Novos esportes olímpicos enfrentam amadorismo no Brasil
Escalada esportiva, caratê, beisebol/softbol, skate e surfe carecem de modernização e investimentos no País
Cinco esportes ganharam o privilégio de fazer parte do seleto programa dos Jogos Olímpicos na edição do evento em Tóquio, em 2020. No Brasil, contudo, o ingresso de escalada esportiva, caratê, beisebol/softbol, skate e surfe nessa lista não deu novo status a essas modalidades, que lidam com uma realidade de amadorismo. As confederações que os regem são compostas basicamente de voluntários, se pagam com taxas de inscrição de campeonatos e nunca tiveram patrocínios vultosos.
A partir de 2018, elas passarão a receber verba da Lei Piva (repasse de 2,7% da renda bruta das loterias para o esporte), já que foram filiadas ao Comitê Olímpico do Brasil. No próximo ano, ganharão R$ 719.696,97 de forma direta e poderão apresentar projetos adicionais para a campanha para 2020. Ainda assim, consideram haver pouco tempo para capitalizar o investimento.
Skate e surfe são, atualmente, esportes nos quais o Brasil tem obtido resultados expressivos internacionalmente. Internamente, porém, ainda há muito a fazer em estruturação. O caratê, embora tenha rendido medalhas em eventos continentais ao País, enfrenta muitas dificuldades, enquanto as demais modalidades não têm tanto apelo nacionalmente.
Escalada
A ABEE (Associação Brasileira de Escalada Esportiva) é sediada na casa da presidente, a ex-atleta Janine Cardoso, que também faz as vezes de diretora-executiva. Mais quatro pessoas, voluntárias, ajudam na direção. Nasceu em 2014, como uma dissidência da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada.
“A nossa movimentação financeira é R$ 15 mil por ano. Com isso pagamos a federação internacional (750 euros) e organizamos competições”, afirmou Janine à reportagem. A situação é tão complicada que a compra de uma impressora é vista como conquista. São cerca de cem atletas profissionais registrados na ABEE em todo o Brasil, com uma taxa anual de R$ 140. Os principais polos do esporte estão em Minas Gerais São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Com o repasse da Lei Piva, Janine quer alugar uma sede, contratar um gerente de projetos e remunerar a si e a equipe. “Já pus muito dinheiro do bolso nesse esporte”, disse. Apesar de motivada, ela reconheceu a dificuldade de ter um atleta do país em Tóquio, já que serão 20 vagas para cada gênero, e os brasileiros competirão contra todos das Américas por elas.
Beisebol e Softbol
Será difícil ter brasileiros no beisebol e softbol que foram do programa olímpico até 2008. Os torneios em Tóquio devem ter oito equipes apenas. No caso do beisebol, dois classificados sairão do campeonato Premier 12 - espécie de Mundial - e outros seis de seletivas. O Brasil brigará com potências da região como EUA, Cuba e Panamá por duas vagas.
A CBBS (confederação nacional de beisebol e softbol) é presidida por Jorge Otsuka e até 2008 recebia verba da Agnelo Piva. Hoje, vive da parceria com a MLB (liga americana de beisebol), que ajuda a manter jogadores em um centro de treinamento em Ibiúna - o CT é bancado pela Yakult (R$ 30 mil mensais). A CBBS organiza anualmente a Taça Brasil, praticamente bancada pelos 16 clubes participantes - as taxas de inscrição vão para a confederação. Para economizar, o título é definido em um só final de semana.
Caratê
Embora já tenha rendido ao Brasil 35 medalhas em Jogos Pan-Americanos, o caratê não vê situação mais fácil. Segundo o diretor técnico William Nascimento, a CBK (confederação brasileira) vive “muita dificuldade financeira” e isso impacta diretamente os atletas, que têm de pagar do bolso passagens para competições sul-americanas e até mundiais. Sem patrocinadores, a CBK se vale de receita obtida com exame de faixa dos praticantes para, entre outras coisas, manter sua sede em Fortaleza, que tem seis funcionários. Para outorgar uma faixa preta, ela cobra R$ 450. Nascimento disse que ao menos vários competidores recebem o Bolsa Atleta. "A ideia é que, a partir de agora, eles não tenham mais que pagar."
Skate
A CBSk (Confederação Brasileira de Skate) não possui sede, mas quer se alicerçar no status de seus representantes. Em setembro, Bob Burnquist foi eleito presidente e indicou Sandro Dias, o Mineirinho, como diretor. A meta é lançar um circuito profissional no País em 2018. Em 2017, o Brasil obteve pódios em eventos internacionais com Pedro Barros, Letícia Bufoni e Kevin Hoefler. “Buscamos patrocinadores e temos a ambição de ser o esporte com mais medalhas em uma só Olimpíada [do Brasil]. Queremos cinco”, disse o vice da CBSk, Eduardo Musa. “'Nossa pretensão é contar com 0% de dinheiro público e estruturar a seleção. O skate nunca precisou da CBSk para viver.”
Surfe
Na teoria, a situação do skate poderia se aplicar ao surfe, já que o Brasil tem vários nomes na elite da liga mundial, como Gabriel Medina e Adriano de Souza, que se mantêm sem ajuda de confederação. Porém, a confederação vai no sentido oposto. Adalvo Argolo, seu presidente desde 2010, disse que a entidade cuida só de categorias de base. Sem patrocínio, faz a montagem das seleções Júnior, mas, em geral, os atletas bancam as suas viagens. Mesmo com a Lei Piva ele acredita ser difícil implementar mudanças, embora Medina tenha expressado desejo de ir a Tóquio. “Com R$ 719 mil, não há condição de fazer nada no sentido de levar seleções para Mundiais.”