel Pinheiro -, Sfezzo requalificou o objetivo do projeto transformando-o em um hotel de luxo.

Com 35,74 metros de altura - na época, considerado um arranha-céu - o Hotel Central foi inaugurado em 31 de outubro de 1928 - um ano e 15 dias após o início das obras - com seis apartamentos de luxo e 80 quartos, além de bar, restaurante, barbearia, perfumaria, salão para senhoras e um terraço na cobertura com uma privilegiada visão panorâmica da Cidade.

Mas nem tudo foi glamour na história do Hotel Central. A partir de meados da década de 1950, o empreendimento enfrentou anos de decadência. O fato, contudo, jamais alterou sua finalidade. A determinação dos empreendedores que assumiram o negócio ao longo dos anos permitiu que o hotel chegasse a seus quase 90 anos com sua fachada revitalizada, com recursos do Fundo de Cultura (Funcultura).