Terror, susto e drama familiar em 'Um lugar silencioso'
Filme estreia nesta quinta-feira (5) no circuito nacional. É um exemplar de cinema de terror que recorre ao som como elemento fundamental do susto
O cinema de terror tem regras que pela repetição tornaram o gênero reconhecível e cativante, códigos que sugerem formas de entender o enredo, antecipar sustos e aumentar a tensão.
O filme "Um lugar silencioso", que entra nesta quinta-feira (5) em cartaz no circuito nacional, vai além: a partir de características que fundamentam o terror, constrói uma história impactante, um drama familiar sobre perdas, ausências e feridas que não cicatrizam.
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É um filme que se baseia na imagem para contar a história: o cenário, as atuações, os movimentos de câmera não apenas informam o espectador como também trazem uma carga de medo e drama.
A primeira cena mostra uma família em um supermercado velho, em uma cidade abandonada: nada na rua além de carros, entulhos e silêncio. Ninguém fala: apenas linguagem de sinais e cuidado ao se mover. Cabe ao espectador interpretar os indícios que o filme oferece.
Manchetes de jornais, recortes de matérias e imagens da TV indicam que o planeta foi invadido por monstros que caçam através do som, seres de força bruta e apetite implacável.
Acompanhamos a família Abbott: o casal Lee (John Krasinski, que também é o diretor) e Evelyn (Emily Blunt) e os filhos Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e Beau (Cade Woodward). Eles sobrevivem seguindo uma rotina rigorosa, buscando alimentos e medicamentos.
Há uma tragédia nessa família que repercute de forma fundamental ao longo do enredo. É o ponto central no roteiro, um evento essencial para entender os dramas que movem os personagens, suas ações e silêncios.
Esses monstros parecem alegorias sobre pesadelos que se tornam realidade, criaturas que indicam a existência pulsante do luto e dos traumas. O ator John Krasinski, que é mais ligado à comédia (em especial a série "The office"), surpreende não apenas nesse papel dramático como também na segunda vez que assina a direção.
"Um lugar silencioso" se insere na fascinante safra recente de filmes de terror que são não apenas criativos e instigantes como também se abrem para alegorias e interpretações emotivas.
Longas como "O babadook" (2014), "A bruxa" (2015), "Ao cair da noite" (2017) e "Corra!" (2017) pertencem ao gênero terror, mas vão além: comentam a sociedade, as relações entre as pessoas, os valores em crise. O filme de Krasinski examina, através de monstros violentos e futuro apocalíptico, a raiz de dramas familiares com elevada potência emocional.
Som
Do ponto de vista técnico, "Um lugar silencioso" é impressionante. A fotografia, a direção de arte e especialmente a montagem aumentam a intensidade do terror, mas é o som que faz o filme ser realmente especial.
A ausência de diálogo transforma os pequenos sons - ruídos, passos, respiração - em indicadores de tensão. A edição e a mixagem de som conseguem fazer a narrativa avançar de forma intuitiva e impactante ao manipular os diferentes barulhos e ao tornar o som uma ferramenta essencial na história.
Cotação: ótimo