Relação abusiva retratada com complexidade no livro 'É assim que acaba'

Escritora Colleen Hoover baseou a obra na convivência de seus pais

Livro de Colleen Hoover conta história triste que envolve violência doméstica - Divulgação

A cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física no Brasil. Os dados são do Instituto Maria da Penha, de 2017, que traz outros igualmente alarmantes: a cada 22,5 segundos, uma mulher é vítima de espancamento ou tentativa de estrangulamento; a cada 6,3 segundos, uma mulher é vítima de ameaça de violência. O relógio continua rodando e somando mais vítimas.

Nesse contexto, chega a ser impossível frisar a importância da chegada nacional de um livro como "É Assim Que Acaba", da autora Colleen Hoover, publicado pela Galera Record, que traz uma narrativa poderosa, complexa e dolorosa pela sua honestidade.

Na história, conhecemos Lily Bloom, uma mulher que acabou de perder o pai e tenta se recuperar de seu velório. Ao contrário do sentimento de luto que a maioria das pessoas tende a sentir ao perder um pai, Lily se sente aliviada.

Acontece que, durante toda a sua vida, ela testemunhou a relação de violência que existia entre seu pai e sua mãe. Testemunhou gritos, murros, tentativas de estupro, espancamentos. Por isso, Lily se promete uma coisa: nunca se deixará entrar numa relação abusiva, nunca se deixará chegar onde sua mãe chegou.

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A beleza (uma beleza triste) do livro é essa: Lily, mesmo que tenha tido uma vida de preparação para reconhecer comportamentos abusivos e ter plena certeza de não ser capaz de se ver como vítima de violência doméstica, começa a sofrer de tal violência. Os chamados “acidentes”, em que seu namorado perdeu a cabeça durante um momento de raiva, explodiu, mas, na verdade, não queria machucá-la, em que aconteceu tudo rápido demais e sem querer. Assim, Lily se vê empurrando seu limite mais a fundo, se convencendo que ele é uma pessoa boa, sabendo que talvez esteja indo no mesmo caminho que sua mãe.

"É Assim Que Acaba" é um livro carregado. De tristeza, culpa, solidão, desesperança. Assim como Lily, o leitor consegue perceber quantas nuances existem em uma relação na qual a violência está presente, o quanto é difícil deixar a pessoa amada, quebrar o ciclo da violência quando ele inclui a pessoa com quem você compartilha uma vida. Não há caracterização em preto e branco, e isso é muito importante para que o livro seja entendido — e sentido — por todos. Não é fácil julgar uma relação abusiva, tudo é muito mais profundo e complexo do que uma terceira pessoa consegue ver, e Colleen Hoover transmite isso através de seus personagens cheios de camadas.

A autora consegue passar essa dor com maestria, fazendo o leitor se apaixonar por uma relação para, logo depois, vê-la ruir. A frustração toma conta, o sentimento de que tudo poderia ser diferente, mas foi estragado. A história, baseada na realidade da própria Colleen com seus pais, é de apertar o coração. Principalmente quando percebe-se que, para além da literatura, da ficção, a violência doméstica ainda é a responsável pela morte de cinco mulheres por hora ao redor do globo (dados da ONG Action Aid, em 2016).


Serviço
"É assim que acaba"
Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Páginas: 368 páginas
Preço médio: R$39,90 (físico), R$ 27,90  (ebook)